Através das vidraças do trem, eu via a paisagem
aparecendo e desaparecendo como um filme colorido. Ali estava, descortinando-se
diante de meus olhos, um panorama parecido com o nosso, do Brasil. O nordeste
brasileiro e o sudeste indiano davam-me a impressão de terem sido criados
juntos , terras irmãs separadas por muitos mares.
A volta às minhas origens
históricas começava a se delinear na tropicalidade daqueles campos. A chegada à
Goa, onde os portugueses estabeleceram uma pequena colônia durante a expansão
de seu império, foi para mim um toque de consciência. Andava pelas ruas
sentindo-me em casa, em cada esquina enxergava as cidades históricas de Minas
Gerais. Ouro preto, Diamantina, Sabará, Tiradentes, Congonhas do Campo. Os
mesmos colonizadores da região do Minho, em Portugal, passavam algum tempo na
Índia, para depois se deslocarem para o Brasil. Levavam e traziam sementes de
frutas. Os goeses festejam o carnaval e cantam serenatas como em Diamantina.
Em Goa eu me sentia em casa. As pessoas são
amáveis, acompanham os visitantes, convidam-nos para jantar, levam-nos aos
concertos e recepções.
Fiquei conhecendo de
perto a vida de uma aldeia goesa. O governo de Goa, naquela época, era
socialista e a divisão de terras propiciava muitas desavenças. O sistema de
castas, de origem hindu, prevalecia até nas famílias católicas.
A influência de
Portugal na cultura goesa durou quatro séculos e meio, de 1510 a 1961. Ali foi criada
a primeira imprensa do Oriente com o objetivo de expandir o Cristianismo e, ao
mesmo tempo, divulgou a espiritualidade da Índia na Europa. Depois da retomada
de Goa pelo governo da Índia, em 1961, os portugueses regressaram a Portugal e
a ex-colônia perdeu o intercâmbio com o continente europeu.
Goa desempenhou o papel
de unificadora de duas civilizações. Navios chegavam da China, trazendo coisas
fantásticas do Extremo-Oriente: louças chinesas, caixas, arcas de madeira e
biombos trabalhados. O comércio intensificou a construção dos templos,
promovendo a integração no campo das artes. Artesãos goeses que trabalhavam nas
igrejas davam um cunho local à decoração. Os símbolos hindus eram substituídos
por símbolos cristãos, mas a decoração e os arabescos conservavam as
características orientais.
Muitas vezes, as
igrejas cristãs erguiam-se nas ruínas das mesquitas e dos templos hindus, mas
eram conservados detalhes da antiga construção. (Trecho de diários de viagens à
Índia, épocas diferentes)
*Fotos da internet
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