segunda-feira, 12 de setembro de 2016

ARTE, REFLEXO DA VIDA

Quando, em 1961, eu me encontrava nos EUA em viagem de estudos, passei por uma experiência que só mais tarde viria refletir na minha arte. O país estava sendo mobilizado para um treinamento de guerra. Havia instruções nos hotéis, na TV, sobre como proceder em caso de ataque atômico.

A partir de 1964 o Brasil encontrava-se sob a ditadura militar, muitos jovens eram presos, torturados e mortos, muitos ativistas se auto exilaram e muitas obras de arte foram censuradas.

A minha fase de guerra nasceu do impacto provocado por essas experiências. As estruturas que sustentavam a composição dos quadros tornaram-se mais fortes e agressivas, as transparências menos líricas.

Nessa fase predominou o desenho em preto e branco, às vezes com ligeiro colorido.
Substituí o carvão pela aguada e aumentei o tamanho dos desenhos. Os traços foram estruturados com pedaços de isopor que eu molhava no guache ou na tinta plástica, substituindo o pincel. Comecei a sentir que o pincel cria uma distância entre a mão e o desenho. Necessitava de uma certa velocidade emocional que muitas vezes se perdia nessa distância. As aguadas foram feitas com uma esponja retangular, usando maior ou menor quantidade de tinta para modular as sombras. Entre os mastros e escombros, procurei sugerir a figura humana.

A fase de guerra foi exposta no Brasil na década de 60 na Bienal de São Paulo, bem como em Washington DC, Paris e Roma.

A fase espacial trouxe novamente o lirismo à minha arte. Entre a guerra e a paz tive uma fase de madonas barrocas que me levaram a uma direção menos trágica e me devolveram a cor.

Desde 1966 comecei a pesquisar o tema fascinante da conquista do espaço, imaginando as futuras viagens em naves tripuladas. Meu sonho de viagens fantásticas transportou-se dos barcos para as naves interplanetárias.

Substitui a pintura a óleo pelo acrílico, material mais adequado aos artistas que trabalham com transparências e nuances.

Preparo as telas com liquitex gesso sobre linho e continuo substituindo os pincéis por outros materiais mais diretos tais como estopa, esponja, pedaços de isopor, etc.

*Fotos de arquivo


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