segunda-feira, 7 de março de 2016

VIAGEM AOS EUA III

Transcrevo aqui trecho de um diário de viagem aos EUA em 1961.
Hoje fiquei muito feliz. Vendi um desenho em Seattle. Recebi aviso de Mrs. Duzanne. Estava eufórica com a rapidez com que o quadro foi vendido. No mesmo domingo que saí de lá ele foi vendido. Escreveu-me contando. Estava escutando o rádio, quando entraram dois casais na galeria. Vieram ver outra exposição. Sentaram-se e começaram a folhear os catálogos em cima da mesa. Interessaram-se especialmente por um vindo do Brasil. Um dos casais havia recentemente feito uma viagem ao Brasil. Mrs. Duzanne foi buscar meus desenhos. Interessaram-se por um denominado “Boats” – “But, it is just like Brasil. ”. disseram. Compraram o desenho. Mrs. Duzanne ficou admirada com a rapidez. Escreveu-me, mandou-me o cheque de 65 dólares. Ficou com 35 para ela, o desenho foi vendido por 100 dólares, sem moldura, nem nada. Imagine, um desenho, 20 mil cruzeiros..., mas a alegria maior tive com aquela pequena frase: “It is just like Brasil! ”. Representa a pátria ser parecido com ela; não pode haver maior alegria para uma brasileira…
Vou comprar selo na portaria do hotel e lá eu encontro com Mr. John Pogzeba. Mr. Pogzeba é conservador do museu. Nasceu na Polônia, mas reside há muitos anos nos EUA. Está me cumprimentando sorridente – “Vi seus desenhos, gostei muito. Você quer me vender um?  Não é para mim, é para o museu. Estive pensando em comprar quadros de três artistas brasileiros. Você será um deles…”. Santa Fé, New México, é a cidade mais artística dos EUA. Cada pedra da rua respira arte. E para mim seria muito agradável figurar num museu de Santa Fé. Estou interessada na venda. “- Os desenhos estão com Mrs. Martin, quando eles chegarem o senhor poderá escolher o que mais lhe agrada. ”
         Mr. Maussy vem trazer meus desenhos. Estou com a pasta na mão, escutando o que ele me diz. Mr. Maussy é o meu responsável aqui e um dos diretores do museu. Está me convidando para expor lá. “- Será muito interessante para nós ter uma exposição de artista brasileira. Seus desenhos precisam ser vistos aqui…”. Estou meio pasma com tantas solicitações. Primeiro, o conservador querendo me comprar um para o museu. Agora, o diretor me oferecendo a sala para expor. “ – Nós lhe remeteremos direto para o Brasil, se não puder vir na ocasião… faremos tudo, a senhora não terá despesa alguma…”
Corcoran Gallery
A Corcoran Gallery tem duas correntes de arte. Uma acadêmica e outra moderna. Mr. Forsytle é o professor moderno. Tem um processo de ensino todo pessoal, e está me mostrando alguns slides de sua coleção. Mostra-me trabalhos de alunos e eu vou separando alguns para levar para o Brasil. Ensina na Corcoran, no meio de acadêmicos, deve lutar contra a corrente, aí. Por isso mesmo, procura aperfeiçoar seus processos de ensino. Conto-lhe sobre Sister Madalena, e seu ensino ultramoderno de arte. “- A senhora é de sorte! Correr tantos museus e escolas, ver tantas coisas! Sou americano e ainda não tive esta oportunidade”. Mr. Forsytle dá-me endereços em N. York. Conhece gente lá, já expôs também em Green Village. Agora é professor da escola mais tradicional de Washington. Lá, ensinaram os acadêmicos, em tempos passados, e ainda ensinam, até hoje. Corri a escola, vi os trabalhos. Há professores que ensinam aquele processo antigo de Chambelland e Oswaldo Teixeira! No meio deles, impondo, com a força renovadora de uma arte nova, está o jovem professor Charles Forsytle. Usa colagem, fotos, diversos meios de procurar inspiração. Das fotografias o aluno tira apenas os planos, transformando-os em elementos abstratos. Bom exercício de composição e combinação de cores. Há também aquele processo de se jogar tintas sobre o papel, deixando as cores escorrerem. O aluno repete o exercício umas 50 vezes. No final, o resultado deve ser bom. Não há o perigo de se viciar, de se ficar preso a um ensino tradicional. Não sei se Mr. Forsytle dá aulas para principiantes. Seu método deve ser bom para aqueles que já têm algum treino de desenho. Com uma disciplina de branco e preto e uma segurança preliminar, o aluno naturalmente compreenderá melhor esta liberdade de improvisar, e deixar que o acaso colabore na sua criação artística.
*Fotos da internet
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