Relato de uma experiência nos EUA em
1961.
Isto de guerra me apavora. Hoje, abri por
acaso a gaveta da mesinha, havia um anúncio em letras enormes “Quando as
sirenes da Defesa Civil tocarem, aqui está o que fazer”.
1º
alerta – contínuo, ininterrupto som de sirene por 4 minutos, significa ataque
inimigo provável. Evacuar a cidade, sair imediatamente de onde estiver. Seguir
o tráfego. Ir de automóvel.
2º
ataque sem aviso – nenhum som de sirene. Um brilhante, luminoso foco, o mais
brilhante que você já viu. Você terá apenas poucos minutos antes que o choque
chegue. Deite-se debaixo da mais pesada peça de mobília, ou se não houver,
deite-se no chão, a face voltada para a parede, longe da janela e dos vidros.
Continua uma série de medidas preventivas, inclusive
depois de passado o ataque atômico. Se sair à rua, lavar logo o corpo, trocar
de roupas e se livrar de tudo que possa estar exposto à radioatividade. Escutar
o rádio para instruções, não ligar o telefone...
Este anúncio pôs-me pensativa e impressionada. Quanta
coisa pode acontecer e eu aqui, sozinha! Lembrei-me de que San Francisco sofre
terremotos, meu corpo se arrepiou. E, se aparecer um agora comigo, eu que
desenhei tantos terremotos e explosões! Por falar em explosão, outra coisa veio
perturbar meu sossego. A explosão do Boeing 707 na Bélgica foi algo de
tremendo. Estava em N. York quando as patinadoras se exibiram no ringue,
fazendo louco sucesso. Vi-as na televisão e agora, coitadas, estão mortas...
Sempre me senti tão segura no jato!
Agora passarei a ter medo deles também. A situação tem sido de medo e tensão
esta semana.
Este é o primeiro treino de guerra a que assisto.
Estou no quarto fazendo as malas. Colocar as coisas em ordem para a viagem
final é mais difícil do que se pensa. Falta espaço, excede o peso. Estes
pequenos problemas absorvem-me por completo. Nem escuto o rádio ligado. Há
muito tempo que estão falando, falando. De repente, uma frase mais clara soa
aos meus ouvidos. “Quando as sirenes tocarem, procurem os abrigos”. Ordem do
presidente Kennedy em Washington. A Baía de Porcos tinha sido cercada por ele e
o presidente russo avisou que poderi fazer uma retaliação tendo Nova York como
alvo. Fico parada escutando. Um arrepio corre-me pelo corpo, lembro-me daquele
anúncio de S. Francisco. Antes que eu possa pegar o telefone e indagar na
portaria, as sirenes já estão tocando, tocam insistentes, sonoras, como um
longo gemido. Da janela, posso ver as ruas em baixo. A cidade movimentada de N.
York está em completo suspense. Ninguém se mexe. O povo se comprime à entrada
dos subways, em baixo dos toldos. Há alguém querendo tomar um táxi e os guardas
impedem. A imobilização tem de ser geral, ordem vinda de Washington. O rádio
parou também, apenas a angústia da espera, e esta sirene, tocando, tocando…
Não
agüento ficar sozinha no meu quarto. Subo correndo as escadas para o 7o
andar, onde mora o casal de brasileiros. Lá estão eles à janela, espiando. Não
estão assustados, sabem que é apenas um treino de guerra. Depois de meia hora,
a cidade se movimenta novamente. A vida volta ao ritmo normal e eu desço para
acabar minhas arrumações. Graças a Deus, já estou me preparando para voltar! …
*Fotos de arquivo
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