Quando eu era menina, gostava de soltar papagaios na
rua. Era um prazer vê-los subir, ganharem os céus, seguirem o vento,
sustentarem-se no ar. Fazíamos nós mesmos os papagaios de papel de seda e a
disputa entre os amigos era de ver quem chegava mais longe, mais perto do céu.
Mas, os postes e fios elétricos significavam sempre a morte dos papagaios.
Impossível salvá-los das correntes elétricas: também havia o perigo de
puxá-los, restava apenas assistir à sua decomposição no tempo, as cores
desbotando com a chuva, as caudas sendo arrancadas pelo vento. Este foi o meu
primeiro contato com os postes da CEMIG.
Depois eles voltaram insistentemente
nos meus desenhos e assumindo significados diferentes de acordo com a época, e
a vivência do momento.
Vieram de longe, acompanhando o meu caminho na arte.
Significavam a cruz da Via Sacra, a forca de Tiradentes, a guilhotina da
Revolução Francesa. Receberam cores nas Cidades Iluminadas e nos barcos,
morreram na minha fase de Guerra.
Em outro painel, realizado para um grupo escolar no
bairro Céu Azul em Belo Horizonte, os postes ganharam um significado lúdico.
Transformaram-se em torres e castelos. Parecem pagodes chineses, lanternas
iluminadas.
As estórias da infância estão sempre exercendo um efeito mágico
sobre minha arte. Relacionei o conteúdo do painel com as mil e uma noites e ele
saiu espontâneo e descondicionado. Não existe separatividade entre o que ficou
marcado na infância e o que estamos vivenciando no presente. Arte e vida estão
ligadas no eterno agora.
*Fotos de arquivo
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