sábado, 4 de maio de 2013

REFLEXÕES SOBRE EXPOSIÇÃO NA CASA DAROS


Um casarão em Botafogo, antiga escola de adolescentes, foi transformado no espaço cultural “Casa Daros”, recentemente inaugurado. Visitamos uma exposição de arte contemporânea que reúne artistas da atualidade, cada um trazendo a sua contribuição para revelar a liberdade criativa do momento em que vivemos.
Fotografamos a sala de Yole de Freitas que sustenta uma beleza de composição e colorido nas velas transparentes de um grande barco.
Numa sala especialmente dedicada ao Conjunto da Maré, jovens artistas da fotografia oferecem um exemplo de como fotografar dentro de uma latinha de leite em pó. As fotos saíram muito nítidas, todas em preto e branco, e podem ser admiradas em pequenos quadrinhos.
Na sala em frente, uma santa toda feita de sucata, chama a atenção do público. Ficou linda, é reverenciada por todos que aqui vêm para apreciar esta obra de Vick Muniz. Sempre admirei a criatividade de Vick Muniz, voltada para os problemas de nossa época. Reaproveitando a sucata que se empilhou na reforma de uma construção, Vick criou uma Nossa Senhora das Graças, numa reprodução feita coletivamente por aqueles que trabalharam na obra. O resultado foi surpreendente, e ela está exposta à visitação pública nesta pequena sala da Casa Daros. Os visitantes aqui se detêm para reverenciá-la. Nossa Senhora das Graças, aqui revestida com manto da pobreza, do despojamento, parece nos olhar de frente, enquanto a contemplamos. Aos poucos, vou revivendo um trabalho realizado por mim, com a ajuda da nossa saudosa Ana Horta há 35 anos atrás, no vale do Jequitinhonha. Releio o que escrevi na época e aqui transcrevo o texto:
Em 1978 segui com uma caravana de artistas para o Vale do Jequitinhonha, num projeto do artista Paulo Laender. Ali, cada um teria de se expressar dentro de sua área: música, poesia, pintura, desenho, teatro, literatura e educação. Naquela ocasião, procurei a jovem artista Ana Horta e juntas organizamos jogos criativos com crianças da cidade. Eram meninos pobres da redondeza, submetidos muitas vezes a privações e catástrofes. Incentivamos as crianças a realizarem trabalhos individuais, usando materiais da região e elas se manifestaram com a maior espontaneidade: criaram uma imensa boneca, a qual denominaram Mariquinha. Usaram para aquela criação coletiva gravetos, flores, folhas e pedras da região. Mariquinha, medindo uns 5 metros de comprimento, estava deitada no chão, com uma vassoura de folhas de palmeiras na mão. As crianças fizeram uma roda e cantaram em torno, embalando a grande boneca com canções de ninar.
E se as chuvas vierem? Perguntei.
“Fazemos outra Mariquinha”, responderam.
Trabalhos coletivos ajudam na harmonização do grupo e no desapego da obra. Para aquelas crianças que assistiram suas casas desabarem com as inundações, o momento presente era o que importava.

*Fotos de Marília Andrés  e Alice Andrés.

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