As próximas postagens serão em homenagem ao meu marido Luiz Andrés, que completaria 90 anos no dia 3 de maio.
Conheci o Luiz na época da II Grande Guerra. Foi na década de 40, quando a situação na Europa repercutia em todo o mundo e chegava ao Brasil, com a convocação dos reservistas para atuarem na Itália.
Eu já namorava o Luiz quando ele foi convocado e aquela convocação derrubou os planos do nosso casamento. Até hoje me lembro do telegrama e do impacto sobre nosso romance: “Participo foste convocado, devendo comparecer São João Del Rey dia 8 de dezembro”. Aquele telegrama foi um tiro sobre nossos projetos de vida.
Fomos levá-lo na estação da Estrada de Ferro, de onde saiam todas as pessoas que viajavam na época. Foi uma choradeira daquelas. Aquilo era uma notícia muito importante e muito triste ao mesmo tempo. As amigas foram todas ao embarque e em coro cantaram “Adeus amor eu vou partir, ouço ao longe o clarim...” Aquele clarim ficou ressoando nos meus ouvidos por muito tempo. Despedida de convocado era acompanhada de música e também de muitas lágrimas.
Ficar sozinha no Brasil e imaginar a pessoa amada morrendo na guerra foi um episódio dramático para o nosso relacionamento. Comunicávamos por cartas, na época não havia emails ou skypes. Até hoje guardo as cartas que ele me escreveu do quartel onde se preparava para defender o Brasil. Mas Deus nos ajudou. Luiz pedira licença para seguir como médico, mas não foi necessário. Em agosto, com o término da guerra, os reservistas brasileiros voltaram para suas famílias.
O fim da guerra trouxe os soldados de volta. Ficamos noivos e pudemos dançar a valsa de formatura em 1945.
Nosso noivado foi um aprendizado de vida. Todas as semanas íamos para a fazenda, onde eu podia ter maior contato com a natureza e fazer meus desenhos e pinturas da vida rural de Minas.
Luiz sempre foi o maior fã da minha arte. Quando me conheceu eu já era artista, participava de Salões e freqüentava a Escola Guignard. Ele me dava livros de Jacques Maritain e juntos líamos “As grandes amizades” de Raíssa Maritain e os poemas de Fernando Pessoa, Paul Claudel e Rainer Maria Rilke.
Preparando o enxoval, como qualquer noiva da época, eu me preparava também para ser esposa e artista.
As irmãs do Luiz eram minhas amigas, liam também os filósofos católicos, participavam de encontros da Ação Católica e ao mesmo tempo me ajudavam na vida simples da fazenda que eu não conhecia, mas que começava a se desvendar para mim com todo o encanto do encontro com a terra. Na fazenda, eu convivia com D. Malisa, pessoa santa, de uma religiosidade própria e de uma paciência e alegria sem limites.
Guardo também uma lembrança muito acolhedora do Sr Artur, meu sogro, o oposto da esposa, diplomático e formal.
Nosso casamento foi pela manhã na Igreja de Santana, na Serra, e para essa cerimônia compareceram amigos e familiares.
Meus tios Ênio e Juju vieram do Rio para a festa, fazendo sucesso na cidade com um Cadilac rabo de peixe. Naquele mesmo dia seguimos para nossa viagem de lua de mel. Eu já estava com as malas prontas, quando notei que o Luiz levava outra mala suplementar, pesadíssima. Perguntei o que ele carregava de tão pesado.
_ “São livros para estudar...”
_ “Então deixa eu pegar minha malinha de tintas!”
Assim foi nossa lua de mel, entremeada com a profissão. Cada um na sua, na melhor boa paz. Assim seguiu também a nossa vida de casados, cada um respeitando e admirando o outro.
Tenho guardado até hoje um caderno de desenhos da época, registrando cenas de uma fazenda próxima a BH, onde ficamos nos primeiros dias e depois o “Largo do Boticário” e a Rua Pires de Almeida em Laranjeiras, apartamento cedido pelos tios do Rio para ficarmos durante um mês.
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