segunda-feira, 29 de outubro de 2018


GRUPO GURDJIEFF DE BELO HORIZONTE


O Grupo Gurdjieff de Belo Horizonte se apresentou no sábado, dia 20 na Assembleia Legislativa. Neste lugar, onde se discutem problemas os mais variados, onde os conflitos surgem todos os dias, o grupo nos trouxe momentos de transcendência .

Gurdjieff foi um buscador que, na Europa atormentada por muitas guerras, foi encontrar a paz nos mosteiros gelados do Himalaia, e, aliou a antiga sabedoria do mundo com a sua grande intuição. Gurdjieff foi também um músico que uniu arte e espiritualidade num só contexto. Ele trouxe para o mundo ocidental o resultado de suas pesquisas. Naquela apresentação,  música, dança, meditação e autoconhecimento se harmonizaram, trazendo para a plateia momentos de rara beleza.

Durante o espetáculo, uma grande vibração de luz desceu sobre aquele recinto.
Vivemos constantemente realizando os opostos de guerra e paz, e a apresentação do grupo foi um convite a sentirmos todos juntos, músicos, dançarinos e plateia uma só e única vibração.

No início, os três músicos, Mauro Rodrigues, Artur Andrés e Alexandre Andrés, abriram o espetáculo com os sons de suas flautas e de outros instrumentos de sopro, tendo ao piano Regina Amaral. Ela desempenhou em seguida o papel de guia dos dançarinos, usando o ritmo do piano e sendo acompanhada por um tambor. Os dançarinos se apresentaram com grande disciplina, as mulheres, vestidas de túnicas brancas e os homens também com camisas brancas. Juntos realizaram naquele palco improvisado, uma grande manifestação de arte e espiritualidade.

Criar a paz num espaço de conflitos?
A proposta de Gurdjieff, no princípio do século XX, um século onde se deflagaram duas grandes guerras, se projetou pelo mundo e chegou até nós.
Há muito venho acompanhando os trabalhos deste grupo, que tem como sede um grande galpão na Fazenda das Macieiras. Ali eles se reúnem e exercitam os ritmos e a dança dos antigos derviches.

Quando fui visitá-los numa noite fria de julho, um pequeno grupo investigava as estrelas.
A apresentação na Assembleia trouxe para todos nós uma grande contribuição.
O grupo se encontra mensalmente na Fazenda das Macieiras e semanalmente numa casa em Santa Tereza, em Belo Horizonte. Nesses encontros eles praticam meditação, música, dança e estudam os ensinamentos de Gurdjieff.

*Fotos de Gabriel de Souza

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segunda-feira, 15 de outubro de 2018


D O I S P A I N É I S, D O I S D E S T I N O S


Hoje vou fazer uma comparação entre dois painéis, ambos criados no meu atelier no Retiro das Pedras. 
Cada um seguiu seu rumo. Um ficou no aeroporto e não viajou. O outro ficou em casa e correu o mundo.
Todos dois nasceram no Retiro, um deles, o mais antigo, de doze metros por dois e meio foi encomendado para o Aeroporto de Confins.
O outro, muito menor, ficou aqui no Retiro decorando minha sala.
O primeiro era importante, assistia ao desembarque dos viajantes.
O segundo esteve algum tempo no Cine Belas Artes, mas voltou para o Retiro.
Aqui está até hoje. Foi filmado e levado para o You Tube.
Hoje pode ser visto e escutado, pois ganhou música de Beethoven, “Color Sonata” ...
Agora o pobre coitado do mais velho encomendado para figurar no “desembarque internacional” ali permaneceu por algum tempo, vendo os turistas desembarcarem.
Viu gente abrindo as malas, mostrando as compras fora do Brasil....
Viu gente pagando impostos, gente assustada chegando.
O painel viu as pessoas, as pessoas não o viram. Que triste destino este de estar fiscalizando as malas, no Aeroporto Internacional.
Com a reforma do Aeroporto, o pior aconteceu. O painel que tinha 12 metros ficou reduzido a seis. Não se sabe o paradeiro das outras partes.
Triste sina, pobre painel, foi pintado no mesmo lugar deste outro que aqui está.
O maior, muito garboso, tinha tudo para brilhar, mas por pouco tempo pode ostentar sua grandeza...
Não ganhou música, nem viajou pelo mundo como seu irmão menor, mais simples e mais humilde.
Hoje Color Sonata, criado por João Diniz está viajando para qualquer lugar do mundo.
Através da internet, os dois painéis, que nasceram e foram criados no mesmo espaço, navegaram pelo mundo de forma bem diferente!
O que ficou em minha casa teve uma sorte melhor.

*Fotos de arquivo

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terça-feira, 9 de outubro de 2018


FRATERNIDADE SEM FRONTEIRAS


Recebi de minha sobrinha Regina Caram, o relato abaixo, de sua experiência recente como médica, nos acampamentos que recebem refugiados venezuelanos em Roraima.

“A Fraternidade sem Fronteiras (FSF) tem o objetivo de atender demandas sociais extremas, sem distinção de raça, cor, nacionalidade, tendência política ou religiosa.
Fiquei sabendo da existência desta organização no início de 2018, quando recebi um vídeo com o depoimento de uma médica sobre sua visita a um projeto da FSF na África. Músicas, depoimentos, pessoas de vários lugares do mundo que são assistidas. Como na África, por exemplo. A cada momento me sentia mais irmanada, mais UBUNTU (o que é meu, é seu, é nosso, é de todos).
Conversei com Alba (venezuelana) e Vanessa (Roraimense), que contaram sobre o “Brasil, um coração que acolhe”.

Já em casa, entrei no site para conhecer melhor a “Fraternidade sem fronteiras”. A organização se mantém graças ao apadrinhamento que as pessoas fazem para os projetos, recursos doados para um certo número de pessoas por um período determinado.

Soube de caravanas que partem para Roraima, a fim de dar assistência aos venezuelanos.

Saí de madrugada, peguei o avião em Confins e chagamos a Boa Vista no início da tarde. Apenas deixamos as malas no hotel e fomos para o Centro de Acolhimento da Fraternidade, bastante distante do Centro da Cidade. Atravessamos muitas ruas alagadas e, se não estivéssemos no caminhão do exército, a chegada teria sido bem mais difícil. Como levávamos muitas doações, as malas foram em outro caminhão.
O exército está apoiando os acampamentos oficiais, hoje 9, alguns mais tranquilos e outros mais agitados.
O da Fraternidade, segundo relatos, é o mais bem estruturado. Tem água, luz, cozinha, telhado, onde colocaram as 100 barracas doadas, uma por família. Os acolhidos fazem tudo, da limpeza à comida. E devem manter a ordem do lugar. Porém as pessoas ficam bastante ociosas, e é possível ocupá-las com as oficinas profissionalizantes.

Recebemos as boas vindas do Wagner (este ser de luz que resolveu dar uma passadinha pela terra) e dos acolhidos. Wagner fez uma mini palestra enfatizando a questão da Irmandade/ Fraternidade entre os homens. Explicou a filosofia UBUNTU, que pode ser resumida e exemplificada pela história de crianças que foram desafiadas a correrem para pegar um cesto com balas embaixo de uma árvore. Quem ganhasse a corrida, ganharia o cesto. Elas se deram as mãos, foram juntas e dividiram as balas.
Wagner começou a Fraternidade sem Fronteiras há 9 anos na África. Parece um gnomo, anda firme e calmamente, te olha nos olhos quando conversa, te acolhe de todas as formas e te chama pelo nome, que ele faz questão de perguntar quando não sabe. Tem 44 anos.

No primeiro dia de atendimento, numa coberta de madeira foram colocadas mesas e cada  ponta de mesa era um consultório. Pessoas faziam cadastro, outras triagem e nós éramos responsáveis pelas consultas médicas. Muitos casos de tristeza, angustia e ansiedade. Por falta de medicamentos utilizei técnicas de relaxamento, respiração e Thetahealing.

A maioria das pessoas deste centro tinham emprego e uma vida estável na Venezuela. Encontrei eletricistas, marceneiros, serralheiros, cozinheiros, recepcionista de hotel, jornalista. Cada acolhido daria um livro de histórias. Ficaram sem condições de sustentar a família e vieram para cá em busca de esperança. Imploram por serviço, querem sair de Boa Vista e entrar no mercado de trabalho. Muita tristeza e muito agradecimento.

No segundo dia fomos para um acampamento “não oficial”. É um local onde estão alojados cerca de 200 seres humanos tentando manter um mínimo de sua vida. Prédio público que estava vazio, foi ocupado por eles. Em cada cômodo se alojam 2 ou mais famílias com tudo o que conseguem ter. Não tem água nem luz. Como é muito escuro lá dentro, não conseguimos atender. Colocamos mesas de plástico fora da construção, debaixo de uma mangueira e foi lá que atendemos. Nossa sorte não ter chovido.

No terceiro dia, Wagner começou o dia dizendo que deveríamos “manter a nossa paz”, para conectar o tempo todo com afeto. Termos força para fazer o possível e o necessário. Fomos para as dependências de uma igreja, local que já foi um acampamento e que hoje fornece refeições para as pessoas que estão na rua. O atendimento foi muito intenso e pesado, cada história de cortar o coração. Muita criança desnutrida, homens desesperados, mulheres com problemas venéreos. Até malária. Atendia a queixa, dava um remédio para parasitas e dava um olhar. E uma escuta. Sei que deve ter sido pouco para as necessidades de cada um, mas muito para quem hoje não tem nada.

Doei meu tempo, meu afeto e, no entanto voltei mais rica para Belo Horizonte.
Sou privilegiada.”

*Fotos de arquivo

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terça-feira, 2 de outubro de 2018


GANESHPURI 1990 III


Dando continuidade ao meu relato sobre Ganeshpuri, transcrevo trecho do meu diário:

Sarees coloridos, flores, o sussurro das sedas desfilando, pés descalços tocando o mármore frio, cheiro de incenso...

O tempo não existe neste ashram.

Lavar a capela é um ritual reservado a pequenos grupos. As pratas têm de brilhar, sem a ajuda de líquidos apropriados, o chão deve estar limpo da sujeira dos devotos.
José, o jovem brasileiro do Rio, assim se refere à subida de Kundalini.

“A Shakti, quando desperta, vai nos tornando cada vez mais conscientes daquilo que precisamos para o nosso crescimento. É a forma direta de se quebrar o “Ego pensante”.
Facilita o trabalho de certo conhecimento, dá espaço para pesquisarmos nosso espaço interno, sem que as coisas exteriores nos afetem ou condicionem.

No momento, o meu objetivo é o descondicionamento, quebrar a mecanicidade, perceber a beleza do novo que surge a cada instante e desaparece para dar lugar a outro novo.

Viver no presente. Gurumai, com toda a tradição e beleza ritualística dos Siddas, possibilita a cada um seguir seu próprio caminho. Ela nos convida através do amor a conquistar nosso self (a luz interna).

No “Darshan” os devotos fazem fila e se prostram diante da jovem Swami – “O Deus em mim, saúda o Deus em ti”.

A reverência não se dirige à pessoa , mas ao seu Deus interno, acolhedor e generoso, sempre incentivando e despertando o Deus interno dos devotos.

A transmissão da energia espiritual pode ser feita através do toque do olhar, e da intenção de transmiti-la.

Neste século tumultuado por energias dualísticas, criando divisões, sectarismos e fronteiras, o toque de Kundalini é necessário. É este o real batismo pelo fogo. Não existe parada, você segue adiante, e sempre em frente.

A Shakti estabelece direções para cada um.

“See god in each other” – Com este título pintei um quadro para a escolinha do ashram. Duas crianças se olhando nos olhos e vendo o que Deus quer de cada um. Os caminhos da vida variam mas o encontro é o mesmo porque a luz interna de cada um é a mesma luz de todos.

*Fotos da internet

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