terça-feira, 3 de novembro de 2015

MOUNT ABU II

Mr. Thakur toma conta da casa de campo do marajá de Jodhpur há 20 anos, neste espaço maravilhoso, lugar de repouso e meditação. A casa de hóspedes foi construída sobre uma montanha de pedra. O velhinho sentado em minha frente suspende os bigodes para tomar chá. Conhece yoga, faz meditação e quer nos levar ao templo para conhecermos dois swamis com grande conhecimento de sânscrito e escrituras antigas. As coisas mais preciosas quase sempre estão discretamente veladas ao público, à curiosidade turística das lentes fotográficas. Repousam em silêncio, e a energia vem deste silêncio.

Subimos a rua do hotel, onde as casas são construídas em cima das pedras, até um recanto rodeado de árvores e flores. Um swami vestido de alaranjado regava o jardim. As montanhas de pedra sempre têm uma energia própria, e esse templo, encravado na pedreira, de uma singeleza comovente, nos ofereceu um momento de paz e serenidade. O telhado do templo tem a forma de Shiva Lingam, união da energia masculina e feminina. Os hindus reverenciam esta polaridade que existe na natureza e no universo. Em várias partes da Índia, Shiva é representado em esculturas de bronze ou de pedra.
“Estes símbolos têm força e nos conduzem ao nosso próprio centro. O culto a Shiva é o mais antigo da Índia, anterior à invasão ariana. Ele nos faz reconhecer nossas origens, sem a especulação intelectual. A cultura antiga da Índia, em sua autenticidade e singeleza, se faz presente neste templo escondido entre árvores e pedras.
“A força de Shiva Lingam traz benefícios para quem passa na estrada”, nos diz o swami.
Um enorme sino de bronze anuncia os horários de puja: quando o sol nasce e quando o sol se põe. Nesse horário, os devotos chegam para cantar mantras.

A “bannyan tree” é uma árvore muito conhecida na Índia. Em Madras, na Sociedade Teosófica, ela cresceu tanto que atualmente é objeto de turismo. Ocupa o espaço de uma grande praça.
Hoje estou sentada em frente a uma bannyan tree aqui em Mont Abu, no hotel onde estou hospedada. O cansaço das várias viagens tirou minha energia, e a comida apimentada atacou meu fígado. Procurei um lugar onde a natureza pudesse me refazer. O velhinho veio atrás de mim com uma cadeira. A bannyan tree se desdobra em várias árvores, vindas do tronco principal – as raízes se enroscam nas pedras, continuam por debaixo delas, surgindo novamente da terra, num abraço compassivo da natureza. Aqui, cercada de árvores vindas da mesma árvore central, eu me sinto dentro de um templo. Os galhos se multiplicam, vindos da mesma terra, e abrigam as pessoas que chegam. A fonte é a mesma e a natureza nos ensina a cada instante que viemos do mesmo tronco... cada um de nós encontra o seu templo em qualquer lugar do mundo.

Vimala Thakar nos recebeu em sua casa em Mount Abu. Viemos até aqui atraídas por sua vibração. Há muitos anos desejava encontrá-la. Não é fácil encontrar uma pessoa cuja presença seja realmente transformadora. Os seres espiritualmente adiantados nos recebem, estão prontos a nos ajudar, mas nada fazem para nos prender. Vimala já percorreu vários países do mundo fazendo palestras sobre a necessidade de uma transformação completa do ser humano. O toque incisivo, penetrante, de Krishnamurti se faz notar em seus escritos. Vimala foi profundamente marcada pelos ensinamentos  desse grande pensador indiano. Ela não fala para multidões. Recebe em sua casa pequenos grupos interessados no crescimento interior. Pessoas chegam de diversas partes do mundo para este recanto isolado de Mount Abu, longe do burburinho da cidade. Vimala iniciou seu trabalho como seguidora de Gandhi. (diário de viagem, 1993)

Fotos da internet

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