sábado, 2 de outubro de 2010

AS PRIMAS


Quando vejo minhas primas do Rio de Janeiro se reunindo todos os meses num restaurante em Copacabana, simplesmente para estarem juntas, compartilharem de uma afetividade familiar, fico pensando de onde surgiu esta idéia.

Há anos que elas se reúnem todas as primeiras segundas feiras de cada mês, almoçam e compartilham de uma energia coletiva que estreita cada vez mais as relações familiares. Estar junto sem os objetivos sociais de casamento, aniversário, enterro, formaturas, sair de casa para rever as personagens de uma longa história que começou na infância, tudo isso me parece uma idéia que deu certo, uma idéia genial. Parabéns por essa iniciativa.

Aqui de Belo Horizonte não posso compartilhar da companhia das primas. A distância cria empecilhos. Assim mesmo, há alguns anos atrás, tomei um avião para estar junto com esse grupo familiar.

Daqui do alto das montanhas fico pensando: de onde veio esta idéia? De que ramo da família?

Os nossos antepassados também tinham o hábito de se reunirem.  Havia sempre uma pessoa para encabeçar a turma, um pólo central das reuniões.

No tempo de minha avó, as pessoas se reuniam em torno dela. Vovó tinha uma sabedoria para não sofrer a solidão. Chamava os filhos e parentes para jogar baralho, de forma esportiva. Eu era adolescente, gostava de desenhar figuras. Desenhei o perfil da minha avó enquanto ela jogava e, com este perfil, decidiram que eu deveria estudar artes no Rio,sob a orientação de Chambelland.

As reuniões familiares de antigamente eram criativas, tia Mucíola liderava a turma de crianças com teatros, artes plásticas e preparava a turminha de primos para sair no carnaval. Sempre estávamos juntos de maneira divertida, recitando versos, fazendo paródias musicais para os mais velhos.

Aquelas reuniões costumavam até “dar casamento”. Numa delas a tia Maria Sílvia conquistou meu tio Dion quando cantou ao violão com muita graça uma canção sertaneja.

Aquela cena ficou como uma lembrança da minha adolescência. Hoje a tia Maria Sílvia é uma referência na família. Muitas vezes ela vem participar da festa das primas.

Estendendo um pouco mais para outro ramo da família, me lembro da casa do tio avô Joaquim, onde haviam reuniões de intelectuais, muitas vezes com a presença de Tristão de Atayde. Quando, em 1953, eu fiz minha primeira exposição no Rio de Janeiro, Maria Letícia, filha de tio Joaquim deu um jantar para me apresentar aos intelectuais e críticos do Rio. Ali estavam Antônio Bento e Flávio de Aquino, entre outros.

Na minha infância eu me lembro de outro tio avô, também intelectual e político. Efigênio de Salles, então governador do Amazonas, que chamávamos carinhosamente de tio Ziro, nos apresentava pessoas importantes como Santos Dumont. Eu era muito pequena, mas fiquei honrada de conhecer o pai da aviação.

Vou recuando no tempo, lembrando devagar dos acontecimentos mais antigos da minha infância e sempre uma energia muito boa me chega, vinda dessas reuniões familiares.

Estar junto é importante, vivenciar acontecimentos, participar do mesmo almoço, tudo isto é uma prova de amor que não deve ser esquecida.  


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