Transcrevo aqui trecho de um diário de viagem aos EUA
em 1961.
Hoje fiquei muito feliz. Vendi um desenho em Seattle.
Recebi aviso de Mrs. Duzanne. Estava eufórica com a rapidez com que o quadro
foi vendido. No mesmo domingo que saí de lá ele foi vendido. Escreveu-me
contando. Estava escutando o rádio, quando entraram dois casais na galeria.
Vieram ver outra exposição. Sentaram-se e começaram a folhear os catálogos em
cima da mesa. Interessaram-se especialmente por um vindo do Brasil. Um dos
casais havia recentemente feito uma viagem ao Brasil. Mrs. Duzanne foi buscar
meus desenhos. Interessaram-se por um denominado “Boats” – “But, it is just
like Brasil. ”. disseram. Compraram o desenho. Mrs. Duzanne ficou admirada com
a rapidez. Escreveu-me, mandou-me o cheque de 65 dólares. Ficou com 35 para
ela, o desenho foi vendido por 100 dólares, sem moldura, nem nada. Imagine, um
desenho, 20 mil cruzeiros..., mas a alegria maior tive com aquela pequena
frase: “It is just like Brasil! ”. Representa a pátria ser parecido com ela;
não pode haver maior alegria para uma brasileira…
Vou comprar selo na portaria do hotel e lá eu encontro
com Mr. John Pogzeba. Mr. Pogzeba é conservador do museu. Nasceu na Polônia,
mas reside há muitos anos nos EUA. Está me cumprimentando sorridente – “Vi seus
desenhos, gostei muito. Você quer me vender um?
Não é para mim, é para o museu. Estive pensando em comprar quadros de
três artistas brasileiros. Você será um deles…”. Santa Fé, New México, é a
cidade mais artística dos EUA. Cada pedra da rua respira arte. E para mim seria
muito agradável figurar num museu de Santa Fé. Estou interessada na venda. “-
Os desenhos estão com Mrs. Martin, quando eles chegarem o senhor poderá escolher
o que mais lhe agrada. ”
Mr.
Maussy vem trazer meus desenhos. Estou com a pasta na mão, escutando o que ele
me diz. Mr. Maussy é o meu responsável aqui e um dos diretores do museu. Está
me convidando para expor lá. “- Será muito interessante para nós ter uma
exposição de artista brasileira. Seus desenhos precisam ser vistos aqui…”.
Estou meio pasma com tantas solicitações. Primeiro, o conservador querendo me
comprar um para o museu. Agora, o diretor me oferecendo a sala para expor. “ –
Nós lhe remeteremos direto para o Brasil, se não puder vir na ocasião… faremos
tudo, a senhora não terá despesa alguma…”
Corcoran
Gallery
A Corcoran Gallery tem duas correntes de arte. Uma
acadêmica e outra moderna. Mr. Forsytle é o professor moderno. Tem um processo
de ensino todo pessoal, e está me mostrando alguns slides de sua coleção.
Mostra-me trabalhos de alunos e eu vou separando alguns para levar para o
Brasil. Ensina na Corcoran, no meio de acadêmicos, deve lutar contra a
corrente, aí. Por isso mesmo, procura aperfeiçoar seus processos de ensino.
Conto-lhe sobre Sister Madalena, e seu ensino ultramoderno de arte. “- A
senhora é de sorte! Correr tantos museus e escolas, ver tantas coisas! Sou
americano e ainda não tive esta oportunidade”. Mr. Forsytle dá-me endereços em
N. York. Conhece gente lá, já expôs também em Green Village. Agora é professor
da escola mais tradicional de Washington. Lá, ensinaram os acadêmicos, em
tempos passados, e ainda ensinam, até hoje. Corri a escola, vi os trabalhos. Há
professores que ensinam aquele processo antigo de Chambelland e Oswaldo
Teixeira! No meio deles, impondo, com a força renovadora de uma arte nova, está
o jovem professor Charles Forsytle. Usa colagem, fotos, diversos meios de
procurar inspiração. Das fotografias o aluno tira apenas os planos,
transformando-os em elementos abstratos. Bom exercício de composição e
combinação de cores. Há também aquele processo de se jogar tintas sobre o
papel, deixando as cores escorrerem. O aluno repete o exercício umas 50 vezes.
No final, o resultado deve ser bom. Não há o perigo de se viciar, de se ficar
preso a um ensino tradicional. Não sei se Mr. Forsytle dá aulas para
principiantes. Seu método deve ser bom para aqueles que já têm algum treino de
desenho. Com uma disciplina de branco e preto e uma segurança preliminar, o
aluno naturalmente compreenderá melhor esta liberdade de improvisar, e deixar
que o acaso colabore na sua criação artística.
*Fotos da internet
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