A trajetória de Nelly Frade, uma das minhas grandes
amigas dos tempos de Guignard, vai me surgindo a partir de seus desenhos em
bico de pena, elaborados em forma de um rendado.
Às vezes esses desenhos nos lembram pedras preciosas
onde o intrincado das linhas parece se introduzir para dentro de cavernas em
busca da pedra bruta, riqueza das terras de Minas Gerais. Através deste
intrincado de linhas, vou relembrando a trajetória de Nelly, figura simples e
espontânea como uma criança que se deslumbra com o mundo.
Lembro de Nelly na Escola Guignard, à sombra das
árvores, desenhando e fazendo suas aquarelas. Nelly gostava das árvores do
parque municipal e suas aquarelas eram estimuladas pelo mestre Guignard. Nas
férias, Nelly viajava para Caxambu, e até hoje podem ser vistos nas coleções de
sua obra, os seus registros figurativos dos parques de Caxambu, realizados em
aquarela e óleo. Desde então estava firmado no seu caminho a sua predileção
pelo uso das cores.
Voltando às nossas cidades históricas, Nelly deixou
a marca da sua personalidade em pequenos quadros que registram o nosso barroco
visto através de uma paisagem onde prevalece um expressionismo cheio de vigor.
Nelly usava as cores com maestria e essas cores
também a conduziram ao abstrato geométrico, ou construtivismo, que vigorava
naquela época.
Formamos na ocasião um pequeno grupo de concretistas
mineiros e Nelly participava daquele grupo, criando quadros pequenos mas muito
bem resolvidos dentro da estética concretista.
Viajávamos juntas para São Paulo onde participávamos
das palestras dos críticos e da convivência com artistas tais como Volpi, Maria
Leontina e Milton Da Costa.
Naqueles encontros artísticos, Nelly estava sempre
presente.
Ela acompanhava com entusiasmo a minha evolução no
campo das artes, e ainda me lembro de Nelly subindo a rua Santa Rita Durão com
um jornal de São Paulo na mão.
“Maria Helena, você entrou na Bienal!”
Aquele entusiasmo pelo sucesso do colega era uma
virtude preciosa que Nelly sempre manifestou. Ela era muito modesta e se
esquivava de concursos e publicidades.
Em 1967, quando Marília Giannetti me chamou para
dividir com ela uma exposição em Paris, preparamos uma viagem à Europa e Nelly
nos acompanhou.
Lembro-me do seu entusiasmo diante das obras de arte
da França e da Itália, países que visitamos na ocasião.
Nelly parecia uma criança descobrindo o novo a cada
instante e seu entusiasmo era contagiante.
Naquela ocasião, o embaixador do Brasil em Paris , o
Dr Bilac Pinto, compareceu pessoalmente à exposição.
Marília Giannetti era organizada, traçava metas,
convidava os diplomatas para a inauguração, enquanto nós duas dávamos
preferência para um passeio de charrete pelas ruas de Paris.
Mas, apesar das diferenças, éramos boas amigas e
apreciávamos juntas as riquezas do Velho Mundo.
A história de Nelly poderá ser analisada melhor
pelos historiadores e críticos de arte que descobrirão no futuro o quanto aquela
artista silenciosamente contribuiu para
a história da arte de Minas.
*Fotos da internet
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ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
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