Morávamos numa casa estilo mexicano em forma de
castelo, na Avenida Afonso Pena, que chamávamos de Castelinho.
Lembro-me de Frei Eustáquio benzendo o nosso
Castelinho na Avenida Afonso Pena, a vizinhança toda correndo para ver a benção
do Frei Eustáquio, o santo da época!
Quando fiquei noiva de Luiz, comecei a receber
visitas. Numa dessas visitas, gente de muita cerimônia, Antônio Eugênio entrou
na sala, olhou para todos e comentou: “Vocês estão demorando, hein? Nós temos
de ir ao Parque Municipal...”
No noivado de Lourdes, outro fato aconteceu. Naquela
época os pais do noivo pediam as moças em casamento. Wilson pediu a seu amigo,
o professor Orlando Carvalho para fazer o pedido. O professor chegou,
conversou, conversou e nada do pedido. Já tinha passado 1 hora e nada, nós
todos olhávamos atrás da porta e o pedido não saía. Havia assunto demais. Foi
quando o meu irmão Luiz, com 11 anos de idade, começou a soltar foguetes na
sacada do castelinho, anunciando o noivado e as empregadas entraram na sala
servindo salgadinhos. Então o Dr Orlando precipitou o pedido e o noivado
aconteceu debaixo de comes e bebes e muita alegria.
Os noivados duravam dois anos, pois tínhamos de
fazer o enxoval- as bordadeiras faziam pontos de cruz e pontos de sombra em
lençóis de linho e percal. Guardávamos tudo dentro de um baú antigo.
Nossas festas de casamento prolongavam-se por um mês
inteiro, os tios e primos vinham do Rio e meus pais, muito hospitaleiros,
cediam o próprio quarto para que eles ficassem com as crianças. Meu casamento
foi um pretexto para que os tios viessem de férias para Belo Horizonte. Resolveram
nos visitar na fazenda Florestal do SESC, próximo a Belo Horizonte, onde
estávamos hospedados logo após o casamento. Colocaram a família inteira dentro
do carro para fazer uma surpresa aos noivos, e nos encontraram debaixo de uma
árvore, Luiz estudando e eu desenhando. Minha vida de casada começou assim, Luiz
estudando e eu pintando. Quando saímos para a nossa viagem de lua de mel,
estranhei o peso da mala do Luiz. Perguntei curiosa: “O que é que você está
levando aí, tão pesado?” Ele então respondeu: “São livros de medicina, para eu
fazer um concurso no Rio de Janeiro”. Respondi: “Então espere um pouco, vou
buscar minhas tintas.” Toda a nossa vida transcorreu na maior tranquilidade,
cada um seguindo a sua vocação profissional.
Luiz gostava de preparar as telas, vestia avental de
médico e não deixava ninguém preparar, tinha de ser ele.
Lembro-me de Isaura e Bárbara as duas moravam na
favela do Pindura Saia e eram empregadas de mamãe. Eram ótimas cozinheiras,
falavam demais e bebiam mais ainda. Papai comprava sacos de arroz e feijão num
empório na rua Espírito Santo. Fazia doações de parte da mercadoria para as
famílias pobres, e as duas empregadas levavam uma boa parte para a favela. A
Bárbara contava: “Quando vamos fazer nossa comidinha em nossa casa na favela, o
povo corre para nos visitar. A casa enche de gente e temos de repartir com
todos. Os vizinhos percebiam pelo cheiro: Estão fritando toucinho na casa da
Bárbara...”
Eu tinha 18 anos e ganhei um prêmio no Rio com um
retrato da Isaura, um desenho em pastel. Era meu primeiro prêmio e hoje não
está comigo, dei-o para a própria Isaura. Lembro-me de um jornal do Rio que
noticiou: “Tem caráter, fala, a portuguesa da Senhorita Maria Helena.”
Fotos de arquivo e da internet
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Tia-mãe querida: foi mesmo uma alegria seu aniversário. A descrição do acontecido aqui me deixa emocionada. Voce relembra com primor seu noivado e casamento com tio Luis no Castelinho e os rituais que tornam o individual no coletivo. Sim, a casa de voces abriga afeto!!!!!!!!!!Cumpre sua missão. As vocações de voces foram respeitadas sempre, e nós os temos como exemplo de que as diferenças no casal podem ser somadas e fontes de crescimento, quando há compreensão e respeito. Amo voces. Obrigada por serem inspiração para todos nós.
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