Recentemente fui procurada por uma jornalista do jornal “Hoje em Dia”, que tem correspondência em Brasília, para dar um depoimento sobre Athos Bulcão e o movimento concretista brasileiro iniciado em São Paulo em 1951. Este movimento teve repercussão nacional e internacional, congregando artistas que buscavam os mesmos ideais de disciplina e construção. Para mim ele foi um encontro do que eu já vinha buscando, o despojamento do supérfluo e a busca da essência da forma. Aprendi com Guignard a usar a “linha contínua” para croquis rápidos ainda como artista figurativa. Esses exercícios possibilitaram uma série de desenhos que hoje estão sendo revisitados nas esculturas que, a partir do ano 2000, foram tridimensionadas no computador por minha neta Elena Andrés Valle.
Quando estive em Brasília há pouco tempo atrás, visitei a exposição “Arte para crianças” no CCBB. Lá estava Athos Bulcão, revisitado em seus azulejos de forma interativa. As pessoas podiam modificar a composição, mudando a disposição dos azulejos.
Seguem trechos da entrevista, publicada em 24/04/2011 no caderno “Mosaico”:
“Pioneira do Concretismo em Minas Gerais , a artista plástica Maria Helena Andrés observa na 1ª. Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, que a mostra causa grande impacto em Athos Bulcão. Contemporânea do artista, Maria Helena Andrés não chegou a conhecê-lo e recorda-se dele apenas ao telefone.
Naquela ocasião, os principais artistas brasileiros eram todos figurativos: Di Cavalcanti, Portinari e Guignard.
“Eu participei na primeira Bienal com dois quadros, ainda como artista figurativa”.
Durante a efervescência do Concretismo, Minas Gerais ofereceu escultores como Franz Weissmann (1911-2005), Amílcar de Castro (1920- 2002), Mary Vieira e Lygia Clark (1920- 1988). Na pintura, Mário Silésio (1913- 1990), Marilia Gianetti (1925 – 2010) e Nelly Frade (1913- 1988), entre outras, incluindo a própria Maria Helena, como testemunha viva e participante da época.
“Íamos juntos para São Paulo para participar das exposições. O concretismo brasileiro começou lá. Foi uma época muito importante, que teve grande repercussão nacional. Foi um movimento que chegou até a poesia e as artes gráficas. Nós éramos jovens, fazíamos a arte com muita disciplina, pureza e precisão e íamos para São Paulo para assistir palestras de Mário Pedrosa e Ferreira Gullar, um dos poetas fundadores do neoconcretismo.”
Sobre o concretismo, segue um trecho do meu livro “Vivência e Arte”, publicado pela Agir em 1966:
“A pintura concreta libertou-se da tradição, procurando um caminho diferente e completamente novo. Um quadro concreto não poderia ser julgado dentro do mesmo critério de um outro abstrato ou figurativo. Ele visava transformar uma idéia (não um tema ou sujeito) em forma concreta. Nesta realização, deveria esgotar todos os seus recursos. Não se admite um quadro ou uma escultura concreta sem essa clareza de expressão e executado dentro de uma técnica confusa e complicada. Para isto servia-se, às vezes, de materiais novos que permitiam maior pureza e simplicidade na realização.
Os concretistas desejavam uma expressão exata e não apenas sugerida de sua idéia.
A arte abstrata poderia sugerir, a arte concreta teria de afirmar, para ser verdadeira.
O emprego de formas geométricas simples, de cores exatas e de composições equilibradas dentro de leis matemáticas veio alertar o artista e despertar-lhe a consciência da técnica, tão desprezada pelos primeiros modernistas.
Este foi um dos aspectos mais fortemente positivos dessa fase, que beneficiou, com essas noções, não só seus adeptos, mas seus adversários.
Se o concretismo procurou criar uma pintura objetiva, anti-sentimental, visando somente a uma ordem estética, o abstracionismo voltou à contemplação interior e deu largas à intuição.”
Na minha experiência concretista eu sempre ouvia música e meus quadros serviram de partitura musical para a apresentação dos músicos Artur, Regina e Alexandre na exposição “Linha e Gesto”.
*Fotos de Maurício Andrés e Renato Cobucci
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