terça-feira, 20 de junho de 2017

KAJURAHO I

Hoje em Kajuraho, mais um toque de vida. Percorrendo um museu de arqueologia da seita Jain, nos arredores da cidade, encontrei a fotografia de uma pedra gravada alguns séculos antes de Buda. A pedra representa dois pés, um virado para um lado e o outro para o outro lado, com uma serpente de duas cabeças em torno, exatamente igual aos pés do Maurício no meu livro “Os caminhos da arte”. Realmente fiquei emocionada com a descoberta e procurei saber de um guia local a explicação para esta simbologia.
- “Vários monges se reuniram em meditação e quando se liberaram, gravaram na pedra estes pés.”
A explicação me pareceu satisfatória, mas, logo em seguida, fui encontrá-la na figura de um enorme Buda em posição de lótus. Os pés nesta posição ficam também com as plantas viradas em posições opostas.

Voltei para casa a fim de refletir sobre o acontecimento. Não existe realmente nada de novo sobre a face da terra, as pessoas sensíveis encontram simplesmente o que já existe dentro delas e também existe dentro de todo ser humano.

Andando sozinha em volta de um templo de Kajuraho, vou contemplando as figuras esculpidas nas paredes que representam os degraus de evolução do Ser Humano. Na nossa vida não existe uma programação cronológica para as experiências. Elas têm de ser vividas ou compreendidas em seu significado mais profundo. Aparentemente os templos parecem eróticos, mas na realidade, se contemplarmos com atenção dali podemos tirar uma grande lição de vida. Isto porque às vezes muita coisa ficou para ser vivida e como foi reprimida é colocada nos depósitos do inconsciente, constituindo uma energia nociva. Contemplo e rodeio o templo com um caminhar lento, enquanto lá no céu o sol se põe em toda a sua majestade.

Contemplo as figuras e depois o por do sol, até que alguma coisa encontra ressonância dentro de mim.
Alguma coisa ligada ao meu passado vem à tona. Um grupo de rapazes se acerca e tenta explicar com a maior naturalidade onde estão os deuses com suas esposas e a postura tântrica das imagens. Não existe maldade nas explicações. A vida para eles não é reprimida e o fato de contemplar os vários estágios da evolução dá-lhes a possibilidade de uma visão global do itinerário do homem sobre a terra e da meta a ser alcançada.

Na realidade, ali estão os templos, ali está o sol se pondo e a lua surgindo no céu. (Trecho de diário de viagens, década de 80)

*Fotos de arquivo e da internet


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