Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
sexta-feira, 24 de maio de 2013
INHOTIM NO PANORAMA INTERNACIONAL
Neste blog dedicado às viagens recebi a colaboração
do Doutor Cid Velloso, que tem realizado inúmeras viagens pelo mundo, sempre
observando museus e anotando diversos aspectos da Arte Contemporânea.
“Em janeiro passado,
fui à Ilha da Madeira e Portugal, tendo visitado alguns museus e jardins
botânicos. Insensivelmente, não pude deixar de fazer um paralelo com o INHOTIM,
por ser uma referência que conheço.
Na Ilha da Madeira,
visitei o Jardim Botânico: uma área de grande extensão, com inúmeras espécies
de árvores (inclusive muitas palmeiras), plantas, flores e folhagens, bem
classificadas, situadas em uma região montanhosa da Ilha. O nome Madeira foi aplicado
à Ilha, ao ser povoada pelos portugueses, por causa das imensas florestas que
possuía, daí a importância e o acervo do Jardim. Não pude deixar de lembrar que
o INHOTIM é mais bonito, com ajardinamento mais artístico e com mais espécies
de palmeiras.
Na estrada de Lisboa
para Óbidos, há um desvio para Carvalhal, onde existe o Jardim da Paz Buddha,
criado pelo grande produtor de vinhos José Berardo: é uma imensa área rural,
com inúmeras estátuas de Buda feitas de granito, mármore e terracota, tendo também
uma réplica de parte dos guerreiros de Xi´an (China) e uma pequena réplica das
rochas de Stonehenge (Reino Unido). No início do Jardim, está sendo montado um
setor de arte contemporânea a céu aberto, com cerca de 10 estruturas de arte de
grande porte, muitas ainda sem placas de identificação; identifiquei obras
típicas de Alexander Calder, Louise Bourgeois e Botero. A área dos Budas é bem
organizada e com muitas peças, mas torna-se monótona por abordar apenas um tema
e o setor de arte contemporânea ainda está em fase de montagem, com poucas
obras. Evidentemente, o INHOTIM tem um acervo muito maior e mais diversificado.
Em Lisboa, visitei o
Museu de Arte Contemporânea no Centro Cultural de Belém, montado pelo mesmo
empresário José Berardo. Excelente e numeroso acervo, destacando Donald Judd,
Anish Kapoor, Sol LeWitt, Robert Mangold, Manuel Ocampo, Orozco, Richard Serra,
Frank Stella, James Turrel, além de Giusepe Penone e Adriana Varejão (esses
últimos também expositores no INHOTIM). Na entrada do Museu, uma excelente
exposição especial transitória do Hélio Oiticica, muito visitada; na entrada da
exposição, um vídeo mostrava a instalação Magic
Square do Oiticica no INHOTIM.
Em maio do ano passado,
em Paris, visitei o Musée de la Sculpture
em Plein Air, na beira do rio Sena, próximo da Gare d´Austerlitz. São dezenas de esculturas de arte contemporânea
ao ar livre, de autores pouco conhecidos por mim: Liuba Kirova, Liberáki,
Michael Noble, Cardenas, Sklavos, Olivier Brice, Micha Laury, Zadkine, Patkai,
Stahly, entre outros, sendo apenas Brancusi o que identifiquei. Muito
interessante, especialmente na bela região à margem do Sena. INHOTIM tem um acervo muito maior, de melhor qualidade
e de artistas mais consagrados.
Em 2005, eu e Roseni
visitamos Storm King Art Center, situado
a 90 km. ao norte da cidade de Nova York. Montado em 1960 em uma área imensa, possui
esculturas de grande porte espalhadas ao ar livre, fazendo-se a visita em um
trenzinho. Obras de
Alexander Calder, David Smith, Mark Suvero, Henry Moore, Noguchi, Richard
Serra, Louise Nevelson, Andy Goldsworthy,
Roy Lichtenstein, Alexander Liberman, entre outros. Um
grande e excelente centro de arte, mas sem nenhuma abordagem do setor botânico;
tivemos um problema: como passamos o dia na área, procuramos um local para
tomar uma refeição, não encontrando nenhuma lanchonete ou restaurante, apesar
de ser um local de turismo regular. O acervo de arte contemporânea pode ser
comparado ao INHOTIM, mas a falta de um jardim botânico em torno e a falta de
uma estrutura turística adequada foram pontos falhos no Storm King.
Não são muitos modelos
similares ao INHOTIM visitados por mim, mas já é possível vislumbrar que nosso
centro de arte assume uma categoria internacional de qualidade, organização e
competência.” Cid Velloso)
*Fotos da internet
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quarta-feira, 8 de maio de 2013
O GRIVO, ARTEFATOS DE SOM
Chegamos a uma sala enorme, circular, com vários
cilindros de água, em tamanhos variados, cada um emitindo um som diferente. Ali
as águas choravam e gemiam, motivadas pela escassez de água que já ameaça
afligir o planeta. Escassez e enchentes, a água está rolando, provocando
tragédias. Ninguém percebe que a água é
viva e é dela que depende nossa vida no planeta. A água tem sido a grande
preocupação dos ecologistas, e naquela exposição, ela emitia seus sons, criando
música. Fiquei muito tempo ouvindo a música das águas, com os fones de ouvido.
As pessoas passavam, olhavam , iam embora, mas eu me sentia bem com aquela
música da natureza, vinda de dentro de cilindros de vidro, onde uma gota d’água
ia pingando e mudando as notas. Não sei quanto tempo ali fiquei sentada,
ouvindo aquela música vinda do gemido das águas, só sei que entrei ali muito
cansada e sai relaxada.
O grupo “Grivo” é criativo, sempre inventando uma
coisa diferente. A Arte Contemporânea permite esta diversidade e a exposição
deste grupo de Minas é um exemplo.
Fui ver as outras salas, onde um violão tocava
música sozinho e também aquela engrenagem de muitas rodinhas, todas vibrando
como o presépio de Pipiripau. Fui
conduzida às memórias de infância, aos brinquedos de criança que papai nos
trazia do Rio de Janeiro com rodinhas se movimentando. Agora, na mesma avenida
Afonso Pena, onde morávamos na infância, volto para apreciar na Oi Futuro as
invenções deste grupo de artistas. Relembro Paulo, meu irmão e suas criações
neste campo do lúdico. Acho que a minha admiração pela arte e tecnologia vem
dos meus tempos de criança e de minha admiração pelas invenções de meu irmão.
Arte e tecnologia, arte e ciência, estão sendo estimuladas agora na Arte
Contemporânea. Revivendo o passado, sentindo o presente e sonhando com o
futuro, é o que estou podendo fazer neste momento.
*Fotos de Elena Andrés Valle
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sábado, 4 de maio de 2013
REFLEXÕES SOBRE EXPOSIÇÃO NA CASA DAROS
Um casarão em Botafogo, antiga escola de
adolescentes, foi transformado no espaço cultural “Casa Daros”, recentemente
inaugurado. Visitamos uma exposição de arte contemporânea que reúne artistas da
atualidade, cada um trazendo a sua contribuição para revelar a liberdade
criativa do momento em que vivemos.
Fotografamos a sala de Yole de Freitas que sustenta
uma beleza de composição e colorido nas velas transparentes de um grande barco.
Numa sala especialmente dedicada ao Conjunto da
Maré, jovens artistas da fotografia oferecem um exemplo de como fotografar
dentro de uma latinha de leite em pó. As fotos saíram muito nítidas, todas em
preto e branco, e podem ser admiradas em pequenos quadrinhos.
Na sala em frente, uma santa toda feita de sucata,
chama a atenção do público. Ficou linda, é reverenciada por todos que aqui vêm
para apreciar esta obra de Vick Muniz. Sempre admirei a criatividade de Vick
Muniz, voltada para os problemas de nossa época. Reaproveitando a sucata que se
empilhou na reforma de uma construção, Vick criou uma Nossa Senhora das Graças,
numa reprodução feita coletivamente por aqueles que trabalharam na obra. O
resultado foi surpreendente, e ela está exposta à visitação pública nesta
pequena sala da Casa Daros. Os visitantes aqui se detêm para reverenciá-la.
Nossa Senhora das Graças, aqui revestida com manto da pobreza, do despojamento,
parece nos olhar de frente, enquanto a contemplamos. Aos poucos, vou revivendo
um trabalho realizado por mim, com a ajuda da nossa saudosa Ana Horta há 35
anos atrás, no vale do Jequitinhonha. Releio o que escrevi na época e aqui
transcrevo o texto:
Em 1978 segui com uma caravana de artistas para o
Vale do Jequitinhonha, num projeto do artista Paulo Laender. Ali, cada um teria
de se expressar dentro de sua área: música, poesia, pintura, desenho, teatro,
literatura e educação. Naquela ocasião, procurei a jovem artista Ana Horta e
juntas organizamos jogos criativos com crianças da cidade. Eram meninos pobres
da redondeza, submetidos muitas vezes a privações e catástrofes. Incentivamos
as crianças a realizarem trabalhos individuais, usando materiais da região e elas
se manifestaram com a maior espontaneidade: criaram uma imensa boneca, a qual
denominaram Mariquinha. Usaram para aquela criação coletiva gravetos, flores,
folhas e pedras da região. Mariquinha, medindo uns 5 metros de comprimento,
estava deitada no chão, com uma vassoura de folhas de palmeiras na mão. As
crianças fizeram uma roda e cantaram em torno, embalando a grande boneca com
canções de ninar.
E se as chuvas vierem? Perguntei.
“Fazemos outra Mariquinha”, responderam.
Trabalhos coletivos ajudam na harmonização do grupo
e no desapego da obra. Para aquelas crianças que assistiram suas casas
desabarem com as inundações, o momento presente era o que importava.
*Fotos de Marília Andrés e Alice Andrés.
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