Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
PROBLEMAS DE VIAGENS I
Viajar pela Índia não é fácil. As coisas aqui só
acontecem a partir do inesperado, e, para as cabeças acostumadas a planejar
roteiros fixos, isso constitui o primeiro choque. Chegamos ao aeroporto com as
passagens marcadas, tudo ok.
- “Madam, este voo acabou, não tem mais.”
- “Mas reservamos ontem pela Indian Airlines.”
-“Sim, ontem foi janeiro, a partir de fevereiro
cortamos este voo.”
Este simples corte de voo significaria uma
permanência no aeroporto, o dia inteiro, para seguir à noite. Se não fosse
Dominique, nosso anjo protetor que nos acolheu em sua casa, estaríamos
perdidas. Viemos à noite sem hotel marcado, Madras superlotada por causa de uma
feira de artefatos de couro. Aqui existe uma feira atrás da outra. Da última
vez corremos uma feira de livros que no dia seguinte pegou fogo. Agora esta
feira superlota a cidade. Esvaziei minha mente para saber o que deveria fazer e
confiei no destino. Alguma coisa aconteceria, tinha certeza. No aeroporto dois
agentes de viagem disputavam passageiros. Um deles oferecia 70 dólares por uma
noite num hotel de 5 estrelas, perto do aeroporto. Já estava disposta a pagar,
quando um outro ofereceu uma chance mais modesta. Hotel de 2 estrelas, num
bairro pobre, limpo, ventilador em cima das nossas cabeças: “Mars Hotel”. Foi a
salvação, e aqui estamos, dispostas a alugar um taxi no dia seguinte e procurar
outro espaço, talvez o Krishnamurti Foundation, quem sabe?
Agora, enquanto escuto os mantras, vou recordando
outros desencontros de viagem. Aquela chegada em Delhi com uma jovem francesa,
vinda do
Nepal. A menina precisava de ir à embaixada francesa
e à companhia aérea russa, não falava inglês, dispus-me a ajudá-la. Eu também
teria de renovar meu visa. Chegamos a Delhi, 48 graus, calor insuportável, a
cabeça fervia, a água das torneiras saía fervendo, a eletricidade acabou e o hotel não tinha gerador próprio.
Reclamei na recepção.
- “Não consigo aguentar este calor, acho que vou
morrer.”
No verão, a capital indiana é um caldeirão de calor,
por isso é aconselhável viajar no inverno.
-“ Por favor, arranje-nos algum lugar menos quente
para dormir.”
No pátio central, os indianos colocavam suas camas
do lado de fora, mas o dono do hotel levou-nos até a “boite”, onde o ar
refrigerado ainda conservava baixa temperatura. Tivemos de dormir no chão,
frente a um imenso painel fosforescente representando um dragão chinês.
Chegamos tateando no escuro, velas acesas. O importante nestas viagens é não
esquentar a cabeça.
Nessa mesma viagem o avião não conseguiu decolar
devido ao calor. Ficamos parados em Agra, a aeromoça gentilmente distribuindo
balas e um lencinho úmido para limpar o rosto e o pescoço. Ao meu lado um
indiano reclamava: “Não estou acostumado a este calor, trabalho com ar
condicionado!” Aquela reclamação só servia para aumentar o calor. Resolvi dar
uma de conselheira: “Também eu não estou acostumada, moro nas montanhas, gosto
do frio. Mas por quê o senhor não muda este pensamento negativo? Na minha
terra, tem pessoas que pagam caro para entrar numa sauna, imagine-se numa sauna
por livre e espontânea vontade e as coisas mudarão. O simples fato de ser por
livre e espontânea vontade é decisivo para mudar situações.” O indiano parou de
reclamar, aceitou o inesperado e a sua vibração mudou.(Diário de viagem, 1993)
*Fotos de Maurício Andrés
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quinta-feira, 17 de setembro de 2015
RAMAN RESEARCH INSTITUTE - ENCONTRO COM A CIÊNCIA
No meio da confusão da Índia, o Raman Research
Institute é um espaço de paz. Há arvores abrigando bangalôs onde os jovens
cientistas se recolhem por algum tempo buscando um aprofundamento de seus
estudos. Há grandes pavilhões, entre eles o museu Raman relatando em fotos a
vida de seu fundador; há o museu de pedras preciosas e uma enorme biblioteca. O
professor Raman foi um famoso cientista indiano que, por meio de usa
inteligência, dedicação e incessante interesse em pesquisa, trouxe para a Índia
um prêmio Nobel em física. O Efeito Raman é conhecido no mundo inteiro. Podemos
estudar sua vida através de livros, pôsteres e informações fotográficas colocadas
nas paredes do museu. Visitei o museu e recebi informações do grande mestre que
foi o professor Raman. Há pesquisas maravilhosas no campo das vibrações.Ele era
muito interessado em música e também em cores. A partir de suas descobertas
nesses dois campos podemos refletir sobre a relação entre cores e sons.
Como artista, que sempre gostou de pintar ouvindo música,
fiquei fascinada com essas experiências relatadas por um grande físico.
O Professor Raman era também interessado em pedras.
Ali há salas reservadas a pedras semi preciosas, guardadas cuidadosamente
dentro de vitrines. O Professor Raman foi sucedido por seu filho Radhakrishnan,
também dedicado aos estudos científicos. O Professor Radhakrishnan continuou a
obra de seu pai, numa outra dimensão.
Raman pesquisou a terra, Radhakrishnan pesquisa as
estrelas. Há alguns anos, durante uma conjunção planetária, eu estava na Índia,
hospedada no Raman Institute e tive a oportunidade de observar num grande
telescópio o brilho de milhões de estrelas. O Dr.Radhakrishnan e sua esposa
Dominique são grandes amigos que tive a sorte de conhecer na Índia e que me
ofereceram hospitalidade e carinho nas minhas longas viagens. Ambos são
interessados em arte e dão estímulo a vários artistas não somente vindos da Índia
como de vários países do mundo.
O Instituto é um recanto aprazível, cercado de
jardins floridos e arvores frondosas, lugar ideal para reflexão. Interessei-me sobretudo
num livro de sua biblioteca: Poussières
d’étoiles de Hubert Reeves e transcrevo um texto que me permitiu viajar no
espaço: “Quando as estrelas morrem, espalham sua matéria no espaço. Esses
filamentos coloridos espalhados sobre milhares de quilômetros são as poeiras de
um astro que agoniza. Nesses pedaços de
matéria, os átomos se encontram e formam moléculas e grãos de poeira. Dessa
poeira nascerão mais tarde os planetas e de suas moléculas talvez as plantas e
os animais. É no céu estrelado que poderemos encontrar as origens da vida.”
O livro Poussiéres
d’étoiles nos faz refletir sobre unidade do universo a partir da morte das
estrelas e a sua transformação em novos planetas. É uma viagem fantástica às
origens da vida e um retorno à essência de onde viemos. No silêncio do
Instituto Raman refletimos sobre a nossa unidade com o infinito espaço cósmico
do universo.
*Fotos da internet
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quarta-feira, 16 de setembro de 2015
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
A CRIAÇÃO DO LIVRO “PEPEDRO NOS CAMINHOS DA ÍNDIA”
Índia, 1978
Às vezes me lembro de
coisas que se passaram na Índia, quando da minha primeira viagem em 1978.
Eu viajava com pouco
dinheiro, não podia pagar hotéis caros e também não queria ficar em hotéis
baratos que não têm o conforto necessário para a gente se sentir bem.
Foi quando minha amiga Dominique, casada com o Dr. Radhakrishnan, do
Raman Research Institute, me indicou uma comunidade de irmãs cristãs na rua
Infantry Road. Lembro-me das acomodações para hóspedes em pequenos chalés
distribuídos por um jardim todo florido e bem cuidado. As acomodações eram
simples e as irmãs me receberam com muito carinho. Pagava pouco, uma diária de
3 dólares por dia com direito a uma alimentação indiana bem apimentada. Podia
fazer as refeições ou comer fora, se quisesse. A única exigência era cantar uma
página da Bíblia na capela da comunidade e eu, que gosto de cantar, entoava o canto
com elas.
Quando as irmãs
souberam que eu precisava de um espaço adequado para ilustrar um livro infantil
sobre a Índia, abriram para mim todo o andar superior, reservado aos hóspedes
de congressos. Eu podia escolher qualquer quarto para ilustrar o livro do Pepedro,
ficava sozinha naquele imenso salão, levava o meu aparelho cassete e podia até
ouvir música e dançar.
O livro do Pepedro
começou ali, à sombra das árvores. As irmãs cediam as empregadas para servirem
de modelo para a artista brasileira que ali estava. Algumas páginas ilustram os diversos personagens
da comunidade.
Ali fiquei três meses
desenhando, escrevendo e também visitando museus e escolas da cidade de
Bangalore. Aprendi muito com essa simplicidade voluntária, que me trazia
tranquilidade e paz.
As irmãs me emprestavam
jornais para que eu copiasse os diversos dialetos e dali tirasse ideias para
uma mandala só de escrita indiana.
Decorridos três meses
eu tinha de sair da Índia, e escolhi o Nepal para me abrigar. Em Katmandu o
livro do Pepedro teve a sua fase final, inspirado nos Himalaias e na sabedoria
dos lamas tibetanos. Também em Katmandu, o hotel Shakti me oferecia momentos de
silêncio e meditação para produzir meu trabalho de arte. Abria as janelas e via
as crianças brincando na rua, o que me fazia lembrar o pequeno Pepedro, Joaquim
Pedro, meu neto, que ficara na Índia. O registro dessas experiências está nas
ilustrações do livro “Pepedro nos caminhos da Índia” de autoria de minha nora
Aparecida Andrés.
Todas as coisas têm sua
história e seu momento, e todas elas passam debaixo dos céus...
*Fotos de arquivo
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quinta-feira, 3 de setembro de 2015
ESCOLA DOS OLHOS PERFEITOS
Encontrei entre os meus guardados essa carta para os meus filhos quando estava na Índia. Resolvi divulgá-la, porque tem informações importantes.
O nome do lugar: “School of
the perfect eye”. Em português: “Escola
dos olhos perfeitos”.
Sim,
o olho é uma coisa que precisa ser perfeita. Há tanto o que se ver no mundo e,
com o olho imperfeito, a gente começa a ver tudo sem colorido, meio embaçado.
Assim estava eu. Entrei na tal escola em Pondicherry. Estou fazendo um curso de
relax nos olhos. Já ouvira falar a respeito. A gente fecha os olhos, balança o
corpo feito relógio, encarando o sol da manhã com as pálpebras cerradas. Depois
colocam algo meio amarelado dentro dos olhos, retirado do mel das abelhas.
Colocam a gente recebendo vapor e piscando sem parar. Depois,
relax com os olhos umedecidos por compressas durante 10 minutos.
O
mundo está mudando, ficando tecnicolor... Como as árvores de Pondicherry são
verdes e o mar colorido! Saí sorrindo de lá, achando tudo bonito. Também meus
olhos estavam tensos há tanto tempo! Não conseguia relaxá-los. Estou usando os
mesmos óculos do Dr. Hilton mas, depois da morte do Luiz e das tensões e dos
choques seguidos, passei a ver o mundo quase em preto e branco, por dentro e
por fora. Agora, com este tratamento, mudei de televisão. Faz gosto olhar o
mundo com olhos relaxados, é outra coisa. Há gente nesta escola que faz treino
para tirar definitivamente os óculos. Pedi muito para não modificar o grau dos
meus, para não ter problemas. Quero conservar meus óculos, mas ver tudo mais
bonito... Estou começando agora, talvez volte aqui para continuar o tratamento.
Vale a pena.
Lembro
de uma trova que a mamãe ensinava para a gente: “Quem sofrer dos olhos, comer
formiga aos molhos...”
Aqui
não é formiga não, é relax e mel de abelhas.
Abraços,
Helena”
*Fotos da internet
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terça-feira, 1 de setembro de 2015
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