Transcrevo abaixo trecho do meu diário de viagem aos
EUA em 1961:
Hoje
os brasileiros devem estar no auge do carnaval. Aqui nem se fala nisso, mas é
feriado nas escolas por ser aniversário de Lincoln.
Marcaram-me um encontro com Mrs. Swanson, para correr a cidade. Mrs. Swanson pertence à categoria das senhoras voluntárias que se oferecem para acompanhar convidados em "tours".Levou-me no seu carro. Acompanhou-nos um casal vindo da Argentina. Ao me ser apresentado
ele fez questão de mostrar um cartãozinho com o seu nome e as credenciais
"Deputado de la Nación”. Gente muito
importante, pensei. Percorremos a cidade. Fomos a todos
os recantos pitorescos, percorremos colinas, estacionamos em lugares altos para ver a vista. A paisagem é deslumbrante, lembra
muito o Rio
de Janeiro, tive saudades do Brasil quando vi os navios
chegando. Saudades da minha terra e das belezas que também
possuímos... Os navios não vêm da Europa, mas da Ásia. São
navios japoneses, filipinos, chineses, indianos. Vêm de longe, trazendo coisas diferentes que serão
misturadas à cultura ocidental para dessa mistura fazer uma só civilização. Mrs. Swanson
foi muito gentil. Mostrou-nos recantos maravilhosos, levou-nos a parques e
jardins e fez-nos descer no jardim japonês para poder apreciá-lo de perto. Tudo
ali é inspirado no Japão. As flores, os pequenos lagos, os quiosques e templos.
No meio da vegetação, imagens de Buda e outros
deuses, tudo disposto com carinho e arte. Havia muita gente visitando o parque,
por ser feriado.
São 9 horas da manhã e estou voltando
da igreja de St. Mary, situada em China Town. Estou em jejum e procuro um lugar
para tomar meu breakfast. Enquanto isso, vou olhando as vitrines. Paro em quase
todas. O oriente me fascina. Como tudo é estranho, misterioso, os menores
objetos têm um cunho de beleza e arte! Vou andando cada vez mais para dentro de
China Town. As lojas estão fechadas por ser domingo. Mas posso ver as coisas
através dos vidros. Penso nas meninas. Gostaria de tê-las agora comigo, para
juntas corrermos as vitrines. Tem tanta coisa para se ver! Meu sapato faz um
barulhinho esquisito na calçada, comprei-o há dias em San Francisco, parece que
tem o salto de metal. Quando entrei na igreja, precisei andar nas pontas dos pés
para não fazer barulho. Mas, aqui na rua chinesa, divirto-me em escutar o
barulhinho que eles fazem na pedra: toc, toc, toc.
Relendo
este texto, tomei consciência de que meu fascínio pelo Oriente foi estimulado
por essa viagem à Califórnia. Em São Francisco existia uma enseada chamada
Saucelito, onde morava Alan Watts, autor de vários livros espiritualistas e
muito conhecido no Brasil. Lembro-me de um dos seus livros “A sabedoria da
insegurança”, onde ele propõe uma simplicidade voluntária. Alan Watts morava
num barco em Saucelito e tornou-se “o guru dos hippies”. Vários mestres da
Índia criaram comunidades na Califórnia, entre eles Yogananda e Krishnamurti.
*Fotos da internet
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG "MINHA VIDA DE ARTISTA", CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário