Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 28 de agosto de 2017
CARTA DE MAURÍCIO PARA AVÓ NAIR
Descobri nos meus arquivos esta carta de Maurício
endereçada à sua avó Nair.
“Bangalore, 15 de novembro de 77
Vovó,
O Ano Novo aqui é 2034 e comemora-se no dia 10 de
novembro, com uma festa chamada Divali, em que todo mundo come bastante,
estoura muitos foguetes (no jornal falaram que a poluição do ar aumenta nestes
dias) e há rituais em que coco, banana, frutos tropicais, são oferecidos às
divindades.
Para efeito de comércio, já estamos em outro ano: abriram outra
contabilidade, fizeram balanço, e as vendas de fim de ano, neste ano de 2033,
não foram tão boas como as de 2032, porque o poder aquisitivo baixou, os preços
aumentaram e a concentração de renda nas mãos da elite também aumentou
bastante. Ainda bem que foi melhor do que vai ser em 2035.
Tem muitos cristãos que comemoram o Natal e o Ano
Novo como nós no Brasil; o calendário oficial também é igual ao nosso.
Fiquei feliz em saber do sucesso da operação, e que
você ainda pode se animar a aparecer aqui para uns passeios.
Em relação ao custo de vida aí, para nós é
baratíssimo viver e viajar na Índia e vale a pena. Cada lugar tem uma história
diferente, árabes, hindus, muçulmanos, ingleses, tribos primitivas e a
mitologia mais rica do mundo. Só de romances célebres, há uma porção, como este
aí da carta.
Um livro sobre heroínas célebres conta as histórias
de 15 deles, filhas de Deuses, Reis e Marajás.
As religiões também são alegres; os deuses dançam,
cantam, cultivam o corpo, têm casos de amor e brincam. Lord Krisna casou-se
duas vezes, e antes disso, recolheu as roupas que suas amigas haviam deixado às
margens do riacho onde se banhavam e subiu numa árvore onde ficou se deliciando
com o aperto delas.
A benção e um abraço para os tios e primos,
Maurício.”
*Fotos de arquivo e da internet
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segunda-feira, 21 de agosto de 2017
CARTA A MARIA ÂNGELA MAGALHÃES
Ângela,
Foi pena realmente você não ter vindo.
Em Goa,
gostaram da minha palestra, estou de visita oficial – com carro à disposição
para visitar os lugares mais difíceis que a gente leva tempo para alcançar como
turista.
Hoje repeti a palestra em Bangalore, depois falarei em Madras, Bombay,
Delhi.
Experiência nova, novos amigos.
Minhas palestras:
“Brasil e Índia, fruto dos trópicos; influência
portuguesa; semelhanças no comportamento, no povo, nos costumes.”
Os indianos são muito irmãos nossos, começo a
entender o meu processo.
Chegando aqui, ficando um mês num ashram, reunindo
energias, despertando o Kundalini, para agora ter coragem de falar em público
na Índia!
Abraços, saudades,
Helena
*Fotos de arquivo
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segunda-feira, 14 de agosto de 2017
CARTA PARA MARÍLIA E PAIXÃO
Marília e Paixão,
Para vocês dois o meu abraço muito amigo aqui de
longe da Índia, mas muito perto em pensamento.
Estou vendo coisas tão diferentes que às vezes fico
pensando se será possível mesmo. Há famílias de macacos pelas ruas, vacas
andando como se estivessem no pasto, gente vestida como se fossem para um baile
de gala, tudo somado à pobreza, à religião e à ecologia. Nos grandes templos
cada guru defende a sua imagem, isto é , cada imagem de deusa ou deus é
guardada por um homem vestido de branco, que coloca um pó vermelho na testa da
gente. Fiz um turismo lindo por Mysore, perto daqui. Templos maravilhosos, prédios
de mil e uma noites...
Vocês deviam vir, escrevam para o embaixador da
Índia, é bem interessante um pouco de permanência aqui para a gente refletir e
ver coisas.
Os choques dão um grande aprendizado de vida e a
gente é constantemente despertada com o novo.
Ontem fiz tantos exercícios na minha yoga, que hoje
estou em casa de repouso.
Abração para vocês e para a Lula.
Helena
Resolvi fazer meus desenhos entrosarem com os deles.
*Fotos de arquivo
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segunda-feira, 7 de agosto de 2017
CARTAS DA ÍNDIA IV
Querida
filha,
Assistimos à escolha do papa. Foi tão comovente! Uma
lua vermelha subindo devagar, os cardeais também de vermelho e o papa sorridente,
de braços abertos parecendo abraçar o globo terrestre. Foi um choque, a escolha
do polonês, mas Maurício e eu vibramos de alegria. No meio da confusão uma
senhora velha desmaiou .
Houve gente em quantidade para socorrê-la. Ela na
maca, desmaiada, segurava a peruca e a bolsa. Achei engraçada a situação.
O lado bonito da hora,
a emoção do papa polonês, 300.000 pessoas olhando a Basílica de São Pedro, o
Espírito Santo descendo, a lua subindo vermelha e se tornando cada vez mais
branca no alto do céu, a cara dos italianos quando souberam do papa polonês, e a tal senhora desmaiada
segurando a peruca. Não é engraçado o mundo?
Tudo acontecendo ao mesmo tempo,
de uma só vez. Quando a gente não se envolve, curte tudo. A tática é ser
realmente parte do todo e às vezes se enxergar com os olhos dos outros, como
eles nos vêm. É bom porque os pontos de vistas são variados.
O Euler está feliz no quartinho e as opiniões variam
– os velhos morrem de pena dele e os novos morrem de inveja... Enquanto isto
ele está como quer, rede no quarto, geladeira embaixo, luzinha azul para
descansar a vista quando chega, independência.
Encontrei a casa do Retiro linda, toda arrumada e o
Euler tocando a Barrinha para a frente. Reformas na casa do Seu Antonio,
reformas na casa central que afundou o chão de cupim. Minhas rendas estão indo
todinhas para lá e eu, se quiser voltar à Índia, terei de ajuntar uns cobres.
Mas tenho a faca e o queijo na mão, é só pintar. Não vou fazer quantidades de
quadros, mas o que fizer cobro caro.
Abraços saudosos. Um beijo muito grande nos amigos
(mande endereços). Abração na Melodia, no Rubem – Sara, na Erika, na Jacy,
Norma, etc. Vou escrever ao Kalakshetra quando decidir a não ida em janeiro.
Deixo a vida resolver e é melhor.
De sua mãe,
Helena (Carta do Brasil para Eliana, que ficou na
Índia)
Fotos de arquivo e da internet
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terça-feira, 1 de agosto de 2017
70 ANOS DE CASADA
Ontem comemorei
Meus 95 anos
Com filhos
Netos
Bisnetos
Irmãos
Cunhados
Noras
Genros.
Quanta gente!
Muita gente
Que veio de
Um casamento.
Hoje
Completo
Setenta anos
De casada.
O Luiz já foi embora
Não está aqui para ver
Os seus netos
Bisnetos
Que encheram
A casa
Cantaram
Em português
Inglês
Italiano.
Os meninos de hoje
Aprendem depressa.
Me lembro de papai
Dizendo:
“O inglês é a língua
Do futuro.”
E todos nós aprendemos
Inglês.
O Luiz também
Mandou todos para
Cultura Inglesa.
Estou fugindo do assunto
Com esta história de língua.
Volto agora para o dia
Do meu casamento
Lá na Igreja de Santana.
Eu vestida de noiva
De braço dado com papai
O caminho até o altar
Parecia enorme.
Luiz vestido de noivo
Estava lindo!
Gente me abraçando
E me seguindo
Até o Castelinho
Onde eu morava
Na avenida Afonso Pena.
Comes e bebes
Doces e salgados.
Virei foco de atenção
Estava doida para acabar a festa.
Parentes vieram do Rio
Numa grande cadillac
Ocuparam nossa casa
Trouxeram filhos e babás.
Eu já arrumara a mala
Para a lua de mel
Quando vi o Luiz
Carregando uma mala pesadíssima.
“O que é que você está levando
Nesta mala tão pesada?”
Perguntei admirada.
São livros de medicina
Para estudar...
“É assim?”
Não tive dúvidas.
Já que você vai estudar
Espere um pouco
Vou buscar outra maleta
Com tintas
E pincéis.
Assim começou nossa vida
De casados
Desde a lua
de mel
Luiz estudando
E eu pintando
Ou desenhando.
Fomos passar um mês
No Rio de Janeiro.
Ali o Luiz participou
De um concurso
No IPASE.
Acabou perdendo...
Eu desenhei sem parar
Levava cadernos para
O Largo do Boticário
E ali desenhava.
Completei 2 cadernos
E pintei um quadro
Que mais tarde presenteei
Minha tia Lilita
Que me cedeu
O apartamento
Para passar a lua de mel.
Hoje este quadro está sumido
Gostaria de revê-lo.
Mas tenho a foto.
O quadro ganhou
Premio de menção honrosa
No Salão do Rio.
Com a morte da tia
Passou para suas netas
Que o transformaram
Em moeda...
Ele foi visto num antiquário
E nunca mais tive notícias.
Quem sabe eu coloco na internet?
A internet é um meio
De comunicação
Que aproxima povos
Culturas
Atravessa o tempo
No Eterno Agora.
Enfim a minha história
Já foi dita
Em 31 de julho de 1947
Eu me casei com o Luiz
Ele me ajudou
A crescer na arte.
Agora, cercada de filhos, netos e bisnetos
Estou soprando um bolo de velas.
Minha bisneta do Rio
Soprou as chamas da lareira
Como se fosse um imenso bolo.
Assim é a vida
Todos juntos, felizes, alegres
Criativos
Cada um na sua.
*Fotos de Maurício Andrés e de arquivo
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