segunda-feira, 4 de abril de 2011

SUAVE ENVELHECER

O jornal Estado de Minas publicou no domingo, 27 de março de 2011, na coluna Bem Viver, reportagem de autoria de Déa Januzzi, sobre três senhoras: eu, Maria Helena Andrés, 88 anos, Laura Andrés Caram, 91 anos e Carolina Maranhão, 98 anos, chamando-nos de “sábias senhoras”. Minha filha Ivana, que me auxilia na postagem dos meus blogs, selecionou alguns trechos:

“Como anunciou o teólogo Leonardo Boff, quando completou 70 anos, em seu artigo Oficialmente velho : “A velhice é a última chance que a vida nos oferece para acabar de crescer, madurar e finalmente terminar de nascer. Nesse contexto é iluminadora a palavra de São Paulo. À medida que definha o homem exterior, nesta mesma medida rejuvenesce o homem interior. O que é o homem interior? É o nosso eu profundo, o nosso modo singular de ser e agir, a nossa marca registrada, a nossa identidade mais radical. Esta identidade devemos encará-la”.

“Pessoas como Carolina, Laura e Maria Helena provam que a espiritualidade dá sentido à vida, principalmente na idade avançada. Uma espiritualidade exercida a cada amanhecer, quando os olhos se abrem e elas percebem que estão vivas e que tudo vale a pena.” As três participaram das reuniões da “Ação Católica” na época de juventude e hoje Carolina e Laura resgataram o mesmo grupo de antes, que passou a se chamar “Grupo se Estudos da Renovação Cristã.”

“Carolina Maranhão é assim: aos 90, resolveu fazer informática, porque não queria ficar desatualizada, não suportava mais ser uma analfabeta digital. Entrou para as aulas de computação do Sesc, arrancando admiração e respeito de todos. Como sempre fez, aprendeu rápido e seu apostolado hoje, nas reuniões do grupo, é digitar, imprimir e distribuir textos bonitos. O segredo dela para chegar á longevidade é “comer pouco e trabalhar muito”. Por isso prefere legumes, verduras e frutas. Aboliu carnes, frituras e proteínas de sua alimentação. Como Cora Coralina, Carolina também acredita: “Renova tua vida sempre, sempre. Remova pedras, plante roseiras e faça doces. Recomece.”

“Para Laura Andrés Caram, a espiritualidade está na própria estrutura do ser humano. “Podemos aperfeiçoá-la ou não. A pessoa não pode viver só de pão. Precisa de beleza também. Às vezes a velhice é um peso, porque a gente vai perdendo força, mobilidade e audição, mas tudo isso não me impede de estar sempre atualizada, de ter amigos e confiança nos meus valores. A vida da gente não é mais igual à do jovem, mas a velhice chega para todo mundo.” Indagada sobre seu santo de devoção, ela diz que não tem nenhum. “Prefiro os santos atuais. Minha mãe, por exemplo, foi uma santa, ajudava todo mundo.”

“Desde o horizonte escancarado na janela da casa da artista plástica Maria Helena Andrés, no Retiro das Pedras, até o momento em que ela espalha as cores pelas telas para pintar mais um quadro, exerce a espiritualidade: “Este é o meu jeito de meditar. É o meu deus interior”, garante ela, que é vegetariana, morou na Índia, tem um blog, uma espécie de diário de suas viagens externas e internas. Para quem se define como holístico, não há lugar melhor do que o Retiro das Pedras para promover qualidade de vida e acender  a luz interna. Numa casa simples, mas acolhedora, ela tem o horizonte de montanhas se descortinando de sua janela. É ali que Maria Helena Andrés escreve seus muitos livros de artes e vivências. Na arte, foi mestre: professora e diretora da Escola Guignard, sua produção é imbatível. Com os budistas, Maria Helena aprendeu que a vida é impermanência. Seu deus interno é a energia que a faz levantar todos os dias com disposição para pintar os quadros, escrever livros e abastecer o blog. Ela também acredita na sincronicidade da vida. “É preciso perceber e aceitar as mudanças que você não programou, mas que o divino colocou em seu caminho.”

*Fotos de Euler Júnior e Gladyston Rodrigues (EM)

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