Já que falamos em viagens e prêmios, me lembrei de um fato acontecido nos anos 1950, quando eu enviava meus quadros para o Salão de Arte Moderna no Rio de Janeiro.
Queria
testar o que eu estava fazendo no momento, à luz dos críticos cariocas. E não é
que ganhei a Medalha de Prata no Salão e o título de Isenção de Júri, que me
colocava na posição de “Hors concours”?
Eu
estava com 3 filhos pequenos, pintava no meu barracão do
fundo de quintal e conquistava um prêmio importante no Rio!
Preparei-me
para ir ao Rio, comprei passagem de avião e já estava com as malas prontas,
quando meu pai, Euler de Salles Coelho, desceu a Rua Santa Rita Durão para conversar comigo e me avisar:
-“Helena,
tive um sonho esta noite com você, um acidente, um desastre! Não vá de avião,
troque sua passagem para o trem que é mais seguro...”
Concordei
com aquele aviso inesperado e troquei a minha viagem para o trem Vera Cruz da
Central do Brasil, que naquela época era o principal transporte terrestre para
o Rio.
Tomei
o trem, fiquei alojada numa cabine com uma senhora desconhecida e uma criança
de 6 anos. Alojei as malas ali mesmo, perto de mim.
O
trem seguiu viagem até Jeceaba quando, de repente, fui acordada com um grande
barulho e solavanco, muita poeira, as malas derrubadas por cima de mim.
A
escuridão não me permitia enxergar nada, pensei que já estava morta, quando
ouvi gritos histéricos de uma mulher e uma voz de homem dizendo:
-
“Não se assuste, estamos salvos, o trem virou, mas não chegamos a despencar no
precipício que está ali na frente. Nosso vagão capotou, mas o vagão da frente
está parado, as pessoas vão ajudar vocês a sair pela janela!”
E,
realmente, fomos retiradas do vagão capotado, pelos homens que viajavam no
vagão da frente.
Chegamos
ao Rio com grande atraso, eu estava estonteada, com dor no braço, fui esbarrar
no Pronto Socorro.
Mesmo
assim, com o braço engessado, fui receber meu prêmio.
Não
consigo me esquecer desse prêmio complicado, do medo da morte, do grito
histérico da mulher e também da solidariedade dos homens do vagão da frente.
Mas
depois, já em casa, recapitulando os fatos, cheguei à conclusão que papai
sonhou com o acidente, só que não conseguiu distinguir se era de avião ou de
trem!
*Fotos
da internet
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