segunda-feira, 18 de março de 2013


ARTE E EDUCAÇÃO NA MINHA VIDA I



Meu interesse por arte na educação nasceu na infância, quando brincava de roda ou soltava papagaios nas ruas de Belo Horizonte. Naquela época, como não havia televisão, considerada hoje em dia como babá eletrônica, as crianças usavam sua própria criatividade para fabricar brinquedos em casa. Meu irmão fazia rádios de pedra galena, ficava horas distraído ouvindo músicas. Aprendemos a fazer caleidoscópio com cacos de vidro colorido e balões para festas de São João.
Com um mês de antecedência preparávamos o carnaval para desfilar no corso em blocos, ensaiados previamente. Sabíamos de cor todas as músicas. Brincávamos de teatro e de circo, armando uma tenda no fundo do quintal. Ali nós nos apresentávamos como equilibristas e mágicos. Participávamos também de saraus familiares e recitávamos versos nas festas de aniversários, criticando os membros da família.
A preparação desses eventos exigia criatividade e despertava o lúdico em cada um de nós. Foi numa dessas festas que revelei, aos olhos da família, minha inclinação para o desenho. Com a sala repleta de parentes, fui desenhando num papel colocado na parede a caricatura de cada um deles.

*Fotos da internet

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sábado, 23 de fevereiro de 2013


CARTA DE WILSON FIGUEIREDO PARA O BISNETO MIGUEL


Recebi a autorização de meu cunhado Wilson Figueiredo para postar no meu blog esta carta dirigida a seu bisneto, que poderá servir para todas as crianças que estão chegando a este planeta.

“Palavras ao futuro

Querido bisneto Miguel:

Convidado a saudá-lo, quando mal acaba de chegar ao convívio daqueles que irá conhecendo à medida que se intrometerem na sua vida, não encontro pretexto para me esquivar a uma responsabilidade para a qual não estou preparado. Não tenha pressa em ser adulto. Os bisnetos que chegaram antes não sofreram o castigo que lhe reservaram nesta oportunidade. Discursos não ajudam a digestão.

Eu me sinto muito honrado, mas serei rápido para não indispô-lo com a parentela que não tira os olhos da farta mesa de doces. Serei pouco conciso, mas aproveitarei para não perder a oportunidade de dizer o que posso repassar a quem acaba de chegar ao clube da família. 

A oportunidade é esta, e não se repetirá. Também não quero acordá-lo, se já tiver adormecido, ou adormecê-lo com conversa fiada, se ainda estiver acordado. Porque, nesta idade, dormir e acordar são os recursos para continuar a vida.

Meu caro Miguel: um dia, em que espero estar vivo quando ocorrer, conversaremos,  de homem para homem e, muito antes que tal ocorra, também conversaremos como bisavô e neto. Cada um na sua. Não faltarão trivialidades para abordarmos. Não espere de mim bons conselhos, mas também não mais do que minha conivência com suas peraltices.

 Farei o que estiver ao meu alcance para garantir a liberdade de ser como entender. Que é a primeira liberdade do homem quando ainda criança.
 
Até lá, meu caro, darei o melhor que estiver ao meu alcance para fazer de você um homem independente, no bom sentido. Ou seja, que não leva desaforo para casa.

Isto é, seja – quando chegar a hora, e não antes - um homem capaz de pensar e emitir opiniões, divergir sem ofender o interlocutor, escutar com paciência, votar sem se iludir, divergir sem agredir,  e jamais se candidatar a cargos eletivos. E nunca acreditar que possa haver melhores condições do que as providenciadas pela democracia.

Goste de gente e de bichos, sem excluir os do mato, mas, nesse caso, sem tê-los em casa. E saiba as diferenças entre uns e outros. Quais sejam, homens e animais.

De minha parte, exceto modesta rebeldia, pouco tenho a oferecer como exemplo, mas prometo fazer o possível para que você mantenha a cabeça erguida e leve adiante a ascendência pelo meu lado inconformado. Que, na parte relativa aos Figueiredo, não registra casos graves de desobediência civil  (ou, para ser completo, militar também).

Falo como bisavô, mas fui bisneto, embora apenas em tese, pois nem conheci meus avós, de um lado e de outro. Quanto mais bisavós. Um luxo naquele tempo em que os avós partiam antes de chegarmos. Ou logo depois. Bisavós eram entes sobrenaturais.

Meu único bom propósito, que não terá efeito direto sobre você, é minha intenção de fazer o possível para você não ter pressa em crescer, nem ser moderado em obedecer: ao pai e à mãe, dê a sua contribuição ao equilíbrio entre eles e nas relações familiares. E sorria sempre.

Mas, esteja certo de  que de crianças não se pode exigir, nem mesmo esperar, que se comportem como adultos, antes da hora em que a infância deixa de ser soberana.

Não tentarei estragar suas notas de comportamento em família, mas – enquanto eu viver – pode contar comigo, seja para obedecer ou para desobedecer, que também é um direito da criança.

No mais, boa sorte e até a próxima.

Bisavô Wilson
Acácias 193 – Gávea-RJ”