Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
quarta-feira, 25 de março de 2020
TIO PETRÔNIO
Lembro-me de Tio Petrônio
como um grande incentivador do lúdico nas crianças. Levava os sobrinhos para o
parque de diversões e os colocava nas rodas gigantes, montanhas russas, trens
fantasmas, carrinhos que se entrechocavam aos gritos da criançada. Ele queria
que os filhos se juntassem aos primos naquele desafio de emoções que um parque
proporciona. Nos intervalos, comprava pipoca para a criançada. Seus filhos,
apesar de mais novos, eram nossos companheiros dentro daquela alegria de
enfrentar o inesperado. Aquilo, de certo modo, era também um preparo para
enfrentarmos os choques da vida.
Quando chegava em casa eu
ficava pensando: Que bom ter um padrinho
assim tão legal, que nos leva para as diversões consideradas perigosas. A
queda no abismo da montanha russa até hoje me ecoa como uma única massa sonora,
um grito só. Atravessar este abismo é um choque que às vezes teremos de enfrentar
na vida, o importante é não ter medo. Com esse treinamento perdíamos o medo.
Das memórias mais antigas de
tio Petrônio, guardei reflexões sobre suas aventuras na construção de estradas,
chegando em casa exausto e coberto de poeira. Às vezes eu o via chegar cansado
e pensava comigo mesma: Engenharia é uma
profissão muito cansativa, diferente das outras profissões, em que as pessoas
ficam sentadas. O construtor de estradas tem de enfrentar cobras, onças, dormir
em barracas,conquistar o sertão. Aquilo também era um desafio, e bem que ele
merecia brincar com as crianças nos parques de diversão.
Tio Petrônio foi pioneiro das
caminhadas. Caminhava diariamente do Leme até o Leblon, tirando o chapéu para
todos os amigos e transeuntes.
Ele conseguiu, através de
muito esforço, o seu direito de viver confortavelmente no alto do seu
apartamento em Copacabana.Construiu vários prédios e tornou-se piloto de barcos
e aviões.
Continuou como sempre foi,
uma pessoa generosa, distribuindo o lúdico para os amigos. Convidava os jovens
mais aventureiros a voar no seu teco-teco. Fazíamos fila para ter o privilégio
de voar, atravessar a baía da Guanabara e sobrevoar as montanhas do Rio. Ali
também ele nos proporcionava uma lição de vida.
Estou vendo o Cristo de cabeça para baixo!
“Somos nós que estamos de cabeça para baixo!”
Assim, ele nos dava coragem
para enfrentar as dificuldades. Confesso que aprendi muito com este tio
destemido e corajoso, um verdadeiro mestre!
Com este treinamento, feito
na juventude, eu me preparei para enfrentar o que a vida
me proporcionou.
*FOTOS DE ARQUIVO E DA
INTERNET
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segunda-feira, 9 de março de 2020
SRI AUROBINDO, IDÉIAS SOBRE EDUCAÇÃO II
Visitando o Ashram de Sri Aurobindo em Pondicherry,
anotei algumas ideias básicas sobre Educação, que relato abaixo.
A educação para o futuro tem pontos muito bons no
que se refere ao desenvolvimento do indivíduo de forma global. As crianças,
realmente, são privilegiadas, recebem uma educação superior. Um dos pontos mais
positivos é a preocupação constante com o ser interno, a parte divina de todo
ser humano. Este Divino sem imagens, puramente espiritual, é invocado em todas
as horas do dia. Palavras de Sri Aurobindo e da Mãe são colocadas nas paredes,
lembrando a presença de Deus em nós. No refeitório as pessoas se assentam no
chão, sobre esteiras, ou nos bancos em frente a mesinhas. É o lugar de encontro
da comunidade, já que ninguém se preocupa em ter cozinha em casa. Há cartazes
por toda parte: “Ofereça sua refeição ao Divino”. Antes de comer as pessoas se
concentram. Há uma multidão de bicicletas e uma multidão de sandálias. Há pés
descalços, gente de branco, gente calada, comendo. Gente do mundo inteiro. Cada
um lava o seu prato e joga os restos no lixo para serem reciclados. Há também
um dispensário que ajuda as famílias pobres.
Estava na hora do lanche e as crianças vieram tomar
um caldo de verduras muito saboroso, oferecido em canecas de aço inoxidável.
Tudo em comum, merendas iguais, livros fornecidos pela biblioteca.
Depois que estudam, devolvem. A criança experimenta
tudo e é ajudada no que necessita. Há professores para as matérias e outros
para orientar nos deveres de casa.
As crianças ajudam a fazer
os jardins. As salas são arejadas, dando para o pátio. Passamos por um salão
enorme onde vários grupos estudavam, com tapete no chão para o trabalho de
corpo. O trabalho com o corpo é dado como forma de conhecimento e aprendizado:
dança, esporte, ginástica, boxe. O esporte chega até a idade mais avançada.
Outro dia no pátio do playground vimos pessoas idosas de short, pulando e
marchando.
A professora de línguas do Ashram, fala 12 línguas e
ensina francês, alemão e inglês. Aprendeu na escola do Ashram, de acordo com os
ensinamentos de Sri Aurobindo e da Mãe, procurando despertar seu potencial em
todos os sentidos – físico, artístico, mental, espiritual. Seu depoimento é de
uma pessoa que tem vivência de muitos anos no Ashram. Começou a estudar em
1944, um ano depois da fundação da escola.
A educação física também é ensinada com a mesma
finalidade de preparar o corpo para a transformação que virá com a descida do
Supramental. Aprende-se ginástica, natação, vôlei, boxe, futebol, esgrima,
lançamento de discos, judô, yoga e luta livre. A agilidade e a atenção são
desenvolvidas na prática do esporte. Dentro desta formação global, Sri
Aurobindo e a Mãe não descuidaram de nada. Deram ênfase a uma preparação para o
futuro, visando equilibrar a criança, física, emocional e mentalmente. Somente
a partir deste equilíbrio corpo, mente e emoções, o Supramental poderia se
completar com perfeição.
A professora é jovem, veste-se com discrição e mora
sozinha num apartamento que a Mãe lhe destinou. Aprendeu a tocar a citara,
dança indiana, teatro e agora é professora do Ashram. Desenvolveu todo o seu
potencial, sem deixar nada para trás. É tranquila, realizada e se dedica
inteiramente à sua profissão de educadora, despertando novas crianças para o
aprendizado.
*FOTOS DA INTERNET
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segunda-feira, 2 de março de 2020
SRI AUROBINDO, IDEIAS SOBRE EDUCAÇÃO
Encontrei nos meus arquivos um texto sobre as ideias
de Sri Aurobindo relacionadas à educação. Transcrevo abaixo alguns trechos.
O primeiro princípio de um ensinamento verdadeiro é
que nada pode ser ensinado. O professor não é um mestre de obras, mas o
ajudante e o guia. Sua tarefa é sugerir e não impor. Não procura treinar a
mente do aluno, mas somente mostrar-lhe como aperfeiçoar seus instrumentos de
conhecimento, ajudá-lo e encorajá-lo neste processo. Não lhe comunica o
conhecimento, mas ajuda-o a adquiri-lo por si próprio. Não força ao
conhecimento interno, mas somente indica onde ele se encontra e como habituá-lo
a vir à superfície.
O segundo princípio é que a mente deve ser ouvida em
sua profundidade. A criança não deve ser formada no mesmo padrão do pai ou
professor. É o próprio indivíduo que deve ser induzido a uma expansão de acordo
com sua própria natureza. Segundo ele, cada um de nós tem dentro de si uma
parte divina, uma tendência espontânea e natural para a perfeição. A tarefa é
descobrir qual é esta tendência, desenvolvê-la e usá-la. A principal tarefa da
educação deveria ser ajudar a alma a extrair de si mesma o que tem de melhor e
tornar isto perfeito para um nobre uso.
A ideia de Sri Aurobindo é não forçar a natureza a
abandonar seu próprio caminho. Somente assim, o indivíduo poderá se desenvolver
e se tornar um ser humano perfeito. Qualquer pressão de fora neste sentido reduz
as possibilidades do indivíduo, conduzindo-o à mediocridade.
O terceiro princípio da educação é partir do que
está perto para o que está longe, do que é, ao que deveria ser. Sri Aurobindo
considera o ser humano em sua natureza, independente das circunstâncias do meio
ambiente, do país ou de raça a que pertence. Obrigá-lo a moldar-se aos padrões
de um regionalismo, sem aceitar a manifestação espontânea de um universalismo
seria também fatal para a expansão do ser. “Há almas que naturalmente se
revoltam contra o seu meio e parecem pertencer a uma outra idade ou clima.”
As ideias de Sri Aurobindo foram inspiradas na
Unidade Planetária. Para isto ele se recolheu a Pondichery durante 20 anos, sem
sair do prédio onde mais tarde morreu. Vivia em contato direto com sua intuição
criadora a fonte do conhecimento, ou o supramental, como focalizou em vários
dos seus escritos. Todo o seu processo educativo baseia-se no aperfeiçoamento
do indivíduo, na descoberta de seus próprios recursos e na entrega absoluta ao
ser divino que habita dentro de cada um de nós. O homem, segundo ele, passará
da situação atual ainda imperfeita, para um grau de perfeição nunca antes
atingido na terra. Suas ideias sobre a evolução do mundo lembram as ideias
evolucionistas de Teillard de Chardin, o grande pensador católico.
As ideias de Sri Aurobindo sobre educação, lembram a
espontaneidade do ensino de Guignard. Procurar antes de tudo o que temos
naturalmente dentro de nós para depois desenvolver a partir da essência de cada
um. Educação também é uma arte, independente de se usar materiais artísticos,
fazer exposições, participar de conjuntos musicais, teatros, danças. Educação é
uma arte por si mesma. É a descoberta e o aperfeiçoamento do ser interno do
homem. Sri Aurobindo foi um dos maiores pensadores da Índia e suas ideias estão
sendo colocadas como inspiração para várias escolas, dentro e fora daquele
país.
*Fotos da internet
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