Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
MEU CAMINHO NA BUSCA DA INTEGRAÇÃO
Na
década de 50 comecei a escrever o livro “Vivência e Arte” mais tarde editado
pela Agir, um pequeno ensaio sobre arte, arte moderna e arte sacra.
A
linguagem escrita seguia paralela à linguagem pictórica, mente e emoção
buscando uma expressão em comum.
Em
1970 uma viagem em torno do mundo fechou para mim o primeiro circulo de
investigações. Um grupo de assistentes sociais dirigia-se à Expô 70 no Japão e
eu me inscrevi naquele roteiro turístico por facilidade de preço.
Aquela
viagem foi para mim o fechamento de uma de uma grande mandala onde o mundo
inteiro estava sintetizado, e também a abertura para novas buscas na arte e
reflexões.
A
série de mandalas, de minha pintura teve inicio depois desta viagem, onde o
Japão seria para mim o núcleo de integração Oriente-Ocidente. Mas nesta mesma
viagem, fui tocada pela mensagem da Índia. “Viemos de uma essência e a ela
vamos retornar, todos nós homens, animais e plantas”.
Já
não era apenas a integração do planeta, mas o retorno a Essência de onde viemos
e para onde vamos. A Índia, celeiro da espiritualidade abria-se para mim como
cântico de luz, um lugar onde eu me sentia em paz como se estivesse em meu país
de origem.
A
síntese Oriente – Ocidente e a integração planetária estão dentro de nós
mesmos, no equilíbrio do lado direito e esquerdo de nosso cérebro, razão e
intuição.
A
harmonização destes dois aspectos de nossa individualidade torna-se cada vez
mais uma necessidade no campo da consciência.
E,
quando arte e vida se encontram, poderemos dizer como Isadora Ducan quando foi
entrevistada por um jornalista “Eu danço a minha vida”.
*Fotos
de arquivo
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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
UMA FILMAGEM SOBRE AS TAPEÇARIAS DE NOSSA SENHORA DE COPACABANA
Estamos na Igreja Nossa Senhora de Copacabana no Rio
de Janeiro. Na década de 70 fui convidada a realizar os projetos de 3
tapeçarias para essa igreja, duas para a nave principal e uma para a capela do Santíssimo.
A proposta era realizar a monumentalidade de um mural. As duas da nave
principal medem 5 x 2,50 metros e a da capela preenche um espaço horizontal de
12 x 2,50 metros.
Aqui na capela do Santíssimo são realizados
casamentos. Viemos, meu filho Maurício e eu, com o objetivo de fazer uma
filmagem sobre as tapeçarias para um documentário sobre minha trajetória na
arte, a ser feito pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Enquanto a câmera
desliza sobre a grande tapeçaria horizontal
vou recordando o que motivou a criação desse painel colorido, destinado ao
culto católico. Para esse tema eu teria que me concentrar um pouco na história.
Revejo nele a chegada dos navegantes portugueses na cidade do Rio de Janeiro.
Ali estão os mastros e velas que transportaram o cristianismo para esta terra.
Enquanto o fotógrafo registra a obra, eu procuro recolher as minhas lembranças.
Lembro-me de que eu procurei colocar uma mandala no centro do painel,
significando a Eucaristia, já que esta
capela está destinada ao Santíssimo Sacramento. Ao lado, Nossa Senhora com o
menino Jesus, abençoa a cidade do Rio de Janeiro, especialmente a praia de Copacabana.
Em seguida nos dirigimos à nave central onde existem
duas tapeçarias, cujo tema busca configurar um dos aspectos mais transcendentes
do cristianismo: a comunhão dos santos e o caminho de volta ao Pai. Lembro-me
de ter me concentrado no tema buscando o recolhimento necessário para
transmitir o caminho que nos leva das sombras para a luz.
Buscar espaços superiores cheios de luz é um dos caminhos
de transcendência. Nesse primeiro painel, vertical, sombra e luz estão
registrados. Há um desejo de alcançar o sol que a todos ilumina. Multidões
buscam a realização da unidade. No painel à direita há uma celebração da
chegada à casa do Pai, vencendo todos os obstáculos. Esta foi minha concepção ao projetar os painéis.
Transmutar as energias sombrias que nos prendem à terra e chegar à plenitude do
encontro com Deus.
Volto à realidade do presente. Passa uma senhora com
um vaso de flores. Ela se aproxima e pergunta se precisamos de alguma coisa.
“Estou aqui dando um depoimento sobre os painéis,
sou a autora deles. Foram realizados aqui no Rio de Janeiro por Maria Ângela
Magalhães na década de 70. Ela realizou uma série de tapetes a partir de meus
desenhos feitos em pastel sobre papel veludo. ”
“Que bom”, respondeu ela, “assim eu posso explicar
para as pessoas o significado das tapeçarias, o que você idealizou quando
projetou o seu trabalho.”
*Fotos de Maurício Andrés
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
PERU -MACHU PICCHU
Este planeta tão pequeno, despertando debaixo do
mesmo sol, faz produzir na terra a mesma vegetação. Olhando pela janela do trem
que nos leva a Machu Picchu, vejo a cidade em baixo, cercada de montanhas, e a
vegetação rasteira, nativa, produzindo as mesmas flores amarelas do Retiro das
Pedras, lírios, palmas e até a famosa cicuta, erva daninha tão perigosa desde
os tempos de Sócrates.
Ao longo da estrada, as casas de adobe servem de
moradia para o povo do campo e pode-se ver o barro amassado em cubos e
recoberto de grama para secar.
Montanhas surgem, cobertas de neve, no meio do verde
e do céu azul, enquanto o trem vai seguindo num vai e vem, descendo a montanha.
Machu Picchu e Anapicchu são duas pedreiras,
semelhantes ao nosso Pão de Açúcar. A maior delas, Machu Picchu, simbolizava “o
mais velho gerando sabedoria” e a menor, Anapicchu, “o mais jovem, doando
energia”.
URUBAMBA
Vale sagrado dos Incas, é um rio que desemboca no
Amazonas, com patamares recobertos com húmus, vindos de outros planos.
O rio de águas barrentas segue os acidentes do
caminho. O trem acompanha o rio entre a monumentalidade das montanhas. Pequenos
veios de água, riachos, pedras, cactos, pitas, acácias, formam o tapete natural
de flores que acompanham o caminho do rio. Há musgos diferentes, nunca vistos,
descendo as montanhas, eucaliptos plantados pelo homem, torres elétricas
levando o progresso.
Ao redor das cidades existem aldeias autossuficientes
que plantam batata, cevada, lentilha, mostarda, milho etc. As casas de adobe se
distribuem pelas áreas de terra recortadas geometricamente, como as fazendas
europeias. Aqui o dinheiro não é necessário para as primeiras necessidades,
pois vivem de trocas.
OLANTAITAMBO
Lugar sagrado dos Incas, foi construído com grande
sentido estratégico, como uma fortificação. Hoje é um dos lugares mais
conhecidos pelos turistas. Dois teares enormes e os tecelões trabalhando, pai,
mãe e filhos no mesmo ofício. Fazem cenas típicas do Peru.
TEMPLO DO SOL
Os incas tinham uma visão cósmica, adoravam e
rendiam culto ao sol, à lua e às estrelas, ao arco íris, trovão e relâmpago.
Chamavam a terra de mãe – Pachamamma - e
prestavam culto à terra, à água e aos animais. Havia em cada mês do ano
homenagens a um diferente deus. O calendário tinha 12 meses e 365 dias. Em
julho havia uma grande festa especial em homenagem ao deus Sol.
OBELISCO TELLO
Pertence aos períodos mais antigos de Chavin, 1000
a.C., e representa uma divindade complexa, conectada com a terra, a água e
todos os elementos vivos da natureza. Em seu corpo existem homens, aves,
serpentes, felinos etc; e o monstro divino deles se alimenta.
Esse obelisco tem semelhanças com os desenhos
encontrados nos vasos chineses.
DANÇAS PERUANAS
Conhecemos no Hotel Bolívar, em Lima, um empresário de um grupo folclórico de danças do Peru.
Segundo ele, existem 3000 danças folclóricas diferentes no Peru. As roupas
lembram o Nepal e se assemelham às danças dos cossacos russos.
*Ilustrações de Maria Helena Andrés
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terça-feira, 1 de dezembro de 2015
PERU - CUSCO
A cordilheira dos Andes, assim como os Himalaias, é
considerada montanha sagrada pelos antigos habitantes da Terra. Buscando uma
comparação entre os Andes e os Himalaias, entre o Ocidente e o Oriente,
interessei-me em conhecer o Peru, onde está localizado Machu Picchu. Estive no
Peru em 1983, ocasião em que estava escrevendo o livro “Oriente-Ocidente,
integração de Culturas.” Das anotações feitas no local realizei várias ilustrações
para os textos que transcrevo abaixo:
“Existe um elo que une povos percorrendo gerações e
se fazendo manifestar no tempo e no espaço. Estamos em Cusco, no alto dos
Andes. As montanhas recortadas e sujeitas a movimentos sísmicos nos trazem
lembranças do passado. A história é povoada de lutas e conquistas, sempre o
mais forte sufocando o mais fraco. O domínio dos Incas se estendeu pela orla
costeira de Norte a Sul, num espaço de terra que dava abertura para os quatro
pontos cardeais.
Parte da Amazônia pertence ao Peru e até hoje, nas
festas populares, os índios dançam com máscaras e cocares coloridos. A ligação
da Amazônia com o Peru vem de longa data, alguns historiadores afirmam que os povos vieram das selvas para as
regiões mais altas, outros acreditam que a Amazônia já foi o Paraíso terrestre.
Se quisermos esboçar um estudo comparativo entre as
cidades mineiras e Cusco, podemos ver no primeiro instante a semelhança topográfica, devido à localização
no alto das montanhas.
Cusco está situada aos pés de uma montanha, como as
cidades históricas de Minas Gerais. Em Minas, as cidades acompanharam a busca
de riquezas, o garimpo abrindo novos caminhos pela terra virgem. Em Cusco, os
conquistadores encontraram uma civilização já organizada, com palácios,
fortalezas e templos, uma cidade em forma de pantera, estruturada na pedra. As construções tipicamente espanholas
ergueram-se sobre as ruínas dos templos e palácios, proporcionando uma fusão de
culturas desde os primeiros tempos da colonização.
Estamos em Cusco justamente no dia em que o papa João
Paulo II está em visita ao Peru.
Com a chegada do Papa, estamos vendo danças
folclóricas nas ruas, gente dos arredores, a cidade e o campo reunidos – parece
um carnaval. Mascarados dançando na praça das armas e a multidão reunida.
Mulheres pequenas, vestindo mil saias umas sobre as outras, chapéu de homem e
sapatos também masculinos.
Uma mistura de Rajastão na Índia, com Nepal e Tibet,
um frio nepalense, 3.500 metros acima do
nível do mar.
Tenho andado devagar, para não cansar. Amanhã iremos
a Machu Picchu, hoje à tarde um tour pelos arredores”. (Textos extraídos de
anotações de viagem, 1983)
*Ilustrações de Maria Helena Andrés
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