Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
sábado, 26 de dezembro de 2020
A ÁRVORE DA VIDA
Eu não sou poeta
Mas gosto de poesia
Porque traz para
Mim uma
Síntese
Da vida.
De alguém que
Passou pela Terra
E deixou marcas
No chão e no
Espaço.
Sou artista visual
Gosto de ver a
Palavra
Flutuando
No espaço
Como os pássaros
Voam e riscam
Desenhos nos
Céus.
Gosto de ver o
Céu por entre
As folhagens.
Me falaram
Que olhar o
Céu pela greta
Das árvores
É uma forma de
Meditação.
Agora transformo
A visão feérica
Deste abacateiro
Plantado pelo Luiz
Em meditação.
E vou contando
As folhas, como
Os artistas fazem
Figura e fundo
Cheios e vazios.
Gesto e linha.
Olho mais uma
Vez
Para a árvore
Em frente
E vejo entre cheios
E vazios
Linhas e sombras
A história da
Minha vida.
*FOTO DE MARIA HELENA ANDRÉS
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sábado, 19 de dezembro de 2020
PRÊMIOS E VIAGENS
Já que falamos em viagens e prêmios, me lembrei de um fato acontecido nos anos 1950, quando eu enviava meus quadros para o Salão de Arte Moderna no Rio de Janeiro.
Queria
testar o que eu estava fazendo no momento, à luz dos críticos cariocas. E não é
que ganhei a Medalha de Prata no Salão e o título de Isenção de Júri, que me
colocava na posição de “Hors concours”?
Eu
estava com 3 filhos pequenos, pintava no meu barracão do
fundo de quintal e conquistava um prêmio importante no Rio!
Preparei-me
para ir ao Rio, comprei passagem de avião e já estava com as malas prontas,
quando meu pai, Euler de Salles Coelho, desceu a Rua Santa Rita Durão para conversar comigo e me avisar:
-“Helena,
tive um sonho esta noite com você, um acidente, um desastre! Não vá de avião,
troque sua passagem para o trem que é mais seguro...”
Concordei
com aquele aviso inesperado e troquei a minha viagem para o trem Vera Cruz da
Central do Brasil, que naquela época era o principal transporte terrestre para
o Rio.
Tomei
o trem, fiquei alojada numa cabine com uma senhora desconhecida e uma criança
de 6 anos. Alojei as malas ali mesmo, perto de mim.
O
trem seguiu viagem até Jeceaba quando, de repente, fui acordada com um grande
barulho e solavanco, muita poeira, as malas derrubadas por cima de mim.
A
escuridão não me permitia enxergar nada, pensei que já estava morta, quando
ouvi gritos histéricos de uma mulher e uma voz de homem dizendo:
-
“Não se assuste, estamos salvos, o trem virou, mas não chegamos a despencar no
precipício que está ali na frente. Nosso vagão capotou, mas o vagão da frente
está parado, as pessoas vão ajudar vocês a sair pela janela!”
E,
realmente, fomos retiradas do vagão capotado, pelos homens que viajavam no
vagão da frente.
Chegamos
ao Rio com grande atraso, eu estava estonteada, com dor no braço, fui esbarrar
no Pronto Socorro.
Mesmo
assim, com o braço engessado, fui receber meu prêmio.
Não
consigo me esquecer desse prêmio complicado, do medo da morte, do grito
histérico da mulher e também da solidariedade dos homens do vagão da frente.
Mas
depois, já em casa, recapitulando os fatos, cheguei à conclusão que papai
sonhou com o acidente, só que não conseguiu distinguir se era de avião ou de
trem!
*Fotos
da internet
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domingo, 13 de dezembro de 2020
CAMINHO DAS ARTES
Vou me lembrando
De tudo o que
Eu pude fazer
Nesta caminhada
De minha vida.
Escolhi o caminho
Das artes
Que não tem começo
Nem fim.
Estou seguindo o
Percurso da vida,
Sem traçar planos,
Como um rio
E não para,
Até chegar ao mar.
O caminho das artes
É uma trajetória
Muito rica,
Pela alegria
E a felicidade
Que ele
Nos traz.
*Foto de Maria Helena Andrés
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domingo, 6 de dezembro de 2020
RETORNO ÀS ORIGENS
Estou voltando
A pintar quadros
Numa volta às origens.
Meus barcos despontaram
Em cores variadas
Vermelhos, azuis, violetas.
As cores do céu se refletem
No mar.
Os veleiros
Despontam nas
Madrugadas
E poentes.
O veleiro que está
Em minha sala
Fica olhando
A paisagem
Do vale do Paraopeba.
Ele já viu muita coisa,
Já navegou
E da China,
Trazendo para o Brasil
A cultura do Oriente.
E a transcendência de muitas ideias.
*FOTOS DE IVANA ANDRÉS
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domingo, 29 de novembro de 2020
PÁSSAROS E SONHOS
Da minha janela
Eu posso ver o
Gramado em frente
Vejo pássaros cantando.
Tento me comunicar
Com eles.
Mas eles cantam
E voam.
Eu, da janela
Só posso vê-los
E senti-los como
Irmãos de uma
Só e grande energia
Criativa.
FOTOS DE IVANA ANDRÉS
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domingo, 22 de novembro de 2020
MÚSICA NA QUARENTENA
Música na quarentena
Estou de quarentena.
Da minha janela
Eu vejo o sol
Se por.
Vejo os passarinhos.
Eu vejo Alexandre
Chegar com sua
Flauta e violão.
Vejo meu neto
À distância.
Estou de máscara
Mas a música
Vai conduzindo
Imagens, cores, sons
Para um espaço
Que não está preso
À janela do meu quarto.
A música de Alexandre
É a música das esferas.
ILUSTRAÇÃO DE MARIA HELENA ANDRÉS
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sábado, 14 de novembro de 2020
CAOS CRIATIVO
Desordem na
Sala.
Estou desenhando
Como antigamente.
FOTOS DE IVANA ANDRÉS
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domingo, 8 de novembro de 2020
NO ATELIER
Estou pintando
De novo.
Volto ao meu atelier
Que agora se chama
IMHA.
Coloco cavalete, potes de tinta
Cores por toda parte.
Jornal no chão
E eu, em pé, trabalhando
Como antigamente.
*Fotos de Ivana Andrés
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segunda-feira, 2 de novembro de 2020
PANELAS NA JANELA
Elas se enfileiram
Nas prateleiras
À espera de serem
Usadas.
Panelas novas brilhando
Panelas velhas
Entortadas
Coitadas
Não param
Nas trempes do fogão.
As panelas
Tocam
Música
Na cozinha
Fazem percussão
Nas janelas.
“Tem panela na janela
Na janela tem panela”
Escutei isto na Itália
Num ensaio de trovadores.
Eles ensaiam
Depois se vestem
Como os antigos
Trovadores, para
Se apresentarem
Em Roma, na
Piazza Navona
FOTO DE IVANA ANDRÉS
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domingo, 25 de outubro de 2020
GRADES LIBERTADORAS
Desço as escadas
Segurando
As grades
Elas me ajudam
A descer.
Depois me ajudam
A subir.
Grades libertadoras
E auxiliadoras
Dos velhos que
Teimam em
Descer e subir
Escadas.
FOTOS DE ARQUIVO
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domingo, 18 de outubro de 2020
MEMÓRIAS DA QUARENTENA
TELEFONES
Há pessoas
Que teimam
Em ficar
Como era
Antigamente
Não têm celular
Nem usam
Computador
Só telefone.
Mas o telefone
Está ficando
Difícil...
As redes sociais
Invadiram o
Espaço.
*FOTOS DE ARQUIVO
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domingo, 11 de outubro de 2020
ÍNDIA E BRASIL
O artesanato é a via artística mais
diretamente ligado à alma do povo, aos seus costumes e tradições. O artesanato
indiano é riquíssimo e abrange uma dimensão bem grande dentro de uma variedade
de concepções estéticas que, muitas vezes, espontaneamente se aproximam das
nossas concepções. Vamos descobrindo coisas. Aquele elefante de palha, que
estava decorando a casa de um amigo brasileiro, nos lembra também outros bichos
de palha, tecidos pelas mãos dos chilenos e dos brasileiros de Entre Rios de
Minas, no outro lado do mundo.
Há talhas de madeira, com formas humanas
rebuscadas como os trabalhos de GTO (Geraldo Telles de Oliveira, escultor
mineiro). Há colares de prata semelhantes aos colares de Tiradentes.
Hoje, vi no Museu de Arte de Nova Delhi,
desenhos parecidos com os de minhas filhas Marília e Ivana. Uma das pinturas,
uma grande mandala, faz lembrar meus próprios quadros. Isto nos faz conscientes
de que as inspirações dos artistas se assemelham, colhemos ou captamos
vibrações semelhantes em pontos diversos do mundo.
Existe a separação criada pela distância
e a língua, mas as manifestações mais profundas da alma são semelhantes entre
os seres humanos. (Trecho do Diário de Viagem
à Índia, 1978)
*Fotos
da internet
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