Os novos encontros , depois de muitos anos, nos
permitem refletir sobre a vida e o tempo que vai cobrindo as pessoas de novos
revestimentos.
Encontrei o mestre que me despertou para a Síntese
Oriente – Ocidente, o famoso historiador goês, Antonio de Menezes.
Ele me dava aulas diárias de história da Índia,
história do Brasil, costumes, sistema de castas, casamentos entre nativos e
portugueses. Aprendi muito e alguns insights me surgiram nessas praias. Foi em
D. Paula, naquela praiazinha particular que eu retornei ao passado e vi a
chegada dos veleiros na Índia. Os rochedos me levaram ao passado, o mar me
estabeleceu no presente. As coisas se repetem, as pessoas aparecem e
desaparecem neste mundo de ilusões. Aparecem com a intensidade daquele momento
perdido na distância da memória.
Alguma coisa profunda, ligada à nossa realidade
interna deveria ser o farol de nossa vida.
A vida não tem sentido se não meditarmos sobre a
morte, diariamente, com a alegria de quem vai se transformar em algo etéreo,
leve, luminoso, sem o peso do corpo, da matéria.
A matéria se decompõe, mas o sopro do espírito
sobrevive, resiste a todas as doenças, transmite sabedoria e paz.
Naquele momento eu estava diante de um sábio, meu
mestre de 80 anos, pele lustrosa, não bebe vinho, não fuma, faz regime semi
vegetariano , massagens com escovas no pescoço, pés e mãos.
“É para a circulação, ele me disse, mostrando uma
escova de lavar roupa. Todos os dias faço minha própria massagem. Sua esposa deve
ter quase 80, mas parece ter 60. Ainda prepara as pessoas que pretendem estudar
em Portugal.
Olho pela janela. Em frente à casa arejada, o rio
corre sereno. A rua agora não é a mesma, está cheia de carros, ônibus, apitos,
buzinas. O tempo se encarregou de trazer mais movimento para essas terras. A
figura do historiador se iluminou quando me viu chegar. Estava regressando da
Editora, onde entregaria o seu último livro. À necessidade intelectual de
escrever, ele acrescentava uma ligação espiritual espontânea, direta. Era
cristão mas não frequentava a igreja. A cruz modelada dentro de um pequeno
nicho frente à sua casa, estava sempre coberta de flores, mas quando rezava,
ele ia direto para Deus.
“Rezo o Pai Nosso com muita devoção, pensando nas
palavras, pois foi a única oração que Cristo ensinou. Depois, reverencio os que
já se foram. Coisas extraordinárias acontecem, eles estão presentes, não
morreram. Olhei para a fisionomia desse homem eternamente sereno, alegre, as
palavras com a energia do eterno agora.
“Quando brinco com as crianças me transformo em
criança, quando converso com jovens sou um jovem, quando converso com uma
pessoa idosa, sou idoso. A sabedoria dessas palavras me fez refletir.
Não existe passado nem
futuro, só o agora. O agora é sempre novo. A atenção total no agora nos
transforma em crianças, jovens ou velhos, sem querer ser diferente do que
realmente somos. A mente cria a fantasmas que não existem, não sabemos conviver
com esses fantasmas, por isso sofremos. (Trecho de diários de viagens à Índia,
épocas diferentes)
*Fotos da internet
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