Estou sentada ao pé do fogo, desta vez na minha casa
do Retiro das Pedras. Lá fora um vento frio vai reunindo as lembranças de uma
festa que terminou ao cair da tarde. As cenas do presente, com papéis
espalhados pelo chão, outros crepitando na lareira, trazem recordações
diversas. A festa acabou...
Aqui nesta casa as vozes das crianças se misturavam
com outras vozes adultas, de pais, tios, primos, uma árvore
genealógica que remonta ao meu casamento com Luiz Andrés em 1947.
Construímos esta casa com muito esforço, pensando no
futuro dos filhos, netos e bisnetos. Imaginávamos um local de paz, longe do
barulho da cidade. Hoje em dia, conquistar a paz não é fácil; em qualquer lugar
as notícias de crise no Brasil nos tiram o sossego. Algumas pessoas estão
deixando o Brasil, como Antônio Eugênio, meu irmão caçula, que hoje esteve aqui
comemorando o meu aniversário e se despedindo da família. Cansou do Brasil e
comprou uma casa em Lisboa. Acho que ele vai se dar bem, fazendo o percurso
contrário dos navegantes portugueses. Ao invés de se dirigir às Américas, ele
se dirige à velha Europa.
Essa raiz europeia, todos nós temos. Fomos
descendentes dos corajosos navegantes que se atiravam no mar em busca de algo
novo, ainda não descoberto. Com a coragem e a força de um chamado interno, eles
chegaram até as Índias e a China.
Herdei desses meus antepassados a minha necessidade
interna de descobrir o Oriente e suas riquezas espirituais; de sentir de perto
o reflexo dessas filosofias na educação e na arte e mostrar as minhas reflexões
através de livros, palestras, quadros.
Realizei também o roteiro inverso, em busca de uma
integração Oriente- Ocidente. Agora, vejo Antônio Eugênio retornando às origens
europeias de todos nós. Esta viagem de retorno é profundamente enriquecedora.
Seus frutos serão colhidos num futuro próximo.
Parece que a família toda está se deslocando para o
velho continente, buscando aprender na fonte.
No momento, vivo de recordações, pois as viagens
exigem muito sacrifício; deixo isto para os mais novos.
O meu momento presente é a casa do Retiro das
Pedras, o fogo crepitando na lareira, queimando desenhos mal resolvidos e
escritos inacabados. Minha casa continua do mesmo tamanho, feita para abrigar
uma família pequena. Hoje abrigou 70 pessoas, com netos, bisnetos, sobrinhos,
irmãos, filhos.Não foi possível convidar amigos, a casa não comportava...
Tivemos de expandir a cozinha para fora da casa. Fizemos
uma macarronada coletiva; cada convidado vestia um avental e ajudava a abrir a
massa. Depois o Euler ia passando a massa numa máquina de madeira, bem
artesanal, comprada na Itália para fazer macarrão. Esse trabalho coletivo,
feito com a colaboração de todos, além de despertar o lúdico, ainda favorece a
união da família.
Da minha parte, preferi descascar batatas para a
salada, o que me fez recordar os almoços coletivos nos ashrams da Índia, o
Grupo Gurjdieff e a Universidade Holística de Brasília. Nesses encontros, todo
mundo trabalha, seja ele artista, filósofo, intelectual ou dona de casa.
Este exemplo nos mostra o futuro do século
XXI.Ninguém parado, esperando ser servido... Todos trabalhando, para o bem
comum.
*Fotos de Maurício Andrés
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE
ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
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