No dia 3 de maio último, o meu marido, Luiz Andrés completaria 100 anos. Escrevi para ele a carta abaixo,que transcrevo aqui:
Luiz,
Você acreditava na arte como um caminho de
desenvolvimento humano e incentivou nossos filhos nesse sentido. Quando você
deixou este planeta, o Artur tinha 18 anos, entrava para a Escola de Música e você
o incentivou dando-lhe um piano de presente. Ele se tornou um grande flautista
e compositor de nível internacional.
Maurício dedicou-se a uma pesquisa na Índia, um
estudo comparativo entre aquele país e o Brasil. Tornou-se um grande
ambientalista, referência para os mais jovens.
Marília é hoje conhecida como historiadora,
curadora, crítica de arte e dirige o IMHA,
Instituto que leva o meu nome. Ivana dedicou-se a uma diversidade de caminhos na arte:
desenhista, atriz e cantora. É reconhecida como poeta, integrando um grupo de
poetas latino-americanos.
Eliana é professora de ioga, tendo me acompanhado em
várias viagens para a Índia. È a guardiã do meu arquivo e tem participado de
vários trabalhos junto comigo.
Euler é um artista da terra, durante muito tempo
dedicou-se ao cultivo de verduras orgânicas e hoje trabalha na fabricação de
deliciosos queijos especiais.
Os sonhos não
acabam, mas se prolongam na memória do tempo.
O tempo se encarrega de realizar nossos sonhos e
projetá-los para o futuro. Nós somos o passado, nossos filhos, netos e bisnetos
são o futuro.
Hoje, na comemoração dos seus 100 anos, vou falar também
dos nossos netos e bisnetos.
Luiz, aqui estão eles, prolongando nossos sonhos e
dando-lhes vida longa.
Nossos netos foram meus incentivadores. A energia deles
prolongou aquilo que plantamos como semente. Aos poucos vou percebendo esse
prolongamento.
Joaquim, nosso
primeiro neto, é um atleta de natação e foi por meio da natação que conseguiu
bolsa de estudos para estudar em Harvard.
Eu assisti à sua formatura. Foi uma festa diferente das nossas. Ao ar
livre, nos imensos gramados da universidade, com banda de música e mesinhas
onde serviam coca cola e sanduíche dentro de uma caixinha de papelão. Hoje Joaquim
tem sua própria empresa, no Rio de Janeiro, com muito sucesso.
Luiz, nosso neto, é um economista, professor,
pesquisador e trabalha no IBGE, no Rio de Janeiro. Com grande conhecimento de
informática, ele digitou o meu livro Encontro
com os mestres no Oriente.
Teresa é nutricionista e trabalha com crianças numa
escola antroposófica. Ela me presenteou com um fogão de papelão que servia para
cozinhar feijão com a energia solar. Coloquei-o no porta-malas do meu carro,
virado para o sol da manhã. Deixei algumas horas e o feijão cozinhou mesmo!
Roberto é arquiteto, urbanista, professor da UFMG,
foi o idealizador do IMHA e, junto com Teresa, criou o Ponto de Cultura em Entre
Rios de Minas. Dali surgiram artistas, músicos e professores. Alexandre, prolongando a flauta do Artur, faz sua
música ecoar pelo Retiro e pelas veredas do Campo das Vertentes. Hoje é músico,
compositor e produtor musical. Construiu um estúdio para produção de cds nos
terrenos da Fazenda das Macieiras. Às vezes, nesta pandemia, ele vem tocar para
mim. Senta no banquinho do gramado e homenageia a avó, que está de quarentena.
As esculturas
também não surgiram do nada, mas de Elena, uma arquiteta criativa que estava
estudando o 3D em aulas de arquitetura. Eu observava aquela magia de
transformar o bidimensional em tridimensional e dos meus desenhos surgiu a
ideia das esculturas. Manuel é um designer de propaganda e produziu vários
vídeos interessantes para diferentes empresas. Hoje ele é diretor de uma
agencia de publicidade.
Davi fez intercâmbio na Tailândia, onde teve acesso
aos costumes orientais. Formado em administração e relações internacionais,
falando fluentemente o inglês, com muito poder de comunicação, dedicou-se à
venda de aviões de pequeno porte...
Francisca é diretora do JACA, um grupo de
intercâmbio cultural e residência artística, que atua no Brasil e no exterior.
Hoje ela está na fazenda, incentivando os filhos a terem uma vida alternativa.
f
Alice trabalha na educação e hoje ela está cuidando
de nossa casa na fazenda. Ela está estimulando as crianças à criação de um
painel coletivo numa das paredes externa da nossa casa em Luiziânia.
Joana foi a única que seguiu o seu caminho. Hoje é
uma profissional de saúde e presta relevantes serviços na área. Nessa época de
pandemia ela está sempre disponível para ajudar a todos da família.
Os netos são mais inventivos do que nós.
Agora,vou
falar um pouco sobre os outros netos, que também vieram trazer alegria à nossa
família.
São eles:
José, filho
de Manuel e Cristina, que sempre está presente nos eventos da família. José
viajou pelo mundo, conhecendo outros povos e ampliando novos conhecimentos à
sua formação. Já esteve na Alemanha e está agora em Torgau, na Saxônia. O
intercâmbio cultural é uma extensão da arte de viver, tornando os jovens
cidadãos do mundo.
Também
incluo o Henrique, filho de Luciano e Ivana, muito amigo nosso. Ele se
aprofundou na leitura do Tarô, e pratica essa forma de conhecimento e arte, não
só presencialmente, mas também através da internet.
Agora irei falar dos nossos bisnetos.
Assisti a uma aula on-line proferida por meu bisneto
Otto, de apenas 10 anos de idade, uma aula sobre biomas e ecossistemas, como um
prolongamento das pesquisas do Maurício.
Tudo vai surgindo como um sonho. A própria vida se
encarrega desta transformação e, no sorriso dos netos e bisnetos, assistimos à
alegria que a criatividade proporciona aos seus criadores.
Observar o movimento da vida é a tarefa que agora
recebi como uma dádiva vinda do cosmos. Não somos donos de nada, apenas
observamos e criamos!
Dentro dessas lembranças vejo Sofia e Rafaela, filhas
de Joana e Carlos, cantando ao microfone num
aniversário de criança. Vejo também um vídeo de Clarice, a primeira
bisneta carioca, dançando dança indiana.
Em outro vídeo, Lorenzo, bisneto paulista, dança ao
som dos beatles e marca o compasso com as mãos.
Essas lembranças me passam como um filme. Agora, assisto
a criançada pintando quadros, tanto na fazenda quanto no Rio e no Retiro das
Pedras..
Vejo Cora e Cecília, sujas de tinta, na fazenda em
Entre Rios de Minas e Luisa e Gabriel no alto das montanhas do Rio, criando
grandes quadros.
Luiza quer ser artista e, desde cedo, armava um cavalete na
Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, para ali pintar ao ar livre.
Pedro, Olívia, Rosa Maria, Antônia, Gabriel e Vitor
me presentearam com um lindo calendário de pássaros do Brasil. Uma jóia que
muito me emocionou. Este calendário de pássaros está agora em frente à minha
mesa de jantar.
Num vídeo da Rede Globo, feito pelo Manuel,
contracenaram Euler e Olivia, na fazenda da Barrinha, mostrando o valor do
produtor rural em Minas! Até na Globo chegaram os nossos bisnetos artistas!
Rosa Maria canta muito bem. Logo depois de um
concerto que Alexandre deu em nosso jardim, Rosa Maria surpreendeu a todos
quando começou a cantar e a tocar flauta. Sua voz, muito afinada, conseguiu chamar
os passarinhos. Eles escutaram com alegria o seu canto e a sua flauta
Lembro-me do Pedrinho, muito afetivo, correndo para
me abraçar. Olhei o menino de perto e o achei muito parecido com você, Luiz.As lembranças vão chegando, todos se alegram quando
eu lhes dou material de pintura e a Antônia não gosta de papel pequeno. Ela é
muralista dos grandes espaços.
Gabriel, filho da Chica e do Ricardo, já está
grande, gosta de acompanhar o pai na represa, é contemplativo e concentrado no
trabalho, enquanto Vitor, muito ativo, se aventura na conquista do
desconhecido.
Nossos bisnetos, em breve, irão participar de um
grande painel coletivo a ser realizado na nossa casa da fazenda Luiziânia, onde
criei meu ateliê rural.
Há três meses nasceu Joaquim, o nosso bisneto mais
jovem, filho da Chica e do Ricardo. Vamos ver qual das
artes ele vai escolher...
Aos poucos, o
espaço vai sendo preenchido com espontaneidade e arte.
Criar livremente é a proposta das crianças que, com
grande entusiasmo, vão produzindo outras formas e outras cores...
Assim a vida vai se desenvolvendo ao longo do tempo.
*Fotos de arquivo
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ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.