sábado, 13 de novembro de 2021

JEQUITINHONHA VIII



O sertão é um pouco de nós mesmos,

A infância perdida na distância.



É a manga madurinha

Dependurada no pé,

Jabuticaba dando

A árvore coberta

Dos pés à cabeça

De frutos pretinhos

Bem brasileiros.

Galo cantando de madrugada,

Rompendo o silêncio da noite

E abrindo os passos

De um outro concerto

Cujos componentes

Se escondem sob as folhagens

Das árvores.

Ouvimos o som, sem ver o maestro.

Leite fresco, de vaca ou de cabra,

Carne seca no almoço

Muita pimenta.

Gente vai cedo para fora de casa

Sentados de cócoras,

Conversando.

O calor é escaldante

Feito a Índia.



De 10 da manhã

Às 4 da tarde.

Não se faz nada

Porque o sol,

O grande rei,

Não deixa.

A água é pouca.



Sertão,

Baixa quente

Cor do povo

É cor de barro

Barro em forma de gente

Gente em forma de barro.



Só os potes

Grandes

No chão

Refrescam

A água

E a sede.

Barco deitado

No céu do forno.

O céu do forno

Tem dois furos

Por onde passa o

Calor.

E o barco

Toma cores

Diferentes.

Fica preto,

Fica vermelho.


*ILUSTRAÇÕES DE MARIA HELENA ANDRÉS

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