Trecho do meu diário de viagem aos EUA em 1961:
Greenwich village – NY
Greenwich Village é o bairro existencialista de N.
York. Copiam o Montmartre de Paris. Lá se vêem homens barbados e mulheres de
longos cabelos, literatos e artistas se misturam à boemia da cidade. À tarde,
depois do lanche, a praça está cheia. Estudantes levam sanduíches para comer na
grama, fazem da imensa Washington Square um enorme pátio de recreio. Sentam-se
ao longo dos bancos circulares, discutem problemas, estudam. Vi um estudante atentamente lendo alguma coisa ao meu lado, e
tomando notas. “Introdução à Filosofia”. É lá que fica a Universidade de N.
York. Lá também os artistas costumam alugar ateliers para trabalhar durante o
dia. Reúnem-se à noite no Cedar Bar, junto à Universidade, para trocar ideias e
beber. Há artistas que vêm de longe para participar do ambiente de inspiração
que o Village lhes dá. Percorro a Washington Square, pensando como podem as
opiniões serem tão diferentes. Prefiro uma quadra mais autêntica da imensa
Washington Square. Há uma cerca para separar as crianças dos grandes. Os
grandes lá estão, mostrando a “pinta” de gente diferente. As crianças não os vêem,
brincam inocentes no cercado de areia. Sujam as carinhas, constroem castelos.
Cabelos ruivos, narizinhos sardentos, como são lindas as crianças americanas!
Aquele pequenino acabou de comer areia, a mãe vem socorrê-lo correndo. A mãe é
pintora e minha colega na Art Students League. Será que estas crianças, quando
crescerem, vão ser também existencialistas?
Bato uns slides da turma de guris, da miniatura do Arco do Triunfo, do
povo sentado lendo.
James Brooks
Marcaram-me um appointment com Mr. James Brooks. Mr.
Brooks é o autor da célebre frase que citei no meu trabalho sobre arte.
“A superfície da tela é o ponto de encontro daquilo
que o pintor conhece, com o desconhecido que ali aparece pela primeira vez.”
É um dos melhores artistas americanos, e tem atelier
neste bairro modesto e pobre de N. York. Tomo um táxi para não ter de
atravessar a pé as ruas. Há bêbados e homens discutindo, e eu prefiro parar
exato onde preciso descer. Mr. Brooks espera-me às 3 horas. Foi avisado da
minha visita. Às 3 horas em ponto, estou tocando a campainha de baixo. O Studio
fica no 3o andar. “- Are you Mrs. Andrés?”. Mr. Brooks está à minha
frente, leva-me por aquelas escadas enormes até seu atelier. Nunca vi um Studio
tão grande! Há quadros empilhados nas paredes, painéis enormes, e os últimos
desenhos sobre a mesa. Mr. Brooks mostra-me tudo, pergunta sobre o Brasil, interessa-se
por minha exposição. Gosto de conhecer artistas, de ver de perto como
trabalham. É melhor e mais interessante do que ver os quadros dependurados no
museu. Oferece-me café feito por ele, na hora, conta um pouco do movimento
artístico de N. York. “- Sou do Texas, mas há muito moro aqui. New York é o
centro para onde convergem artistas vindos às vezes de todas as partes do
mundo”. Os artistas do leste e oeste americano têm um estilo completamente
diferente. Notei isto nas minhas viagens. Aqui em N. York predomina a escola de
Pollock, Hoffman, De Koonnig, Stamos e Brooks. São violentos, expressivos,
completamente informais. James Brooks pertence à categoria dos informais, suas
fases são firmes e conscientes e há uma certa unidade entre elas. Todo o itinerário
de sua pintura está aí nos quadros que me mostra. Este itinerário será
publicado em livro brevemente. Mr. Brooks é polido com as senhoras, como todo
americano. Desce comigo as escadas, leva-me até o ponto mais próximo de ônibus.
“Vou levá-la até a Broadway, não convém que ande sozinha por aqui”.
*Fotos da internet
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