Alguns críticos ocidentais, especialmente os
franceses, falam da caligrafia de um quadro quando se referem ao modo de um
pintor conduzir um pincel, ao traço característico do artista. Dizem que um
quadro é legível quando comunica através da clareza do traço, da emoção e da
sensibilidade linear. As origens desse conceito vêm da China e influenciaram o
Ocidente através do Japão, país que serviu de ponte entre o Oriente e o
Ocidente.
Observando de perto a pintura do Extremo-Oriente
podemos ver com clareza a predominância da escrita como forma de expressão. Os
artistas da China Antiga e do Japão escreviam textos poéticos em suas telas de
seda e usavam o mesmo pincel para escrever letreiros ou cartazes. As cenas
desenrolavam-se linearmente através dos grandes painéis, como se a natureza,
perdendo os limites de espaço captados por nossa percepção, pudesse se
desdobrar em tela panorâmica, revelando o conjunto de várias paisagens. Árvores
e folhagens obedeciam a um ritmo caligráfico de intensidades variadas. As manchas
sugeriam espaços indefinidos, esfumaçados, cheios de nuvens.
Os poemas
acompanhavam o traçado das árvores e dos rochedos, com a mesma sensibilidade do
desenho. A letra integra-se à paisagem , faz parte dela, não se destaca do
conjunto como elemento dissonante. A caligrafia oriental é por si mesma
artística e sugeriu ao ocidente a pintura de ação, o grafismo e o abstrato
lírico.
Na França, o pintor Mathieu, reduzindo seu traço à
vibração do inconsciente, identificou-se com a pintura japonesa. Os anúncios das
lojas de Kyoto parecem telas de Mathieu distribuídas pelas ruas, como se esse
ambiente se embandeirasse de abstratos modernos.
Nos Estados Unidos, os artistas da action painting
(pintura de ação), Pollock, Tobey, Kline, Brooks, Stamus, ao procurar o automatismo
psíquico, encontraram a fonte que inspirou a escrita oriental. A pintura de
ação ou a arte abstrata informal, independente de temas históricos e de
situações vividas em regiões particulares do mundo, mostra o artista em sua
origem humana, genericamente semelhante ao seu irmão oriental.
Despojados de
condicionamentos intelectuais e deixando-se guiar pela intuição, os artistas da
action painting identificaram-se com o universo, fazendo o espaço cósmico
predominar sobre a paisagem tradicional. Encontraram a filosofia oriental nessa
atitude visionária, que atravessa as
fronteiras do intelecto para alcançar a intuição pura. A pintura informal
estendeu-se pelo mundo até a década de 60, abriu caminho para uma nova
concepção de liberdade na arte e levou o artista ao encontro com sua própria
interioridade.
A arte consegue escapar ao mundo para identificar-se
com a Realidade Espiritual mais profunda. Observando as telas do Museu de
Kyoto, encontramos atitudes semelhantes entre os homens que vivem do outro lado
do mundo. A Realidade Interior do artista encurta distâncias e une os povos. O
misticismo oriental, sua preocupação em fazer vibrar a energia cósmica através
da pincelada e seu amor pela natureza encontram receptividade na alma dos
artistas do Ocidente. (Trecho do livro de minha autoria “Encontro com mestres
no oriente”)
*Fotos da internet
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