terça-feira, 19 de novembro de 2019

POSTES DE LUZ


Quando eu era menina, gostava de soltar papagaios na rua. Era um prazer vê-los subir, ganharem os céus, seguirem o vento, sustentarem-se no ar. Fazíamos nós mesmos os papagaios de papel de seda e a disputa entre os amigos era de ver quem chegava mais longe, mais perto do céu.

 Mas, os postes e fios elétricos significavam sempre a morte dos papagaios. Impossível salvá-los das correntes elétricas: também havia o perigo de puxá-los, restava apenas assistir à sua decomposição no tempo, as cores desbotando com a chuva, as caudas sendo arrancadas pelo vento. Este foi o meu primeiro contato com os postes da CEMIG. 

Depois eles voltaram insistentemente nos meus desenhos e assumindo significados diferentes de acordo com a época, e a vivência do momento.

Vieram de longe, acompanhando o meu caminho na arte. Significavam a cruz da Via Sacra, a forca de Tiradentes, a guilhotina da Revolução Francesa. Receberam cores nas Cidades Iluminadas e nos barcos, morreram na minha fase de Guerra.

Em outro painel, realizado para um grupo escolar no bairro Céu Azul em Belo Horizonte, os postes ganharam um significado lúdico. Transformaram-se em torres e castelos. Parecem pagodes chineses, lanternas iluminadas. 

As estórias da infância estão sempre exercendo um efeito mágico sobre minha arte. Relacionei o conteúdo do painel com as mil e uma noites e ele saiu espontâneo e descondicionado. Não existe separatividade entre o que ficou marcado na infância e o que estamos vivenciando no presente. Arte e vida estão ligadas no eterno agora.

*Fotos de arquivo

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