Numa de minhas viagens, desta vez com Beth
Cavalcanti, fomos detidas em Bombaim por seis dias. Beth não havia tomado a
vacina contra febre amarela, e a Índia não permite a entrada de pessoas ligadas
aos países que oferecem possibilidades à doença. Um mapa na parede do aeroporto
e o Brasil coberto com uma faixa amarela. Os guardas verificaram o passaporte.
Se o passageiro não fosse vacinado, teria de ficar de quarentena num hospital
de isolamento.
Beth me olhou horrorizada e eu não tive dúvidas, ficaria com ela
no hospital. A passagem por aquele hospital, onde uma liga das nações do terceiro
mundo se misturava no mesmo infortúnio, foi decisiva para um aprendizado de
vida. Diante do irremediável, o melhor caminho é a aceitação. Se cairmos em
depressão as coisas pioram. No fim da temporada, estávamos amigas de todos os
reclusos, dando aulas de criatividade para o grupo. Até os guardas participaram
das aulas, imitando bichos, elefantes, macacos, cachorros. Aulas de
criatividade ajudam a mudar situações e são necessárias quando a vida nos
coloca confinadas num ambiente estranho, sem possibilidade de saída.
Em outra de minhas viagens, fomos parar num hotel
humilde em Madras.
O cansaço da viagem, a entrada naquele hotel nos fez
enxergar fantasmas à noite. As janelas davam para um pátio escuro e, devido ao
fato de estarmos no segundo andar, a possibilidade de um assalto era uma
temeridade. As sombras projetavam vultos na parede em frente e, quando nos
recolhemos para dormir, a cama trepidava e fazia barulho.
“Minha filha, minha cama está mexendo. Estou quieta,
sem fazer nada e a cama não para de mexer.”
Comecei a ficar aflita. A cama da minha filha também
mexia. Dei um pulo no escuro e fui acender a luz.
“Não fico mais neste quarto, deve ser alguma
entidade do astral!”
O medo criava possíveis demônios nos perseguindo.
Cantamos mantras, rezamos.
Depois, observando com atenção, percebemos que as
duas camas eram ligadas por duas pranchas de madeira. Quando uma de nós virava
de lado, a cama ao lado balançava e fazia ruído, como se fosse uma caixa de
ressonância.
A experiência foi boa para se constatar o fato de
que nossa mente é a maior responsável por todos os nossos momentos de terror. A
mente cria fantasias e nos arrasta para os mais desencontrados espaços da
imaginação...
*Fotos da internet
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