Na década de 80 realizei juntamente com Maria Ângela
Magalhães e sua equipe de tapeceiras, mais de 100 tapeçarias a partir de
projetos de minha autoria. Foi uma experiência muito gratificante, porque me
foi possível ver o meu desenho cheio de nuances, ampliado muitas vezes de forma
monumental, num outro tipo de linguagem. Arte de equipe proporciona ao artista
a oportunidade de dividir com outras pessoas o seu trabalho. Eu ia ao Rio
freqüentemente, acompanhando com alegria a transformação de uma aquarela ou
pastel em bordados de lã. Ângela tingia, ela mesma, os rolos de lã e as
bordadeiras, residentes no outro lado da baía de Guanabara, iam e vinham com
aqueles rolos imensos, dentro da barca de Niterói.
Hoje, revendo alguns papéis guardados, descobri uma
carta de Maria Ângela, grande colaboradora, recentemente falecida, e que
transcrevo abaixo:
“Querida Helena,
Aí vai, com um abraço e meu carinho:
Em busca de novas formas de expressão, o artista que
se propõe a uma obra de equipe exerce, no mínimo, uma boa parcela de
generosidade. Ele reparte o que é só seu e aceita uma cooperação no que cria.
Esta generosidade é um traço precioso na personalidade de Maria Helena Andrés.
Ela está sempre pronta para o outro, e a sua obra estabelece, desde logo, uma
comunicação direta com o espectador.
Trabalhamos juntas por mais de dez anos em uma
centena e tanto de tapeçarias. Para mim, perceber o desenho, captar a sensibilidade
das transparências, as passagens sutis de cor, e integrar uma linguagem à
outra, foi oportunidade de aprendizado e causa de muita alegria. As bordadeiras
que teciam, misturando muitos fios e pontos complicados, o faziam com gosto e
prazer – e os eventuais compradores se encantavam com o resultado – um encontro
feliz.
Se tivesse que me reportar a algumas, falaria sem
dúvida, das da Matriz de Nossa Senhora de Copacabana. Os cartões foram feitos e doados à Igreja. E,
de repente, uma igreja, que tende mais a agradar ao gosto conservador dos seus
fiéis, sem nenhuma preocupação com os valores artísticos, o desenho solto,
alegre, criativo de Maria Helena é um testemunho da liberdade do ser humano. E,
na medida em que reflete a sua sensibilidade, atinge a todos que as vêem. Eu
mesma, que trabalhei quase um ano sobre elas, a cada vez que contemplo aquelas
tapeçarias – me comovo.
Maria Helena, semeadora de alegrias, recupera o que
vinha se perdendo pelo tempo afora e põe, como antigamente, a arte a serviço da
fé."
*Fotos de arquivo
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