Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
MONTANHAS E MEMÓRIAS
Enquanto contemplo as montanhas que se estendem à
perder de vista, nesta região privilegiada de Minas Gerais, fico lembrando de
outras montanhas que se assemelham na grande paisagem da Terra.
Aqui, as montanhas estão sendo devastadas pelas
mineradoras, lá longe, nos Himalaias elas são cultivadas , nos Alpes Suíços
elas se cobrem de neve. As montanhas eram procuradas pelos antigos como lugares
apropriados para curas de doenças dos pulmões.
Fico pensando no meu avô, recolhido num sanatório no
alto dos Alpes Suíços, contemplando a neve que cobria as montanhas. Os
sanatórios da Suíça eram famosos e por ali passaram celebridades tais como
Manoel Bandeira e Lenine. Sobre Lenine, corre na família a história de Américo,
nosso primo que o conheceu quando juntos descansavam num sanatório. Ficaram
amigos, tiraram fotos juntos.
Anos mais tarde a revolução russa explodia em
Manchetes por toda Europa e os retratos de Lenine apareciam em todos os
periódicos. Américo estava num bar junto com amigos, quando viu o retrato de
Lenine publicado em evidência como líder revolucionário.
“Este homem é meu amigo, exclamou Américo, eu o
conheci na Suíça. Os amigos não acreditavam, mas Américo foi buscar a foto em
que os dois apareciam juntos.
Nos sanatórios as pessoas se encontravam e faziam
boas amizades.
Naquele tempo as curas eram feitas aproveitando o
clima e o ar não poluído das montanhas. Banho frio de manhã, boa alimentação e
repouso. Alguns saravam definitivamente, outros se preparavam para a morte.
Manoel Bandeira viveu até os 70 anos, Lenine liderou a Revolução Russa. Meu avô
não teve a mesma sorte. Morreu aos 35 anos deixando no Brasil sua esposa e seus
6 filhos.
Minha avó foi amparada pelos familiares. Morou em
Vassouras, com a criançada, depois veio para Belo Horizonte, lugar famoso por
um bom clima. Sua preocupação era criar os filhos com saúde, no alto das
montanhas e Belo Horizonte oferecia, não somente o clima, como também promessas
de melhor futuro. Era a nova capital, surgindo com entusiasmo do antigo Curral
Del Rey.
O traçado da cidade obedecia a uma ordem onde os
nomes indígenas se integravam aos nomes dos estados brasileiros. Minha avó escolheu
a rua da Bahia, próximo ao Parque Municipal, sempre pensando nos filhos e na
oportunidade das crianças brincarem à sombra das árvores. Mais tarde
transferiu-se para a rua Ceará onde viveu até morrer aos 54 anos.
Daquela casa saíram 3 casamentos e muitos
aniversários. Como toda mãe de família de antigamente minha avó tinha medo das
filhas ficarem solteiras.
Lembro-me da casa, da varanda e do quintal com um
grande pé de jabuticaba que fazia a alegria das crianças.
*Fotos de Maria Helena Andrés e da internet
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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
SALÃO DO ENCONTRO
Fomos visitar o Salão do Encontro em Betim, criado e
dirigido por Noemi Gontijo. Noemi é minha conhecida desde os tempos de meu
marido, Luiz Andrés, muito amigo e grande admirador de sua obra. Até hoje, com
mais de noventa anos, Noemi está à frente de tudo o que acontece naquele
educandário de fama internacional que promove ações para a redução da desigualdade
social através da educação pela arte.
Noemi nos recebeu com muito carinho. O Salão do
Encontro representa na atualidade um “Centro de Referência Educacional e de difusão
da Arte Popular”.
Fundada em 1970, a instituição busca a erradicação
da pobreza e a dignidade da vida oferecendo educação, capacitação, cuidados com
a saúde e moradia à população carente da cidade de Betim, a 30 km de Belo
Horizonte.
O Salão é referência para pesquisadores do mundo
inteiro e logo de entrada podemos ver um grande painel com representantes de
diversos países do mundo que ali estiveram para visita e também participando de
residências artísticas.
Percorrer os diversos departamentos do educandário,
sentir de perto a capacidade de doação e dedicação desta educadora é programa
para muitas visitas.
As crianças aprendem brincando, são alegres e fazem
trabalhos muito interessantes.
Há um berçário para os filhos das mulheres que ali
trabalham. Podemos ver de acordo com a idade, os diversos grupos de crianças
que se vestem com a cor correspondente a sua turma – os periquitos de três anos
se vestem de verde, falam todos ao mesmo tempo. Em seguida vêm os canários,
depois os azulões – todos acompanhados pelas professoras.
As aulas de contadores de estórias são dadas ao ar
livre, debaixo de uma árvore. As crianças sentam em tocos e o toco maior é da
professora.
Faz lembrar as aulas na Índia, dadas embaixo de “banyan
trees”.
Noemi criou ela mesma os diversos prédios do Salão,
usando bambus no chão para determinar tamanhos. Para a construção foram
convocados os presos de um presídio próximo. Segundo seu depoimento, as salas
têm janelas enormes dando para os jardins, para que a paisagem faça parte das salas. As tintas
das aulas de pintura são retiradas da própria terra do educandário. Há o processo
de socar a terra com o pilão, depois a terra é peneirada e decantada para se
retirar a tinta que será usada com a emulsão para a pintura.
Naquela escola a criança aprende pintura, tecelagem,
modelagem. As aulas de tecelagem ajudam na coordenação motora e na matemática.
O aprendizado se torna um jogo prazeroso, sem
imposições externas. Despertar a criatividade é uma constante em todos os
departamentos. Logo no início das aulas, todos vão para a “Escola de Circo”,
destinada ao despertar da espontaneidade da criança.
O resultado obtido é muito bom e este programa
social merece ser visto e estudado por todos.
*Fotos da internet
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terça-feira, 12 de janeiro de 2016
SÃO SEBASTIÃO
Quatro homens vestidos de “opa vermelha” vão subindo
a ladeira, carregando a imagem de um santo. É São Sebastião, o mártir cristão
que morreu coberto de flechas dos soldados romanos. Ele também era um soldado
convertido e foi um mártir dos primeiros tempos do cristianismo. Hoje São
Sebastião sobe a ladeira em triunfante procissão. O sol está quente, mas o povo
da cidade acompanha o cortejo cantando ladainhas e repetindo Pai Nossos e Ave
Marias.
São Sebastião de Águas Claras é um lugarejo próximo
a Belo Horizonte, mas conserva tradições do passado e as festas populares são
famosas, agregando todos os municípios vizinhos. A banda de música exibe
instrumentos reluzentes, que brilham ao sol do meio dia. Os músicos também
brilham e a cidade é refletida nos espelhos dos trombones. O padre está à
frente, as mulheres enfeitam de bandeirinhas a pequena igreja do século XVIII,
que se vê adornada nesta manhã festiva.
Minas Gerais promove esses encontros populares,
sempre com a ajuda de crianças, jovens, idosos, homens e mulheres.
Vem gente de longe carregando brindes para o leilão
– que é realizado em benefício da igreja. “Quem dá mais?”
Os brindes são feitos em casa, nos fogões à lenha.
Leiloa-se tudo, ferros de passar, sanduicheiras, panelas, pratos deliciosos,
farofas, feijoadas, doces, pudins, bolos, galinhas, patos e leitões, ovos e
leite.
O cortejo seguiu até o alto do morro e o artista
local, Ivan Volpi, cedeu para a festa um estandarte representando São Sebastião
crivado de flechas.
Depois, cada um vai comemorar o domingo com almoços
regados a vinho e cerveja.
*Fotos da internet
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