quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

NATAL, ONTEM E HOJE

Natal década de 40

 “Mamãe gostava de festejar o Natal com um presépio feito em casa, musgo colhido nos morros de BH e um gramado plantado por ela com antecedência em formas de alumínio ou latas de goiabada. No dia do Natal o capim já estava verdinho, para homenagear Jesus. Numa dessas celebrações natalinas, meu irmão Luiz quebrou a cabeça de São José e não contou nada para ninguém. Ficou caladinho. À noite, quando todos dormiam, ele acordou chorando: “estou vendo uma estrela voando, será que foi porque quebrei a cabeça de São José?
A estrela era um simples vagalume, mas o autor do mal feito apareceu...” (depoimento de Maria Regina)

Natal 2010, Praça da Liberdade

A praça é o encontro do povo da cidade e as luzes vindas da China, dão uma visão feérica, como os contos orientais das mil e uma noites.
Agora vejo brilhar 1001 luzes e vou refletindo sobre as diferenças e contrastes do que foi o Natal no passado e o que é o Natal no presente. Relembro os presépios feitos em casa e o estímulo que meus pais nos davam para realizar com as próprias mãos uma pequena homenagem à Jesus de Nazaré. Lourdes relembrou o pequeno presépio de papel, armado com figuras do jornalzinho Tico-tico que líamos todas as semanas. Além desse presépio  pequenino, escondido em seu quarto, num cantinho da estante, havia outro, também feito em casa, com musgos e cartolina recoberta de malacaché. O principal era homenagear o nascimento de Jesus. A principal figura era o menino Jesus, hoje ela se transformou em Papai Noel. Ninguém lembra mais do menino Deus, nascido numa gruta em Belém, nem da luz que ele trouxe para o mundo. O velho Papai Noel, importado da Europa ocupou o lugar do menino Jesus no coração das crianças. Papai Noel, por alguns chamado de São Nicolau, é uma figura lendária que surgiu na Europa, nas montanhas geladas da Rússia. Era um velhinho pobre, que distribuía presentes para crianças pobres no dia de Natal. Hoje o Papai Noel incentiva o consumo, a compra de presentes nos “Shopping Centers” de todas as cidades do mundo. Chega vestido de vermelho, gorro vermelho e botas, lembrando, em meio ao calor dos trópicos, o frio e o gelo da Europa e dos EUA. O Luciano Luppi, que já se vestiu de Papai Noel várias vezes, me contou que a roupa vermelha foi introduzida pela Coca Cola...

O menino Jesus está ficando esquecido e a celebração natalina cada vez mais se torna uma festa pagã, com vinhos, castanhas, nozes, acompanhadas de bandejas de peru, lombo de porco e leitão.
A troca de presentes chega a ser cansativa, quase obrigatória.

Mas existem pessoas que ainda fazem presépios.
Um dos presépios mais bonitos e que ainda existe, fazendo a ponte entre o passado e o presente é, sem dúvida,  o Presépio do Pipiripau, hoje colocado no Museu de História Natural de BH. Durante toda a sua vida, Raimundo Machado, funcionário da Imprensa Oficial, construiu este presépio que é um verdadeiro cenário, com as principais passagens da vida de Cristo. Este presépio, que foi a alegria das crianças do meu tempo, continua trazendo a história de Jesus, feita com bonecos movimentados, pastores, reis magos, templos, cidades, vaquinhas e carneirinhos, riachos e fontes, tudo em movimento, num grande espetáculo de luzes e cores.

*Fotos: Adriana Moura e Maria Helena Andrés





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