sábado, 9 de janeiro de 2021

DE FRENTE PARA AS MONTANHAS

 Não saio mais  de casa.

A minha casa

Se  estende pelo vale

Do Paraopeba.

Lá embaixo,

Naquela montanha azul,

Está Brumadinho.

Escondida

No meio das  nuvens.

Somos vizinhos,

Somos irmãos.

O céu é o mesmo.

E o mesmo manto verde,

Se estendendo

Como uma capa protetora.

Brumadinho sofreu,

E sofremos juntos.

As montanhas vão perdendo

O contorno.

Recortadas,

Mutiladas,

Transformadas

Pela ganância do ferro

Este minério bruto,

Encravado no chão.

O ferro segue

Para longe,

Carregado em caminhões.

Toma trens,

Toma navios,

E vai parar

Lá na Europa,

Onde vira Carro,

Computador,

Geladeira,

Celular,

Televisão.

Um pouco do ferro

Ficou aqui

Onde estou sentada.

Bem atrás de mim,

Olhando para Brumadinho

E as montanhas.

Virou escultura,

Mas é um desenho no espaço.

No vazio do desenho,

Eu entro de corpo inteiro.

Abraço minha escultura,

Que medita o tempo todo,

De frente para  as montanhas.

*FOTOS DE IVANA ANDRÉS

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