quarta-feira, 25 de março de 2020

TIO PETRÔNIO

Lembro-me de Tio Petrônio como um grande incentivador do lúdico nas crianças. Levava os sobrinhos para o parque de diversões e os colocava nas rodas gigantes, montanhas russas, trens fantasmas, carrinhos que se entrechocavam aos gritos da criançada. Ele queria que os filhos se juntassem aos primos naquele desafio de emoções que um parque proporciona. Nos intervalos, comprava pipoca para a criançada. Seus filhos, apesar de mais novos, eram nossos companheiros dentro daquela alegria de enfrentar o inesperado. Aquilo, de certo modo, era também um preparo para enfrentarmos os choques da vida.


Quando chegava em casa eu ficava pensando: Que bom ter um padrinho assim tão legal, que nos leva para as diversões consideradas perigosas. A queda no abismo da montanha russa até hoje me ecoa como uma única massa sonora, um grito só. Atravessar este abismo é um choque que às vezes teremos de enfrentar na vida, o importante é não ter medo. Com esse treinamento perdíamos o medo.

Das memórias mais antigas de tio Petrônio, guardei reflexões sobre suas aventuras na construção de estradas, chegando em casa exausto e coberto de poeira. Às vezes eu o via chegar cansado e pensava comigo mesma: Engenharia é uma profissão muito cansativa, diferente das outras profissões, em que as pessoas ficam sentadas. O construtor de estradas tem de enfrentar cobras, onças, dormir em barracas,conquistar o sertão. Aquilo também era um desafio, e bem que ele merecia brincar com as crianças nos parques de diversão.

Tio Petrônio foi pioneiro das caminhadas. Caminhava diariamente do Leme até o Leblon, tirando o chapéu para todos os amigos e transeuntes.
Ele conseguiu, através de muito esforço, o seu direito de viver confortavelmente no alto do seu apartamento em Copacabana.Construiu vários prédios e tornou-se piloto de barcos e aviões.

Continuou como sempre foi, uma pessoa generosa, distribuindo o lúdico para os amigos. Convidava os jovens mais aventureiros a voar no seu teco-teco. Fazíamos fila para ter o privilégio de voar, atravessar a baía da Guanabara e sobrevoar as montanhas do Rio. Ali também ele nos proporcionava uma lição de vida.

Estou vendo o Cristo de cabeça para baixo!

“Somos nós que estamos de cabeça para baixo!”

Assim, ele nos dava coragem para enfrentar as dificuldades. Confesso que aprendi muito com este tio destemido e corajoso, um verdadeiro mestre!
Com este treinamento, feito na juventude, eu me preparei para enfrentar o que a vida me proporcionou.

*FOTOS DE ARQUIVO E DA INTERNET

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