DIÁRIO DE VIAGEM À ÍNDIA, FERNANDO GUEDES I
Em 1990, organizamos um pequeno grupo com a finalidade
de visitar a Índia de forma não turística. Éramos 4 pessoas, todas interessadas
em conhecer comunidades espiritualistas. Nosso grupo era formado por Marília Paleta,
professora de Yoga, Ana Araújo, médica Antroposófica e Fernando Guedes,
filósofo e Teosofista. Eu fiquei como orientadora do grupo, já que fizera
muitas viagens àquele país.
Recentemente, revendo as anotações de viagem,
encontrei o Diário escrito por Fernando Guedes. Pedi-lhe a permissão de
publicar alguns textos, que seguem abaixo.
“Acabo de vir de um passeio pelos jardins da Fundação Krishnamurti.
Os pássaros começavam a se recolher, alguns ainda ciscando o gramado da frente.
Um esquilo desceu de uma árvore bem à minha frente. Uma paz muito grande na
hora do Ângelus.
Hoje Marília Paleta e Maria Helena foram visitar
alguns templos fora da cidade pela manhã. Lembro-me de quando perguntaram a
Krishnamurti, durante uma palestra na Índia, se ele era contra ou a favor da
presença dos “intocáveis” nos templos hinduístas. Sua resposta foi : “Não
deveria haver templos!”. Às vezes me parece que, no fundo, os gurus e
Krishnamurti falam sobre a mesma coisa. Só que os gurus lançam mão de uma
linguagem mítica e tradicional; e Krishnamurti, de uma linguagem psicológica e
factual, mais de acordo com as necessidades do mundo atual.
Tenho
estado em permanente contato com Krishnamurti, através de livros, vídeos e
conversas. Mas às vezes me pergunto se suas abordagens não perdem um pouco da
beleza e da poesia do Bhakti Yoga (o Yoga da devoção). Senti muita beleza nos
cânticos em Ganeshpuri e em toda a ambiência por lá. Para muitas pessoas isto é
muito importante e, para mim, também o foi, ainda que não me considere um devoto.
Bom, o próprio Krishnamurti nos convidou a questioná-lo e não segui-lo cegamente.
É o que estou fazendo neste momento...” (Sobre a Fundação Krishnamurti)
“Voltamos ontem às 22 horas da apresentação “Dance
Drama”, Panchali Sapatham, no
Kalakshetra. Foi apresentado em 5 atos, mais de duas horas de espetáculo, e
conta a história do Mahabharata. É um misto de teatro, pantomima e dança. É
dançado com todo o corpo. O que nos chama a atenção são os movimentos da
cabeça, dos olhos e, principalmente das mãos, os mudras, que têm um significado
para cada movimento de expressão.
A escola foi fundada por Rukmini Devi, falecida em
1986, casada com George Arundale, um dos líderes da Sociedade Teosófica.
Pode-se dizer que a SociedadeTeosófica produziu dois grandes presentes para o
mundo: Krishnamurti e o Kalakshetra.” (Sobre a Escola de Dança Kalakshetra)
“Hoje cedo, finalmente, estivemos em Auroville. É um
projeto internacional em andamento. Não chega a ser uma cidade . Parece que a
preocupação é não fazer uma cidade como as demais. As casas estão espalhadas
numa imensa área. Morar aqui envolve um total envolvimento com a ideia do
projeto. Caso contrário, a pessoa não encontra a necessária motivação. Mas para
quem fica é uma bênção. O ponto alto do projeto é o Matrimandir em construção.
É o
centro, o ponto focal e de irradiação de luz para toda
a comunidade. Tirei muitas fotos do Matrimandir e de sua vizinhança para
ilustrar a nossa visita. Auroville é uma experiência de vida comunitária para o
próximo século, para a humanidade futura. A vida espiritual é o centro de todas
as atividades. É o que o Matrimandir simboliza.” (Sobre Auroville)
*Fotos da internet
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