sexta-feira, 30 de março de 2012

LEMBRANÇAS DA TIA LOURDES

Na série de depoimentos sobre Lourdes Figueiredo, acrescento aqui os textos de Aparecida e Ivana Andrés, sobrinhas e grandes amigas, que dão testemunho de sua generosidade no convívio com as pessoas. São lições de vida que todos nós aprendemos.

“Passados 15 dias da morte da D. Lourdes, ainda não sei bem o que dizer. Que ela foi como que uma nova tia que ganhei, por força do parentesco com meu marido? Isso é fato. Mas é pouco. Que ela se tornou uma grande amiga nas décadas em que convivemos? Também é verdade, mas também é pouco. Que era tão chegada, que era sempre ela quem recebia o meu primeiro telefonema, ao chegar ao Rio de Janeiro? É isso aí, mas ainda não diz tudo. Que ela - e toda a sua família, Wilson, Pedro, Digo, Vanessa, Andrea e seus agregados diretos - foram um dos maiores presentes que a vida me deu em termos de amizade, afinidade e acolhimento? Que sorte a minha! Que eu nunca vi sair de sua boca uma má palavra, uma expressão agressiva, um grito ou queixa de raiva, reflete bem o jeito dela. Suavidade, doçura, simpatia, o recado sábio, o caso engraçado, um sorriso assim meio de lado, sem excessos, é disso que a gente se lembra ao pensar nela.
É certo que ela viveu vida longa, rica e interessante, chegando aos 92 com uma carinha e um corpinho de impávido colosso, basta conferir nas fotografias. É também realidade que a vida da gente tem limite, que ninguém vive eternamente e que chegar aos 90 é e sempre foi uma raridade. Mas como é que tamanho avanço nas ciências ainda não conseguem fazer o corpo durar com saúde, ou ao menos parear com o andamento da cabeça da gente?
Penso agora, uma vez mais, na D. Lourdes. Ainda não sei o que dizer do mundo sem ela, pois pela última conversa que tivemos, parecia que ainda dava pra esticar o tempo dela por aqui por mais uns 100 anos. Só que o corpo dela não deu conta, não acompanhou sua animação mental. Que pena para todos nós!
(Aparecida Andrés, em 22.03.2012)
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“Na Escola São Tomás de Aquino tia Lourdes foi nossa professora de artes, sempre amorosa e competente.
Quando eles se mudaram para o Rio, encontrava sempre a tia Lourdes atrás de um volante, subindo e descendo a rua Timóteo da Costa, levando alguma criança para a escola.
Em 1984, já com algumas exposições realizadas e querendo mostrar meus desenhos fora de BH, tive o convite de expor na Galeria do IBEU no Rio. Era uma coletiva com mais 2 artistas mineiros, Fernando Fiúza e Marcelo AB, que se chamou “Três de Minas”. Eu mostrava minha série de “Mendigos”.
Tio Wilson fez a minha apresentação de forma sucinta e sensível. Era apenas uma frase que ficou por muito tempo na minha memória.

Lembro que a tia Lourdes se posicionou diante do telefone, durante muitos dias chamando todos os parentes e amigos. No dia da abertura havia muita gente diante dos desenhos dos “Três de Minas”...
Depois ela e Marília Gianneti agendaram encontros com galeristas e marchands para que eu mostrasse meus trabalhos.

Este é apenas um exemplo de sua disponibilidade para ajudar com espontaneidade e alegria, sempre com um sorriso nos lábios.
Outra característica marcante foi seu imenso amor pelo tio Wilson, incondicional e apaixonado.” (Ivana Andrés)

*Fotos de arquivo, da internet e de Marília Andrés

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quarta-feira, 21 de março de 2012

LOURDES FIGUEIREDO, ENCONTRO DE GERAÇÕES

Lourdes Figueiredo, minha irmã, recentemente falecida foi uma pessoa que nesta vida conseguiu circular nas diversas faixas etárias com sabedoria. Transcrevo aqui os depoimentos dos seus netos.

(Evandro)

Quando nasci, também nasceu uma Avó: a Vovó Lourdes, ou, simplesmente, Vovó.  Assim mesmo, sem nome, só com o posto.  Que nem mãe.  Aliás, era ela que sempre dizia que avó era mãe duas vezes.  Sabia todas as estorinhas de criança.  Se não sabia, inventava, e ficava melhor ainda.  Também ensinou a rezar e agradecer por tudo e a todos. 

Vovó Lourdes ensinava por atitudes a generosidade e também a economia.  Paciente, montava a árvore da Natal, que ia do chão ao teto, até o último enfeite - e desmontava depois, um por um, para guardar para o ano seguinte. Perseverante, fez questão de ir a níveis avançados da língua alemã mesmo sem ter conhecidos alemães com quem falar. Curiosa, sempre anotava nos seus caderninhos tudo que ouvia e lia para depois consultar, se precisasse.

Resumindo, foi a Avó perfeita!


(Joanna): A laranja da minha avó

Dizem que por trás de todo grande homem existe uma grande mulher. Não sei não hein… Porque não dizer que a recíproca é verdadeira? Que por trás de toda grande mulher existe um grande homem? O fato é, na dinâmica de um casal não importa quem é maior ou melhor; nessa competição não há vencedores ou perdedores. E com meus queridos avós não poderia ter sido diferente.

Vovó Lourdes viveu NOVENTA anos. De forma INTENSA, LÚCIDA, CAPAZ. Foi uma heroína por mil e uma coisas, e aproveitou tudo o que a vida podia oferecer. Vamos sempre nos lembrar dela com um sorriso no rosto, um jeito calmo e sereno de ver o mundo....Ela deixou os QUATRO mosqueteiros-filhos (e ainda meu vô, o quinto elemento) com a intenção que seguissem seu exemplo de coragem!


(Chica)
Vovó Lourdes foi pra mim a vovó das histórias. Histórias que nunca mais foram esquecidas! O guardanapo poe-te, o pica-pau, o pó de pirlim pim pim, o buraco pra chegar no Japão, e tantas outras reais ou não, mas igualmente fantásticas.

Sempre apoiou todas as minhas decisões, por mais malucas que parecessem...
- Vovó, quero ser atriz
- Que ótimo minha filha, vai ser uma excelente artista

- Vovó, quero ser bailarina
- Que maravilha! Vai fazer muito sucesso!

- Vovó, quero ser professora
- Muito bom, Chiquinha! Isso é a sua cara!


(Fernanda): À querida vovó Lourdes.

Mesmo sempre estando tão longe, sempre me senti muito perto. Ela e eu sempre soubemos como não fazer da distância, um problema. Quando já fazia um tempo em que não nos falávamos por telefone, ela mandava um email “Você sumiu, como estão as coisas? Mande notícias”....
        
No Rio, a casa dela sempre foi a minha casa. E quando eu chegava de viagem, ela me dava um abraço gostoso e apertado, e dizia: “Que saudade da minha pequenininha!”, e sentávamos no sofá para bater-papo. Era a melhor recepção que eu poderia ter.

Assim, a vovó Lourdes foi e sempre vai ser a minha avó, aquela mesma avó que sempre me mandava “um abraço muito, muito apertado”, no final de um email ou telefonema. Mas agora, é a minha vez de dizer:

“Vovó,
Um abraço muito, muito apertado.
Saudades.
Te amo.
Um beijão da sua neta, Fernandinha.”


(Cecilia)
O dia em que nos despedimos dela foi o dia de aniversário de meu irmão. Lembrei que a Vó Lourdes sempre fazia questão de ligar nos nossos aniversários e muitas vezes até mandava emails, porque era uma vozinha online e tecnológica... "eu e o seu avô estamos mandando um beijo".



(Roberto)
No seu aniversário de 80 anos, festa de gala no salão do prédio, eu, no auge dos meus 15 anos, resolvo inovar e vou com o cabelo cheio de gel, em forma de espinhos. Sou repreendido por uns, caçoado por outros; a homenageada da noite não só adora, como me dá dicas de como montar o penteado usando papilote.

Quando precisei que ela fosse adulta e me aconselhasse, lá estava ela pronta para conversar com um sorriso no rosto, e quando eu voltava a ser criança e dizia que Natal sem a torta de doce de leite não era Natal, ela concordava e no dia seguinte a torta estava na geladeira.

Obrigado por tudo que fez e ainda faz por mim, vó, espero que descanse em paz.


(Ricardo)
Vovó Lourdes pra mim foi um exemplo pelo modo como viveu sua vida, com seu jeito sereno de encarar as coisas.  Sou extremamente grato por todos os momentos que passamos juntos,ouvindo suas famosas estórias em Petrópolis, na companhia dos meus primos e os papos sobre os mais variados assuntos que tínhamos quando eu ia visitá-la em sua casa. Acho que todos, assim como eu tem um carinho especial por essa vó maravilhosa !

*Fotos de André Maceira, Paulo Jabur e Marília Andrés

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