domingo, 2 de agosto de 2020

COM SEMENTE, COM SABOR

Recebi de Euler Andrés o texto que transcrevo abaixo:

 

“Hoje, vendo esta foto de quando eu era criança, me lembrei de um pé “franco” de laranja campista que havia aí ao fundo, no jardim da fazenda. Pé franco é como chamamos as árvores que não são enxerto. São provenientes de sementes. Embora comecem a produzir bem mais velhas, elas persistem por muito mais tempo, com frutas mais saborosas e sempre cheias de sementes.

Com o tempo, a quantidade de sementes foi decaindo e junto diminuiu o sabor das laranjas. Naquela época era comum a laranja cravo, que tinha o interior bem avermelhado e um sabor maravilhoso entre a tangerina e a laranja. Tinha tanta semente que a gente chupava e brincava de metralhadora. Nunca mais vi esta variedade.

 

Meu pai era um grande apreciador de laranjas e plantou 2 hectares com todos os tipos que existiam na época. A última novidade era a laranja pera-natal, variedade que produzia no verão. Me lembro da laranja seleta, enorme e com casca grossa, ótima para fazer doce. A laranja da terra, com sumo que anestesiava a boca como o jambu. Lima de bico, que tinha este nome por causa do formato, lembrando um bico de mamadeira. O limão doce tinha o interior da cor de limão, com sabor suave e perfumado. A laranja bahia com seu umbiguinho de fora e a serra d'água, dulcíssima, talvez sejam as poucas que encontramos atualmente depois do domínio da laranja pera.

 

A rainha do sabor era a laranja campista, que ainda possuía uma casca semi grossa, muito boa para aprender a descascar. Descascar laranja era uma arte muito apreciada na época. Quando consegui fazer aquela serpentina completa, do talo a ponta sem romper e sem ferir a laranja, meu pai me deu um prêmio: meu primeiro canivete. Foi um rito de passagem. Lembro de tudo isso com o aroma da laranja campista no olfato. E muitas sementes na boca.” (Euler Andrés)

 

*Fotos de arquivo

 

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