sábado, 19 de dezembro de 2020

PRÊMIOS E VIAGENS

Já que falamos em viagens e prêmios, me lembrei de um fato acontecido nos anos 1950, quando eu enviava meus quadros para o Salão de Arte Moderna no Rio de Janeiro.

Queria testar o que eu estava fazendo no momento, à luz dos críticos cariocas. E não é que ganhei a Medalha de Prata no Salão e o título de Isenção de Júri, que me colocava na posição de “Hors concours”?

Eu estava com 3 filhos pequenos, pintava no meu barracão do fundo de quintal e conquistava um prêmio importante no Rio!

Preparei-me para ir ao Rio, comprei passagem de avião e já estava com as malas prontas, quando meu pai, Euler de Salles Coelho, desceu a Rua Santa Rita Durão para  conversar comigo e me avisar:

-“Helena, tive um sonho esta noite com você, um acidente, um desastre! Não vá de avião, troque sua passagem para o trem que é mais seguro...”

Concordei com aquele aviso inesperado e troquei a minha viagem para o trem Vera Cruz da Central do Brasil, que naquela época era o principal transporte terrestre para o Rio.

Tomei o trem, fiquei alojada numa cabine com uma senhora desconhecida e uma criança de 6 anos. Alojei as malas ali mesmo, perto de mim.

O trem seguiu viagem até Jeceaba quando, de repente, fui acordada com um grande barulho e solavanco, muita poeira, as malas derrubadas por cima de mim.

A escuridão não me permitia enxergar nada, pensei que já estava morta, quando ouvi gritos histéricos de uma mulher e uma voz de homem dizendo:

- “Não se assuste, estamos salvos, o trem virou, mas não chegamos a despencar no precipício que está ali na frente. Nosso vagão capotou, mas o vagão da frente está parado, as pessoas vão ajudar vocês a sair pela janela!”

E, realmente, fomos retiradas do vagão capotado, pelos homens que viajavam no vagão da frente.

Chegamos ao Rio com grande atraso, eu estava estonteada, com dor no braço, fui esbarrar no Pronto Socorro.

Mesmo assim, com o braço engessado, fui receber meu prêmio.

Não consigo me esquecer desse prêmio complicado, do medo da morte, do grito histérico da mulher e também da solidariedade dos homens do vagão da frente.

Mas depois, já em casa, recapitulando os fatos, cheguei à conclusão que papai sonhou com o acidente, só que não conseguiu distinguir se era de avião ou de trem!

*Fotos da internet

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