segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

NOSSAS RIQUEZAS, NOSSOS PROBLEMAS


Escrevi os poemas abaixo em 1989, durante uma viagem a Porto Trombetas, no Pará.

PAPEL
Para se fazer
Este papel
Onde estou escrevendo
Foi preciso sacrificar
Uma árvore

MORTE
A árvore deve gemer quando cai.
Deve chorar revendo o passado
E os anos que viveu
Antes do homem chegar
Com sua preocupação
De progresso.

EM NOME DO PROGRESSO
A represa precisa ser construída
Em nome do progresso
E a natureza vai agonizar
Em nome do progresso
As luzes vão se acender
Em nome do progresso
E as árvores terão que morrer
Em nome do progresso
O sacrifício da floresta
É um trágico documento
Em nome do progresso.

MINERAÇÃO
Enormes caminhões
Estranhos guindastes
Escancaram
Imensas bocas de ferro
Para engolir a terra.
Cavam buracos
Cada vez mais fundos
Levantando a poeira
Amarela e vermelha
Da terra sangrenta

DESTINO
O estrangeiro
Não pode poluir
Sua terra.
Exige que o minério
Chegue limpo, lavado
Sem manchas.
Navios param no porto
Marinheiros descem
E as mocinhas da terra
Sobem escondido as escadas
E descem com dólares.
E os marinheiros seguem seu destino

INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
Cinco enormes porões
Com as escotilhas abertas
Como enormes úteros.
O grande dragão vermelho
Insemina os úteros
Que irão germinar
Em outras terras.

A ONÇA
Lá embaixo
No porto
Os pescadores
Oferecem peles de onça
Escondido.
É proibido matar animais.
A onça anda rondando as casas
Comendo galinhas e cachorros.
As crianças têm medo de onça
E as onças têm medo dos homens
Que destroem matas
E alagam cidades.

A GIBOIA
A estória da giboia
Que engoliu o dentista
Ainda repercute por aqui.
Ela quebra ossos
Tritura
E engole a pessoa
Inteirinha.
A terra acordou
De noite chorando.
Sonhara que o trator
Era uma imensa
Giboia.

*Fotos da internet

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