Por volta de 1952 passei uma temporada na fazenda, em quarentena,
motivada por uma doença de seu tio avô Roberto.
Toda a família Andrés se deslocou para minha casa em Belo Horizonte,
onde ele estava hospedado. Fui aconselhada a me afastar com as crianças, meus
três filhos maiores Marília, Mauricio e Ivana. Permaneci na roça por muitos
meses, em companhia de seu bisavô Artur, que era uma pessoa muito educada.
As crianças aproveitaram todas as alegrias da fazenda, exatamente como
as suas filhas estão aproveitando hoje. E eu aproveitei também para desenhar
paisagens, aquarelas e realizei a série de "boizinhos".
Seu bisavô Artur me presenteou com um banquinho que me possibilitava
fazer minhas aquarelas nas caminhadas pelos morros. Todas as cenas da vida
rural, a casa da fazenda, os boizinhos, os carros de bois, os cavalos no
curral, os trabalhadores, os sacos de milho, o feijão espalhado no chão, as
crianças brincando no quintal eram motivações para meus desenhos e pinturas. Tive
a oportunidade de assistir, naquela ocasião, a um casamento na roça, que o
noivo chegava a cavalo. A casa da noiva foi preparada com guirlandas de flores
no portão e longas mesas, onde serviam doce de leite, arroz doce e pé de
moleque. Galos e galinhas circulavam
entre os convidados que dançavam ao som da sanfona e da gaita. Esse cenário se
transformou num quadro intitulado Casamento
na Roça que circulou pelos salões de arte de Belo Horizonte.
Quando íamos para a cidade ficávamos no casarão em frente à Igreja. Da
minha janela eu desenhava cenas de rua, uma mudança com os móveis amarrados no
cavalo, as mulheres conversando em frente à Igreja, as procissões, o sino da
Igreja tocando. Dentro de casa eu desenhava a sala de jantar com os móveis
antigos, um relógio em frente ao portão, o fogão de lenha e as cozinheiras
fazendo doce de leite e goiabada no tacho.
Todas essas cenas foram produzidas durante aquele isolamento, forçado
por circunstâncias da vida. Aprendi a superar as dificuldades com a ajuda da
arte. Descobri, desde aquela época, a poética do cotidiano.
Hoje, os desenhos de linha contínua, iniciados naquela época, estão se
transformando em esculturas gigantes instaladas no jardim de esculturas, no
Retiro das Pedras.
Adorei saber que as minhas bisnetas estão curtindo a fazenda como os
meus filhos e os meus netos curtiram.
da avó Helena
*Fotos de arquivo
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA
PÁGINA
Que crônica bonita, d. Helena!
ResponderExcluir