terça-feira, 9 de maio de 2017

MEMÓRIAS DE GOA I

Através das vidraças do trem, eu via a paisagem aparecendo e desaparecendo como um filme colorido. Ali estava, descortinando-se diante de meus olhos, um panorama parecido com o nosso, do Brasil. O nordeste brasileiro e o sudeste indiano davam-me a impressão de terem sido criados juntos , terras irmãs separadas por muitos mares.

 A volta às minhas origens históricas começava a se delinear na tropicalidade daqueles campos. A chegada à Goa, onde os portugueses estabeleceram uma pequena colônia durante a expansão de seu império, foi para mim um toque de consciência. Andava pelas ruas sentindo-me em casa, em cada esquina enxergava as cidades históricas de Minas Gerais. Ouro preto, Diamantina, Sabará, Tiradentes, Congonhas do Campo. Os mesmos colonizadores da região do Minho, em Portugal, passavam algum tempo na Índia, para depois se deslocarem para o Brasil. Levavam e traziam sementes de frutas. Os goeses festejam o carnaval e cantam serenatas como  em Diamantina.

Em Goa eu me sentia em casa. As pessoas são amáveis, acompanham os visitantes, convidam-nos para jantar, levam-nos aos concertos e recepções.
Fiquei conhecendo de perto a vida de uma aldeia goesa. O governo de Goa, naquela época, era socialista e a divisão de terras propiciava muitas desavenças. O sistema de castas, de origem hindu, prevalecia até nas famílias católicas.

A influência de Portugal na cultura goesa durou quatro séculos e meio, de 1510 a 1961. Ali foi criada a primeira imprensa do Oriente com o objetivo de expandir o Cristianismo e, ao mesmo tempo, divulgou a espiritualidade da Índia na Europa. Depois da retomada de Goa pelo governo da Índia, em 1961, os portugueses regressaram a Portugal e a ex-colônia perdeu o intercâmbio com o continente europeu.
Goa desempenhou o papel de unificadora de duas civilizações. Navios chegavam da China, trazendo coisas fantásticas do Extremo-Oriente: louças chinesas, caixas, arcas de madeira e biombos trabalhados. O comércio intensificou a construção dos templos, promovendo a integração no campo das artes. Artesãos goeses que trabalhavam nas igrejas davam um cunho local à decoração. Os símbolos hindus eram substituídos por símbolos cristãos, mas a decoração e os arabescos conservavam as características orientais.

Muitas vezes, as igrejas cristãs erguiam-se nas ruínas das mesquitas e dos templos hindus, mas eram conservados detalhes da antiga construção. (Trecho de diários de viagens à Índia, épocas diferentes)

*Fotos da internet

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