Estamos na Igreja Nossa Senhora de Copacabana no Rio
de Janeiro. Na década de 70 fui convidada a realizar os projetos de 3
tapeçarias para essa igreja, duas para a nave principal e uma para a capela do Santíssimo.
A proposta era realizar a monumentalidade de um mural. As duas da nave
principal medem 5 x 2,50 metros e a da capela preenche um espaço horizontal de
12 x 2,50 metros.
Aqui na capela do Santíssimo são realizados
casamentos. Viemos, meu filho Maurício e eu, com o objetivo de fazer uma
filmagem sobre as tapeçarias para um documentário sobre minha trajetória na
arte, a ser feito pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Enquanto a câmera
desliza sobre a grande tapeçaria horizontal
vou recordando o que motivou a criação desse painel colorido, destinado ao
culto católico. Para esse tema eu teria que me concentrar um pouco na história.
Revejo nele a chegada dos navegantes portugueses na cidade do Rio de Janeiro.
Ali estão os mastros e velas que transportaram o cristianismo para esta terra.
Enquanto o fotógrafo registra a obra, eu procuro recolher as minhas lembranças.
Lembro-me de que eu procurei colocar uma mandala no centro do painel,
significando a Eucaristia, já que esta
capela está destinada ao Santíssimo Sacramento. Ao lado, Nossa Senhora com o
menino Jesus, abençoa a cidade do Rio de Janeiro, especialmente a praia de Copacabana.
Em seguida nos dirigimos à nave central onde existem
duas tapeçarias, cujo tema busca configurar um dos aspectos mais transcendentes
do cristianismo: a comunhão dos santos e o caminho de volta ao Pai. Lembro-me
de ter me concentrado no tema buscando o recolhimento necessário para
transmitir o caminho que nos leva das sombras para a luz.
Buscar espaços superiores cheios de luz é um dos caminhos
de transcendência. Nesse primeiro painel, vertical, sombra e luz estão
registrados. Há um desejo de alcançar o sol que a todos ilumina. Multidões
buscam a realização da unidade. No painel à direita há uma celebração da
chegada à casa do Pai, vencendo todos os obstáculos. Esta foi minha concepção ao projetar os painéis.
Transmutar as energias sombrias que nos prendem à terra e chegar à plenitude do
encontro com Deus.
Volto à realidade do presente. Passa uma senhora com
um vaso de flores. Ela se aproxima e pergunta se precisamos de alguma coisa.
“Estou aqui dando um depoimento sobre os painéis,
sou a autora deles. Foram realizados aqui no Rio de Janeiro por Maria Ângela
Magalhães na década de 70. Ela realizou uma série de tapetes a partir de meus
desenhos feitos em pastel sobre papel veludo. ”
“Que bom”, respondeu ela, “assim eu posso explicar
para as pessoas o significado das tapeçarias, o que você idealizou quando
projetou o seu trabalho.”
*Fotos de Maurício Andrés
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