Descobri em meus arquivos de 1969, algumas anotações
sobre o processo que me conduziu dos barcos às naves espaciais.
A fase de barcos teve início em 1959, antes da minha
viagem de 4 meses para os EUA. Os barcos, que têm sido uma constante em minha
arte, tiveram seu início no desenho. Os primeiros barcos, ainda da fase
abstrata geométrica, já estavam sugeridos nos desenhos a bico de pena
realizados em 1959. Mais tarde, parti para uma experiência em papel veludo,
usando o crayon conté. Comecei a pesquisar transparências, valores de claro e
escuro, nuances equilibradas dentro de uma estrutura que se firmava nos
mastros. Para conseguir transparências mais sensíveis, graduava a intensidade
das sombras, colocando o papel sobre uma tela que me permitia maior
flexibilidade. Os barcos, considerados por crítico americano como “a imaginação
em movimento”, marcaram de certo modo esta procura constante do movimento e
tensão espacial. Apesar das transparências e passagens atmosféricas, não podiam
fugir a uma estrutura. Talvez por isso mesmo escolhi os veleiros, pela
estruturação que os mastros me proporcionavam.
Depois veio a série de Guerra. Quando eu estava nos
EUA em 1961, em viagem de estudos, o país estava sendo mobilizado para uma
invasão. Haviam instruções nos hotéis, nas TVs e rádios, de como proceder em
caso de ataque atômico. A fase de Guerra nasceu desse impacto. As estruturas
são mais fortes e agressivas, as transparências menos líricas. A sugestão de
mastros ainda continua e a figura humana começa a aparecer cheia de tragédia.
Em 1968 as conquistas espaciais começaram a me
fascinar e minha pintura , sendo uma evolução da fase de guerra, modificou-se,
antecipando os últimos acontecimentos que movimentaram o mundo: os primeiros
passos do homem na lua e a sua volta à terra. Deixei o tema de guerra, um
protesto contra a destruição e a violência, para me empenhar imaginariamente na
direção da lua e das estrelas, compondo as plataformas espaciais, os foguetes e
as naves tripuladas. Eram naves interplanetárias conduzindo homens, mulheres,
máquinas, fábricas, cidades, para mundos inexplorados. Existia a necessidade de
um colorido mais alegre do que a fase de guerra e do brilho às vezes metálico,
às vezes transparente dos engenhos voadores. As figuras humanas, pequeninas,
marcavam a monumentalidade das máquinas. Eram sugeridas, ora dentro das
janelas, ora através de filmagens. Refletores, faróis, investigavam o espaço,
procurando novos rumos para o pouso final. As cores eram vivas, transparentes,
e o dinamismo era uma constante. No último quadro, pintado 1 mês antes da
chegada do homem à lua, a figura de um astronauta saia da cápsula. Mais tarde,
admirada, confirmei pela TV alguns aspectos do que já imaginara desde 1966. O
artista muitas vezes antecipa os fatos, prevê situações. Identificando-se com o
fantástico, cria símbolos que só mais tarde, com o correr do tempo se realizam.
Os quadros da
fase espacial, foram uma consequência de intuições, identificações e
pressentimentos, mas também toda uma pesquisa iniciada 10 anos antes, quando
ainda em papel veludo, desenhava meus barcos.
No meu
processo de trabalho, sempre escolhi temas sensíveis, comuns a toda uma
coletividade, e neles procurei inspiração para meus quadros.
*Fotos de arquivo
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