terça-feira, 4 de dezembro de 2018

NO CCBB/BH UM CONVITE: COM A PALAVRA MARIA HELENA ANDRÉS


Não tenho voz para o palco, falo baixo.

Mas Ivana lê o texto em voz alta.

Eu também escuto em silêncio.

Todos escutam o relato construtivo que se instalou no Brasil e no mundo na década de 50.

Década do pós-guerra, artistas perseguidos por canhões, bombas, ditaduras militares, exílios, imigrações.

A arte é o caminho escolhido para uma busca interior.

No silêncio de ateliês improvisados os artistas buscam a paz em seus trabalhos.

Falar em construtivismo é falar da busca de equilíbrio e harmonia interna que se exterioriza nas grandes mostras.

Há semelhanças formais e semelhanças espirituais, trazendo luz para o fato de sermos irmãos.

A atmosfera de violência esteve presente como nos dias de hoje.

Mas a paz interna sempre existiu e sempre existirá para aqueles que a buscam nos labirintos de sua própria interioridade.

Vamos percorrendo a exposição e parando diante de algumas obras.

Primeiro, Joaquim Torres Garcia, artista uruguaio que teve grande atuação na América Latina.
Estudou as semelhanças entre a arte construtiva e a cultura pré-colombiana.

Diante de uma pintura de Waldemar Cordeiro, do inicio de sua carreira, notei grande semelhança com as pinturas do nosso construtivismo em Minas.

Ivan Serpa está presente com uma tela de grande dimensão.
Ele foi considerado por Mário Pedrosa o papa do concretismo brasileiro.
Lembrei-me do fato ocorrido na década de 60, quando Serpa teve uma mudança radical apresentando trabalhos totalmente expressionistas.

Nós todos mudamos na mesma época, da disciplina do construtivismo para uma expressão artística mais livre.

Mira Schendel está presente nessa mostra com dois livros de artista: o primeiro envolto em plastiglás e o segundo feito em papel preto e branco.

 Anna Maria Maiolino  está expondo um livro de artista e ainda um objeto de papéis colocados em volumes superpostos, a semelhança de um palco todo em branco.
Hélio Oiticica apresenta na mostra apenas um Metaesquema, um desenho onde ele repete diversas formas negras sobre fundo sépia.

Lembramos de sua exposição no museu de Houston, onde ele ocupa uma sala/instalação com seus famosos Núcleos coloridos.

Lygia Clark com seus Bichos em alumínio, que a tornaram internacionalmente conhecida, pode ser apenas contemplada.
Sua proposta seria de participação do expectador, mas ali ninguém participou, pois embaixo havia uma advertência: “Proibido tocar na obra”.

Finalmente, fomos conduzidos para a sala/instalação de Lygia Pape, que de uma forma muito sensível alcançou a arte contemporânea com fios de cobre alinhados num espaço escuro, iluminados por um raio de luz.

Procuramos focalizar os artistas brasileiros presentes nessa Coleção de Ella Fontanals-Cisneros, que nos ofereceu a oportunidade de apreciar as obras geométricas latino-americanas através de uma exposição itinerante.

Saímos de lá conscientes da importância da apresentação das coleções internacionais para o publico brasileiro, que sempre nos proporcionam momentos de reflexão.

Parabéns aos organizadores do evento educativo no CCBB e aos curadores da mostra.

*Fotos de Walmir Góis

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