Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
JORNADA DE ESTUDOS INDIANOS
Com a presença do embaixador da Índia e do cônsul da
Índia em Minas, foi realizada na faculdade de Ciências Econômicas -FACE – no Campus da UFMG em BH, a I Jornada
de Estudos Indianos, uma cooperação acadêmica Brasil – Índia no século XXI, em
19, 20 e 21 de fevereiro. Assistimos a abertura do evento e, enquanto víamos o
excelente projeto do prédio a ser construído, que abrigará a área de Relações
Internacionais, recordamos toda a trajetória que já foi feita silenciosamente,
para que um dia se realizasse esta aproximação. Recordamos nossas viagens à
Índia, sem apoio oficial, movidos por uma intuição e uma necessidade inadiável de aproximar
estes dois países. Era necessário que isto acontecesse e o fizemos com muito
amor. Maurício foi o primeiro a se aventurar nesta campanha. Com uma bolsa do
CNPq, realizou um trabalho sério, que exigiu um ano de permanência em
Bangalore, sul da Índia, pesquisando as semelhanças entre aquele país e o
nosso. Seus estudos se transformaram em livros, palestras.
Hoje, vejo o seu instrutor, prof. Vinod Vyasulu, do
International Institute for informtation
Technology de Bangalore, fazendo uma apresentação comparativa Brasil – Índia. Acompanhamos sua palestra com
muita alegria, de ver concretizado o que sempre desejamos. Bangalore é um lugar
dedicado às novas tecnologias, em especial a área de informática, e já está
fazendo intercâmbio com Belo Horizonte, levando e trazendo estudantes de lá
para cá como forma de aperfeiçoar conhecimentos.
Lembro-me das viagens que fiz à Índia tendo
Bangalore como ponto de referência. Meu trabalho se realizou de forma
artística, desenhando nas ruas, anotando a vida do povo, seus costumes, sua
arte. Ali encontrei riquíssimo material de cultura e me inspirei ilustrando
livros, fazendo palestras, buscando as semelhanças e os contrastes que mostram
a vida no planeta e como as sociedades tão distantes têm características
parecidas.
Dei a minha contribuição no que me foi possível
fazer.
Parabéns a este grupo da Universidade de Minas
Gerais! Que este intercâmbio se intensifique cada vez mais!
*Fotos de Maurício Andrés
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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
PARCERIA COM UMA GRANDE AMIGA TAPECEIRA
Na década de 80 realizei juntamente com Maria Ângela
Magalhães e sua equipe de tapeceiras, mais de 100 tapeçarias a partir de
projetos de minha autoria. Foi uma experiência muito gratificante, porque me
foi possível ver o meu desenho cheio de nuances, ampliado muitas vezes de forma
monumental, num outro tipo de linguagem. Arte de equipe proporciona ao artista
a oportunidade de dividir com outras pessoas o seu trabalho. Eu ia ao Rio
freqüentemente, acompanhando com alegria a transformação de uma aquarela ou
pastel em bordados de lã. Ângela tingia, ela mesma, os rolos de lã e as
bordadeiras, residentes no outro lado da baía de Guanabara, iam e vinham com
aqueles rolos imensos, dentro da barca de Niterói.
Hoje, revendo alguns papéis guardados, descobri uma
carta de Maria Ângela, grande colaboradora, recentemente falecida, e que
transcrevo abaixo:
“Querida Helena,
Aí vai, com um abraço e meu carinho:
Em busca de novas formas de expressão, o artista que
se propõe a uma obra de equipe exerce, no mínimo, uma boa parcela de
generosidade. Ele reparte o que é só seu e aceita uma cooperação no que cria.
Esta generosidade é um traço precioso na personalidade de Maria Helena Andrés.
Ela está sempre pronta para o outro, e a sua obra estabelece, desde logo, uma
comunicação direta com o espectador.
Trabalhamos juntas por mais de dez anos em uma
centena e tanto de tapeçarias. Para mim, perceber o desenho, captar a sensibilidade
das transparências, as passagens sutis de cor, e integrar uma linguagem à
outra, foi oportunidade de aprendizado e causa de muita alegria. As bordadeiras
que teciam, misturando muitos fios e pontos complicados, o faziam com gosto e
prazer – e os eventuais compradores se encantavam com o resultado – um encontro
feliz.
Se tivesse que me reportar a algumas, falaria sem
dúvida, das da Matriz de Nossa Senhora de Copacabana. Os cartões foram feitos e doados à Igreja. E,
de repente, uma igreja, que tende mais a agradar ao gosto conservador dos seus
fiéis, sem nenhuma preocupação com os valores artísticos, o desenho solto,
alegre, criativo de Maria Helena é um testemunho da liberdade do ser humano. E,
na medida em que reflete a sua sensibilidade, atinge a todos que as vêem. Eu
mesma, que trabalhei quase um ano sobre elas, a cada vez que contemplo aquelas
tapeçarias – me comovo.
Maria Helena, semeadora de alegrias, recupera o que
vinha se perdendo pelo tempo afora e põe, como antigamente, a arte a serviço da
fé."
*Fotos de arquivo
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domingo, 2 de fevereiro de 2014
TEMPLO BUDISTA
Boudda Temple, é o nome do lugar. Uma comunidade
tibetana, com vários templos budistas. Fiz um turismo onde estava incluída a
visita a esta comunidade. O guia me explicou que eles recebem turistas
estrangeiros. Deixei o turismo, mas fiquei com a informação daquele lugar. No
dia seguinte estava desenhando no meu quarto, quando de repente me veio na
cabeça: “Vou lá”. Tomei um taxi. Era um templo enorme, o maior que já vira.
Procurei alguém que falasse inglês. Um inglês me levou até o lama dizendo que
“depois do Dalai Lama, aquele era o maior, o de maior conhecimento e
importância”.
Sentei em frente a um homem alto, vestido com uma
túnica alaranjada, com um manto cor de vinho por cima.
Como o Dalai Lama, eles têm o terceiro olho aberto e
estão entre nós para ajudar.
Neste instante ele está me explicando a natureza do
sofrimento, por que sofremos.
“O homem nasceu para ser feliz. Por que sofre?
Porque não sabe compreender as mudanças da vida. A vida é mudança contínua, a
gente é que não percebe e deseja reter as coisas, tomar posse das pessoas,
apegar-se ao passado. A vida é impermanente e devemos ver o sofrimento como ele
é – de frente, sem medo – não tomar as aparências pela realidade. Em suma, o
sofrimento não está nos acontecimentos, nem nas mudanças, nem nos objetos, está
na nossa mente.Criamos nosso próprio sofrimento. A morte é coisa natural,
ninguém deixa de morrer, sofremos porque desejamos permanência, porque nos
apegamos às pessoas.”
Fui deixando ele falar, pois tudo o que falava
estava dentro de mim, era como se pudesse ver minha alma num espelho. Se a
mente está cheia de mágoas, saudades, desejos, frustrações, lembranças, como
pode alcançar a felicidade e a paz que todo ser humano tem direito?
Ele deu-me um exercício: estar consciente, saber
onde está a minha mente. Onde está o meu sofrimento, no passado, no presente ou
no futuro? Somente olhar a mente, perceber onde ela está.
Estou observando: já vi que a minha mente voa mais
rápido que a velocidade da luz. Ela salta do Brasil para a Índia, da Índia para
o Nepal, percorre cidades, entra nas casas, conversa com as pessoas, discute,
dá satisfações, depois volta, percebe o presente: as crianças jogando bola na
rua, os passarinhos cantando, a moça de vermelho na varanda, as casas de tijolo
à vista.
Minha mente está se libertando do passado e tentando
viver o presente. Só com a mente limpa podemos ajudar os outros. Com ela
atormentada por mil idéias, lembranças, pesares, auto compaixão, nada podemos
fazer. Não vivemos, vegetamos. Se vem um pensamento negativo, é só olhá-lo de
frente. “Onde está a minha mente?” Estamos quase sempre conversando,
discutindo, sentindo e revivendo coisas imaginárias, memórias, lembranças. O
real está agora, no presente, na lâmpada acesa em cima do caderno, nos desenhos
espalhados sobre a cama. A realidade é o agora e o novo só pode ser apreciado
quando nos esvaziamos de nossas lembranças e preocupações mentais. Viver o
presente, aceitar as mudanças, renovar tudo. Viver a cada instante uma situação
nova.
*Fotos da internet
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