A exposição Linha e Gesto realizada no Palácio das Artes entre dezembro de 2009 e fevereiro de 2010 motivou reflexões sobre seu conteúdo e dinâmica.
O passado foi a energia propulsora da qual se foi construindo o futuro. Foi necessário desconstruir o passado para criar o caminho do presente e do futuro. A fase de guerra foi decisiva. Ali foram quebrados os condicionamentos, as estruturas se despedaçaram e começaram as releituras. De um lado, a via sacra. Do outro lado, os boizinhos.
Registros de uma época feliz, estável, família crescendo, o marido dando força para seguir o caminho. Desenhos pequenos, lembranças. No meio do biombo, o túnel do tempo permite ver ao fundo as esculturas de ferro. O presente veio do passado. Ao centro, as cidades iluminadas brilham na noite. Casas, janela, luzes que se acendem, luzes que se apagam. Voltar ao passado? Impossível.
Uma voz interna me diz: Não detenha o rio. Ele segue o curso natural das águas e um dia se joga no mar. Muitas estórias são vivenciadas no curso do rio. Elas nos contam segredos que nunca serão revelados, mas fazem parte da vida, do dia, da noite, das manhãs, dos poentes. As lembranças dão vida ao agora porque só ele existe. Seguir a meta dos jovens. Entusiasmo, alegria, ação. Os valores são outros quando escutamos os jovens. Eles vêem a arte como um todo, não separam. O século XXI é o século da unidade e não da separatividade. Ver a exposição como um todo, um caminho, um túnel do tempo que se prolonga no espaço.
A exposição mostra meu caminho, que é também o caminho de minha vida, cheio de mudanças. O ponto de mutação energético. Se não enxergamos a ordem interna de mudança, ficamos parados no tempo e sofremos. A ordem não vem de fora, é uma exigência de nosso ser interno.
Os curadores escolheram duas vertentes significativas do meu itinerário de arte, dois caminhos aparentemente opostos, mas que se completam. Ambos buscam alcançar o essencial através da criação artística e posso visualizar claramente o caminho da linha e o caminho do gesto e a sua transformação no tempo.
A linha do tempo me ajudou a ver mais claramente os caminhos por onde passei em ordem cronológica. Para realizar a linha do tempo, Eliana pesquisou documentos antigos guardados nas gavetas da memória. Abriu pastas e papéis amarelecidos e até as artistas de cinema apareceram documentando a minha adolescência de 14 anos. Desde então, meu caminho estava traçado.
Vídeos foram editados, depoimentos de vida, o refugio nas montanhas, passarinhos cantando. Terra, água, fogo, ar e éter registraram minha passagem por caminhos diversificados. O passado foi surgindo no meio de livros, documentos, falas. Surgiu devagar, registrado com muito amor e paciência. As pessoas paravam para ver os livros e as minhas viagens à Índia filmados por Maurício em 2007.
Tudo se tornou interessante e vivo, porque foi um registro de experiências. A linha continua foi sempre lembrada. “Partir de um ponto e voltar ao ponto inicial”
Na arte e na vida as coisas se assemelham. No momento, faço releituras do que foi feito nas décadas de 50 e 60. Na década de 50, o construtivismo; na década de 60 o gestual.
O construtivismo gerou esculturas geométricas, o gestual gerou esculturas orgânicas. O caminho foi registrado de forma clara.
Partir do individual para o coletivo, do pequeno para o grande, de Minas Gerais para o mundo. Depois,voltar à terra e ver que as montanhas estão indo embora, de trem de ferro e navio para outras terras distantes. O depoimento sobre a serra da Calçada também foi apresentado em vídeo: lembrei das fases da exploração de nossas riquezas minerais. O ciclo do ouro e agora o ciclo do ferro, assustadoramente devorador! Tudo isso foi visto e provocou reflexões, numa forma interativa e dinâmica. “Onde fica essa Serra da Calçada? Vou fazer o mesmo movimento de proteção lá no Maranhão” Outro visitante se encanta com a Índia. “Sou discípulo de Sai Baba, um dia ainda chego também à Índia.”
As crianças se interessaram, participaram de uma oficina dirigida por Isaura Pena e tiveram a alegria de ver seus trabalhos também expostos nos biombos. Depois vieram as intervenções. No principio achei estranha a ideia, pois nunca tinha visto isso em nenhum lugar do mundo. Curadores, artista e colecionadores, teriam de ver seus trabalhos sempre mudando de lugar. Ótima ideia para treinar o desapego.
Do lado de fora, os nomes dos interventores – Marília e Roberto foram os primeiros, fizeram uma instalação baseada na historia, já que Marília é historiadora. Juntos, organizaram o primeiro módulo, que durou um mês.
Ficou linda, muito clara, incisiva, mostrando o inicio do processo e a direção para as esculturas geométricas e orgânicas. Já estávamos todos acostumados àquela disposição dos quadros e esculturas, quando numa segunda feira, tudo mudou e na terça feira já estava instalada uma nova versão, dessa vez entregue a dois curadores.
A nova curadoria mudou tudo de lugar de um dia para o outro.Tivemos de desapegar do passado,e enxergar o novo, naquele momento entregue a dois arquitetos jovens .A visão do todo foi dividida em compartimentos bem definidos.Perdeu-se a visão da mostra como uma linha direta que conduzia o olhar para o objetivo final e mostrava que tudo o que começou nas décadas de 50 60 está tendo uma releitura agora, a partir da virada do século .Os quadros passaram a ser vistos de outra forma, independentes de um roteiro cronológico e as esculturas tiveram destaque colocadas à entrada da galeria.
*FOTOS DE MAURÍCIO ANDRÉS RIBEIRO
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG, “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário