sábado, 29 de maio de 2021

QUARENTENA NA ÍNDIA

 

Era a primeira vez que eu entrava na Índia pelo aeroporto de Bombaim, hoje denominado Mumbai. Acompanhava-me uma amiga da Ivana, Beth Cavalcanti, que desejava conhecer aquele país com alguém que tivesse experiência da língua e dos costumes.

Tudo me parecia normal, quando ouvi a voz da Beth gritando:

“Fica comigo, Maria Helena! Não me deixe sozinha!”

Eu ainda não percebera que haviam separado a Beth de mim e ela apelava para que eu a ajudasse.

Fui informada que Beth não poderia entrar na Índia sem a vacina da Febre Amarela.

“Espera aí, Beth, eu vou com você.”

Em frente, um grande painel mostrava o Mapa Mundi e alguns países banhados com tinta amarela.

Explicaram-me que o Brasil estava incluído e que a Beth não havia tomado a vacina contra a doença.

“Ninguém entra na Índia sem que o seu passaporte comprove a vacinação. Quem não foi vacinado tem de ficar de quarentena no hospital próximo ao aeroporto.

Acompanhei  Beth sem hesitar um momento. Eu também ficaria de quarentena com ela.Chegamos ao nosso quarto do hospital de quarentena. Tudo arrumado para alojar 3 pessoas, 3 viajantes exaustos.

Eu e Beth não esperamos segunda ordem. Deitamos cada uma em seu catre de hotel de emergência. Dormimos. Quando acordamos, uma outra viajante ali estava, ao nosso lado, sem trocar a roupa de viagem nem tirar os sapatos de bico fino.

“Vocês dormiram demais, devem ter tomado algum calmante para dormir”.

Abri os olhos e reparei melhor a nossa vizinha. Ela estava horrorizada e revoltada.

“Estamos aqui porque  não tomamos a vacina e eles não querem que a febre amarela entre no país....”

Eu tentei convencê-la, mas ela não concordou.

“Não adianta discutir nem chamar a Embaixada do Brasil. Eles não deixam entrar no país sem vacina!”

A viajante era uma carioca, dona de boutique e estava com 3 malas para comprar roupas e bijuterias na Índia.

Mas, assim como chegou, voltou. Ligou para o aeroporto e voltou para o Brasil no primeiro voo.

Nós duas continuamos no isolamento.

A sala de almoço era um refeitório onde se reuniam pessoas de diversos países do mundo, retirantes do mesmo infortúnio ou da mesma ignorância.

Tinham em comum o fato incontestável: eles não estavam vacinados e isto poderia ser comprovado no passaporte!

Muitas pessoas choravam, outras rezavam.

Tive pena de uma família que iria participar de um casamento. Compraram roupas novas, levavam presentes. Mas, devido ao descuido de não terem tomado a vacina, ficaram no isolamento.

Foi quando eu combinei com Beth de fazer aulas de criatividade com aquele grupo tão desolado.

Distribuímos papeis, lápis, canetas para eles desenharem um casamento na Índia, já que não poderiam participar.

As aulas se estenderam nos dias seguintes com a participação até dos guardas.

Fizemos danças, imitando uma variedade de bichos, cachorros, gatos, pássaros, cisnes, elefantes, onças, leões...

Com a participação coletiva nos eventos criativos, todos se acalmaram.

Os dias se tornaram mais curtos e leves!

E foi assim que entramos na Índia depois de uma semana de isolamento! 

*FOTOS DA INTERNET

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