quinta-feira, 1 de março de 2012

VIENA

Dentro do avião, já se pode ver o traçado geométrico da cidade, e os campos cultivados em torno, abrindo retângulos. No aeroporto, um imenso painel fotográfico mostra em montagens o dinamismo da era espacial, homem, máquina, satélites, e o progresso do século rodeando todas as paredes. Junto ao aeroporto há um cemitério, e vê-se da entrada uma série de túmulos. O bairro dos mortos inclui casas residenciais com túmulos nos jardins, lojas de flores, drugstores. Um cartão de visitas bem triste para quem chega de avião.
Em Viena, vejo a origem de muita coisa que já vi na América: o estilo das casas, a ordem para atravessar ruas, o povo limpo, bem vestido. Os edifícios, praças, a arborização das ruas nos fazem lembrar os edifícios e as praças de Washington.

Fizemos um “tour” pela cidade. Nosso guia é um estudante culto e inteligente e fala quatro línguas. Vemos os edifícios principais, os palácios. Há muito carinho do povo para com a família real e a tradição de um passado remoto. No presente, a ocupação foi a sombra que entristeceu a Áustria.

Nos olhos do jovem cicerone, e em seu modo de falar, pudemos ver a revolta de sentir seu país ocupado por estrangeiros.
“Aqui”, nos diz ele emocionado, “foi o lugar onde assinaram o tratado de Belvedere em 1955. Da sacada deste palácio, a notícia da libertação da Áustria foi anunciada aos vienenses que em baixo esperavam”.
Olhamos o palácio, antes residência de verão da família real. Nosso grupo escuta atento e emociona-se também com a libertação do povo austríaco. O guia continua em seu percurso pela cidade. “Este monumento foi erguido pelos russos, comemorando a vitória. Infelizmente, somos obrigados a conservá-lo”.

Viena esteve ocupada, por 10 anos, pelas forças da Rússia, Estados Unidos, Inglaterra e França.
“Aqui, o Danúbio marcou o limite da zona entre os americanos e russos”.

O povo vienense, que se viu humilhado durante 10 anos pela ocupação dos aliados, deposita na libertação da Áustria a sua razão de ser. Talvez não haja para eles mais ilusões quanto às doutrinas de direita ou esquerda.
Se o Danúbio pudesse falar, contaria episódios dramáticos, banhados de sangue e violência. Mas, agora ele corre tranqüilo, um pouco mais azul, porque Viena é uma cidade que enxerga o futuro.
O povo anda bem vestido e bem calçado, a juventude é alegre. Ficamos hospedados perto da  universidade, e em nosso restaurante os jovens se reúnem para refeições. Podemos observá-los. Aqui não se veem protestos, mas um sentido afirmativo de viver. Os rapazes são corteses com as moças, ajudam as coleguinhas a vestir o paletó, alimentam-se bem, comida temperada e gostosa como a nossa, brasileira.
As camareiras do hotel falam o inglês e francês correntemente e, na portaria, até em espanhol nos comunicamos.
Este país impressiona pelo sentido positivo de encarar a liberdade, que foi conquistada com experiência de vida, e não apenas recebida como doutrina teórica. A experiência amadurece e condiciona todo um comportamento. Na Áustria, pode-se observar uma mocidade sadia, procurando construir o futuro da pátria.

*Fotos da internet
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