As coisas se repetem na vida, é bom que prestemos
atenção nisto. São experiências com características semelhantes.
Foi em 1950, quando ganhei o prêmio de Isenção de
Júri no Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Estava com as malas prontas para a viagem, passagem
de avião na bolsa, quando papai veio me ver. Descera a rua Sta Rita bem cedo de
manhã para me aconselhar a não ir de avião.
“Tive um sonho horroroso com você, um desastre. Por
favor, troque a passagem não vá de avião.”
Naquele tempo, viajar de avião era considerado um
risco de vida.
“Mas, papai, já comprei a passagem”
“Não faz mal, eles podem trocar ou te dar o dinheiro
de volta, mas atenda o meu pedido, não vá de avião.”
“Está bem, vou providenciar uma passagem de trem”
Fui até a praça da Estação, consegui a passagem e
desisti de ir de avião.
No trem acomodei-me no beliche de cima, com minhas
malas aos meus pés: embaixo dormia uma senhora com uma criança de uns 5 anos.
O trem saíra de Belo Horizonte, passava pelos
subúrbios, as luzes da cidade iam diminuindo aos poucos, o embalo do trem
conduzia a um sono tranquilo. Estávamos no último carro e as curvas faziam as
malas deslizarem na cama em ritmo de percussão. Já estava dormindo o primeiro
sono, quando senti uma trepidação diferente, o corpo sacudido de todos os
lados, as malas caindo.
Barulho, choque, poeira, o teto balançava, rodava,
vidros se espatifando, escuridão, fumaça. Depois do choque maior, um silêncio
de morte. Será que morri?
Comecei a apalpar meus braços, pernas, para ver se
estava viva. Escuridão total, disparo do coração e a busca angustiante da vida
que poderia escapar.
Pensei comigo mesma – “estou viva, estou sentindo
dor no braço e muito peso nas pernas.
De repente o silêncio é rompido com o grito
histérico de uma mulher. O grito era tão assustador que eu quase morri de
susto. Mas pensei : “Se estou ouvindo é porque estou viva.
A criança embaixo chorava, a mãe se agarrava a ela
chorando no escuro, por cima das malas.
Em seguida, a voz do chefe do trem orientando os
acidentados:
“Não se assustem, o trem capotou, estamos com as
rodas para cima, mas graças a Deus, não rolamos no abismo.
“Deus ajudou, pensei, estamos salvos”
Sair do trem foi uma cena dantesca, saímos pelas
janelas, auxiliadas por um grupo de políticos que viajava no vagão da frente.
No escuro, pude escutar vozes conhecidas, o Dr
Franzen de Lima, que me socorreu, e o Dr Maurício Bicalho. Fomos levadas para o
vagão dos políticos e seguimos viagem aglomeradas, em cima de algumas malas. As
outras ficaram no vagão acidentado, para serem procuradas mais tarde. O médico
de bordo nos atendeu para os curativos. Felizmente ninguém morreu.
Ainda me foi possível chegar a tempo para a entrega
de prêmios, com o braço engessado.
O sonho de papai se realizou, mas a interpretação
que ele deu, não conferiu.
*Fotos da internet
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