terça-feira, 5 de abril de 2016

VIAGEM AOS EUA VII – Minha experiência com a “Action Painting”

Acabei de pôr em liquidação as telas inacabadas. Meus colegas americanos disputaram a herança de minhas coisas. Dei duas telas esboçadas para um, a lata de terebentina para outro; o terceiro ficou olhando e me pediu a chave do armário. Com a entrega da chave na portaria, tem direito a receber dois dólares de reembolso. Foi uma despedida feliz.
                   Turma desinibida, esta! Pintam loucamente, sem complexo, telas enormes. Não existe a preocupação da tinta, nem do preço do material. As cores são atiradas na tela a jato, sem o cuidado de um croqui preliminar. Mr. Stamos faz questão do quadro ser pintado, não desenhado. A forma é o próprio quadro depois de pronto. As cores têm de vibrar, as pinceladas devem ser livres, espontâneas. Gostei da maneira. Precisava há muito deste contato com gente corajosa, para largar o medo de enfrentar a tela de um jato. Nunca imaginara poder me embrenhar em semelhante aventura. A aventura de falar diretamente, sem intérprete, para a tela branca. Consegui com facilidade me fazer expressar. Não sei se meus quadros estão bons, são grandes tentativas de libertação. Os colegas interessam-se por meus problemas. Perguntam onde aprendi a pintar, um deles, o mais caladinho e tímido de todos, veio indagar, num intervalo, se não teria, por acaso, estudado em Paris. Morou em Paris muitos anos, estudou com André Lhote. Há o americano que já esteve na 2a Grande Guerra, e lá conheceu um brasileiro; há o argentino baixinho que briga e brinca como uma criança com aquela loirinha da turma. A loirinha é bonita e jovem, casada com um engenheiro, o marido veio buscá-la outro dia, na escola. O argentino tem um Studio em Greenwich Village e pinta o dia inteiro. Não trabalha fora, mas a esposa trabalha. Agora, anda às voltas com a loirinha. Tive vontade de avisar a pequena, mas não tenho nada com isto, o melhor é ficar calada. O monitor da turma pinta quadros deprimentes em fundo negro. Já dançou no carnaval do Plaza Hotel, em N. York, ficou encantado com a animação do brasileiro. Coisa de louco! Para demonstrar, puxou cordão com o argentino dentro da sala. O argentino é fã da música brasileira. Assobia samba o tempo todo. Aquele ruivo de cabelos compridos chama-me de little lady. Espantam-se da minha produção em massa. Resolvi dar as duas telas para aquele que já esteve na guerra. É dedicado à pintura e parece não ter muito dinheiro. Pinta quadros pequeninos, poupa as tintas. Ficou encantado com a herança.
Aqui em N. York predomina a escola de Pollock, Hoffman, De Koonnig, Stamos e Brooks. São violentos, expressivos, completamente informais.
James Brooks pertence à categoria dos informais, suas fases são firmes e conscientes e há uma certa unidade entre elas. Todo o itinerário de sua pintura está aí nos quadros que me mostra. Este itinerário será publicado em livro brevemente. Mr. Brooks é polido com as senhoras, como todo americano. Desce comigo as escadas, leva-me até o ponto mais próximo de ônibus. “Vou levá-la até a Broadway, não convém que ande sozinha por aqui”. (Trecho do diário de viagem aos EUA, 1961).
          *Fotos da internet
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