terça-feira, 4 de agosto de 2015

FESTAS, NOIVADOS E CASAMENTOS NA DÉCADA DE 40

Morávamos numa casa estilo mexicano em forma de castelo, na Avenida Afonso Pena, que chamávamos de Castelinho.

Lembro-me de Frei Eustáquio benzendo o nosso Castelinho na Avenida Afonso Pena, a vizinhança toda correndo para ver a benção do Frei Eustáquio, o santo da época!

Quando fiquei noiva de Luiz, comecei a receber visitas. Numa dessas visitas, gente de muita cerimônia, Antônio Eugênio entrou na sala, olhou para todos e comentou: “Vocês estão demorando, hein? Nós temos de ir ao Parque Municipal...”

No noivado de Lourdes, outro fato aconteceu. Naquela época os pais do noivo pediam as moças em casamento. Wilson pediu a seu amigo, o professor Orlando Carvalho para fazer o pedido. O professor chegou, conversou, conversou e nada do pedido. Já tinha passado 1 hora e nada, nós todos olhávamos atrás da porta e o pedido não saía. Havia assunto demais. Foi quando o meu irmão Luiz, com 11 anos de idade, começou a soltar foguetes na sacada do castelinho, anunciando o noivado e as empregadas entraram na sala servindo salgadinhos. Então o Dr Orlando precipitou o pedido e o noivado aconteceu debaixo de comes e bebes e muita alegria.

Os noivados duravam dois anos, pois tínhamos de fazer o enxoval- as bordadeiras faziam pontos de cruz e pontos de sombra em lençóis de linho e percal. Guardávamos tudo dentro de um baú antigo.

Nossas festas de casamento prolongavam-se por um mês inteiro, os tios e primos vinham do Rio e meus pais, muito hospitaleiros, cediam o próprio quarto para que eles ficassem com as crianças. Meu casamento foi um pretexto para que os tios viessem de férias para Belo Horizonte. Resolveram nos visitar na fazenda Florestal do SESC, próximo a Belo Horizonte, onde estávamos hospedados logo após o casamento. Colocaram a família inteira dentro do carro para fazer uma surpresa aos noivos, e nos encontraram debaixo de uma árvore, Luiz estudando e eu desenhando. Minha vida de casada começou assim, Luiz estudando e eu pintando. Quando saímos para a nossa viagem de lua de mel, estranhei o peso da mala do Luiz. Perguntei curiosa: “O que é que você está levando aí, tão pesado?” Ele então respondeu: “São livros de medicina, para eu fazer um concurso no Rio de Janeiro”. Respondi: “Então espere um pouco, vou buscar minhas tintas.” Toda a nossa vida transcorreu na maior tranquilidade, cada um seguindo a sua vocação profissional.
Luiz gostava de preparar as telas, vestia avental de médico e não deixava ninguém preparar, tinha de ser ele.

Lembro-me de Isaura e Bárbara as duas moravam na favela do Pindura Saia e eram empregadas de mamãe. Eram ótimas cozinheiras, falavam demais e bebiam mais ainda. Papai comprava sacos de arroz e feijão num empório na rua Espírito Santo. Fazia doações de parte da mercadoria para as famílias pobres, e as duas empregadas levavam uma boa parte para a favela. A Bárbara contava: “Quando vamos fazer nossa comidinha em nossa casa na favela, o povo corre para nos visitar. A casa enche de gente e temos de repartir com todos. Os vizinhos percebiam pelo cheiro: Estão fritando toucinho na casa da Bárbara...”

Eu tinha 18 anos e ganhei um prêmio no Rio com um retrato da Isaura, um desenho em pastel. Era meu primeiro prêmio e hoje não está comigo, dei-o para a própria Isaura. Lembro-me de um jornal do Rio que noticiou: “Tem caráter, fala, a portuguesa da Senhorita Maria Helena.”

Fotos de arquivo e da internet

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Um comentário:

  1. Tia-mãe querida: foi mesmo uma alegria seu aniversário. A descrição do acontecido aqui me deixa emocionada. Voce relembra com primor seu noivado e casamento com tio Luis no Castelinho e os rituais que tornam o individual no coletivo. Sim, a casa de voces abriga afeto!!!!!!!!!!Cumpre sua missão. As vocações de voces foram respeitadas sempre, e nós os temos como exemplo de que as diferenças no casal podem ser somadas e fontes de crescimento, quando há compreensão e respeito. Amo voces. Obrigada por serem inspiração para todos nós.

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